Dia das Mães

Mãe enfrentou uma longa jornada por filha

Cláudia Brandão passou seis anos exclusivamente cuidando da filha Ritinha

Paula Boueri / Editora do DOM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
Cláudia Brandão Damasceno e a filha Ritinha, até hoje, enfrentam intensa rotina de tratamentos
Cláudia Brandão Damasceno e a filha Ritinha, até hoje, enfrentam intensa rotina de tratamentos (claudia e ritinha)

Aos 20 anos, Cláudia Brandão Damasceno descobriu, como ela mesma diz, o “amor incondicional”. Foi com essa idade que deu à luz Rita Maria, hoje com 27 anos. O impacto da gravidez ainda jovem foi superado pelo choque de descobrir, ainda no primeiro ano de vida da pequenina, que ela teria atraso motor e intelectual para o resto da vida, uma vez que passou da hora de nascer e teve três voltas circulares de cordão no parto. A rotina de tratamentos e de afastamento dos filhos que vieram depois – André Luiz (25) e Raquel (20) -, entretanto, não esmorecem em momento algum o ânimo da mãe, que encara a maternidade como um dom divino.

“A maternidade te faz poder fazer qualquer coisa. Eu me sinto realizada quando olho para os três. Os filhos formam uma mãe. Aprendi muito com eles também. É uma troca, a gente aprende com o outro”, afirma.

A jornada até essa atual tranquilidade foi longa e exaustiva. Cláudia Brandão Damasceno enfrentou longas viagens, consultórios e médicos diferentes até obter o diagnóstico e os tratamentos adequados para Rita. “Saí do hospital achando que minha filha era ‘normal’. Ninguém me avisou que ela precisaria de cuidados especiais. Quando ela fez três meses, comecei a comparar com outras crianças e vi que ela não fazia a mesma coisa. Uma pediatra vizinha foi quem veio me falar da deficiência. Já o pediatra dela não confirmava o diagnóstico. Foi quando procurei a Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais]”, conta.

A evolução foi crescente, mas aí veio o susto. Com 2 anos, Rita entrou em coma medicamentoso. Cláudia não pensou duas vezes e a levou para São Paulo. “Eu tinha acabado de ter meu segundo filho. Eu o deixei com 15 dias com minha cunhada e irmão e fui para São Paulo. Foi lá que tive todas as certezas do diagnóstico dela. Foram 3 meses direto lá. Ela tinha lesões no cérebro que foram agravadas com o coma. Voltou à estaca zero”, relata.

Guinada
Cláudia entrou em choque. A perda da mãe anos antes e o diagnóstico da filha foram demais para ela. “Eu perguntei o que faria com um bebê assim, e o médico me disse algo que mudou tudo: ‘Só sei que posso ganhar a loteria, se eu jogar’. Chorei com meu marido. Éramos novos demais. Meu pai nessa hora me deu colo. Aí, pensei que precisava fazer pela minha filha o que meu pai estava fazendo por mim: dar suporte”, relembra.

A mãe explica que um filho gera muitas expectativas nos pais e entre elas nunca está a deficiência. “Toda mãe sonha com um filho normal. Ninguém projeta um filho especial, mas hoje me sinto escolhida. É um amor especial que sinto por ela. Amo todos os meus filhos, lógico, mas ela exige mais atenção. Digo sempre que criei dois filhos para o mundo e um para mim. Ela é minha companheira para a vida toda”, afirma emocionada.

O apoio da família e dos grupos de mães da Apae em São Paulo, para onde ela viajava duas vezes nos primeiros anos de vida de Ritinha, e em São Luís foram fundamentais para Cláudia, que posteriormente fundou com outras mães o Centro Dialético dos Pais e Amigos dos Especiais (CDPAE). “Nunca tive medo de ter outros filhos depois da Ritinha e também nunca me senti culpada por nada. Os menores chegaram a reclamar por não ter minha presença constante, mas os criei ajudando a cuidar dela, tanto que eles não têm vergonha dela de forma alguma”, comenta.

Estudo

Quando o médico que diagnosticou Ritinha disse que era preciso investir no desenvolvimento dela, Cláudia não teve dúvidas. Moveu céus e terra pela filha. “Passei seis anos só dedicada a ela, sem deixar de dar atenção aos outros. Quando um deles reclamou da minha ausência, passei a incluí-los, e isso foi fundamental para a evolução dela também”, diz.

A experiência com a filha e a busca por informações e tratamentos estimularam Cláudia a buscar uma formação superior em Terapia Ocupacional. Ela queria ajudar outras mães e ter o conhecimento científico para praticas que já possuía no dia a dia. “Descobri nessa caminhada da faculdade que eu precisava ser a mãe da Rita e não a terapeuta. É importante que, mesmo com toda a vontade que temos de desenvolver um filho, que sejamos mães também”, afirma.

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