Dia das Mães

Um olhar diz mais que palavras

Marlan Kaliny Almeida de Mayra Karinne, deficiente auditiva, descobriu que a comunicação entre mãe e filha acontece em um olhar ou no carinho de um toque

Paula Boueri / Editora do DOM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Marlan Kaliny Almeida viu o sonho de se tornar mãe realizado aos 23 anos. Uma menininha linda trouxe à vida dela alegria e motivação. Era perfeita. Quando a filha tinha 9 meses, ouviu da sogra que havia algo errado com a pequenina Mayra Karinne. Ela não respondia a estímulos auditivos, ignorava quando era chamada. Para a mãe, era uma questão de hiperatividade e falta de concentração. Mas o diagnóstico veio após um exame feito em Fortaleza que não era oferecido em São Luís: a bebê tinha deficiência auditiva. Após o choque e 17 anos depois, a mãe orgulhosa afirma: “Minha filha é perfeita!”.

Marlan Kaliny aprendeu libras, mas ela descobriu que a comunicação entre mãe e filha acontece em um olhar, no carinho de um toque, por meio de cheiros e vibrações. “A vida de uma mãe de deficiente é de muita felicidade, como de outras mães, mas acima de tudo é uma vida de perseverança, pois a luta é constante. Todo local que ela frequenta precisa ser adaptado a ela: escola, teatro... Em todo lugar é preciso ter um intérprete e isso implica, às vezes, em questões judiciais”, diz a mãe da jovem de 17 anos.

Foi no colo da própria mãe, Raimunda Carneiro, que Marlan Kaliny encontrou consolo e forças para entender como cuidar da filha. Quando a criança tinha 5 anos, veio o divórcio. “Ela passa um tempo com o pai dela, mas a maior parte dele é comigo. Sou 100% dedicada a ela e não me arrependo nem um minuto disso. Acaba sendo um trabalho duplo, mas isso não me faz sentir nem mais nem menos mãe”, comenta.

Pensando no futuro

Depois do período de negação inicial, a mãe decidiu que era hora de batalhar pelo futuro da menina. “Senti muito medo de a sociedade não saber lidar com a deficiência dela. Pensava na educação e o que poderia fazer para vê-la se desenvolver com autonomia. Foi por isso que procurei desde o início acompanhamento multidisciplinar para ela, com fonoaudióloga, psicóloga. Hoje, me vejo realizada porque tenho certeza de que ela está preparada para alçar novos horizontes”, diz.

Uma das “estratégias” da mãe para que a sociedade aprenda a lidar com as limitações da filha é a informação. “A gente passa por preconceito todo dia por falta de conhecimento das pessoas. Foi por isso que nunca escondi a deficiência dela. Quando chegava aos locais, já avisava que ela não ouvia, até para as pessoas entenderem certos comportamentos dela e evitar os olhares de estranhamento. Se a mãe não aceita a condição de seu filho, os outros também não aceitarão. É preciso naturalizar a questão”, ressalta.

Sobre a maternidade, Marlan Kaliny diz como se sente: “Não me sinto uma mãe ‘deficiente’ por ter uma filha com deficiência. Eu me sinto eficiente por estar formando uma boa cidadã. Hoje, as pessoas me olham e me acham batalhadora, e eu preciso ensinar isso para minha filha, que é preciso ir atrás dos nossos direitos, sendo fácil ou não, que ela é capaz de brilhar e seguir pelos caminhos que quiser. Quando a vejo, vejo uma menina perfeita. É a filha que sempre sonhei”.

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