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Olhares sobre a política

Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Após a votação na Câmara Federal, referente ao impeachment da presidente Dilma, escutei e li muitas críticas aos deputados que, na hora do voto, homenagearam a família, a religião, os amigos e outros tantos.
Optei por escutar e ler todas as opiniões – a maioria contrária, diga-se de passagem – antes de me posicionar.
A meu juízo, as posições expostas pelos deputados não são nem dignas de crítica aguda, nem tampouco de aplausos. São apenas justificáveis, já que a classe política é o retrato de uma determinada sociedade.
Noutras palavras: os deputados não são homens e mulheres que vieram do planeta Marte; são homens e mulheres que nasceram neste país, estudaram (ou não) e criaram uma cultura comum e representativa do brasileiro médio.
Vejam que o percentual de deputados que votaram a favor do impeachment (71,5%) é compatível com o percentual de brasileiros favoráveis (70%), o que me autoriza concluir que os parlamentares pensam como a maioria e representaram os anseios da sociedade brasileira.
Por outro lado, concluí que os que criticaram os pronunciamentos foram motivados pelo seguinte: uns, porque eram contra o impeachment, de sorte que, se fosse aprovado sem as falas contestadas, teceriam críticas de outra ordem; outros, mesmo sendo a favor, porque têm uma visão elitista ou conceito prévio negativo da classe política.
Não raramente, quando se fala da classe política, no Brasil e em grande parte no mundo, as considerações são as mais negativas possíveis.
Prendo-me a duas, pois que mais usuais: os parlamentos seriam covis de ladrões; os parlamentares são mentirosos, que não cumprem as promessas de campanha.
Primeiro, por mais que cheguemos à conclusão, com dados objetivos de enriquecimento injustificado de muitos, não é válido concluir que todos são aproveitadores.
Tem, sim, político que mantêm padrão de vida compatível com os ganhos percebidos.
Segundo, é natural que o político não consiga atender a todos os anseios dos seus eleitores. É importante lembrar que o parlamento é um espaço de muitas aspirações, em grande parte conflitantes ou, por vezes, impossíveis de se concretizar em face das limitações orçamentárias. É comum que uma proposta, para ser aceita pela maioria e aprovada, sofra modificações, adequações ou mesmo seja descartada.
Não nos esqueçamos que política é a arte da negociação. Arte essa dificílima, em que o negociador não pode deixar de considerar que a resolução do problema tem de atender aos interesses das duas partes.
Para finalizar, quero só lembrar que a alternativa para a democracia representativa é a ditadura, algo que qualquer pessoa, em seu juízo perfeito, abomina.
Consequentemente, se a democracia representativa é o melhor caminho, quiçá o único, é importante que todos participem do processo, não se limitando a promover tão somente a crítica.
Candidatem-se ou, se não quiserem participar diretamente da arena política, por qualquer motivo, deem suas contribuições de outra forma: votem com consciência e acompanhem a atuação dos escolhidos.
Afinal, como criticar depois se você nem se lembra em quem votou na última eleição? Será que essa postura “descompromissada” é diferente daquela apresentada pelo político eleito e que não honra os compromissos assumidos?

Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro
Juíza de Direito, sonia.amaral@globo.com

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