opinião

O espetáculo para o bem

editorial

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

A sociedade do espetáculo se superou. Vivemos o tempo do imediatismo, do supérfluo, do vale tudo por uma curtida, um “joinha”, um compartilhamento. Vale tanto que basta um acidente de trânsito, um corpo estendido no chão, e as dezenas, centenas – depende do tempo em que a vítima fica esperando atendimento – de pessoas sacam seus celulares, alguns equipados com câmeras de última geração, 14 megapixels e resolução fullhd, outras que registram apenas borrões indistinguíveis, e começam a registrar a cena para distribuir naquele grupo da família no WhatsApp, no Facebook ou para suas poucas dezenas de seguidores no Instagram. Isso termina por entupir a internet com todo tipo de bizarrice e sandice de indivíduos que só querem
ter o prazer de dizer que estavam lá, que viram aquilo, e se não bastasse ainda registraram
tudo para a posteridade.
Outro ponto negativo que esta sociedade do espetáculo nos trouxe foi o narcisismo exacerbado. Para se ter uma ideia, em 2015, 27 pessoas morreram no mundo todo ao se arriscaram em tirar aquela selfie perfeita. A maioria morre porque não está olhando para onde anda enquanto tira a foto, tropeça e cai, geralmente de lugares altos. Como o turista japonês que faleceu ao despencar de uma escadaria no Taj Mahal, na Índia. Na mesma Índia, há registros de pessoas que morreram porque foram tirar uma foto em frente a um trem - em movimento, diga-se.
Em viagens pode-se ver casais em lua de mel, amigos em férias, famílias que deveriam estar se divertindo mas acham mais importante tirar a foto, fazer o vídeo, guardar o momento em um frame e compartilhá-lo, do que vivê-lo efetivamente. Se gasta mais tempo fazendo poses, respondendo a curtidas sobre a foto daquele belíssimo pôr do sol, do que para observá-lo. Mesmo quando saímos de casa, para esquecer o trabalho e a vida pesada, ainda vemos a vida por uma tela.
Ainda assim, tem gente quer busca canalizar esse potencial existente nas mãos das pessoas chamado de aparelho celular para o bem. Nesta edição, por exemplo, vemos os casos de órgãos de seguranças que utilizam o WhatsApp para prender bandidos. O “Disque-denúncia” que foi pioneiro no estado já recebeu mais de três mil denúncias e colocou 384 pessoas atrás das grades. A polícia também passou a receber denúncias pelo aplicativo, principalmente de tráfico de drogas, e ainda disponibilizou um aplicativo próprio para isso. No bairro do Vinhais, foram os próprios moradores que se mobilizaram e criaram o seu grupo para realizar as denúncias e identificar autores de crimes.
E ainda tem aqueles grupos que reúnem pessoas que compartilham histórias, dores e alegrias, como aqueles criados por mães de crianças com microcefalia, doença que estourou no último ano no Brasil inteiro. O grupo cria uma rede de solidariedade que ajuda até mesmo com bens materiais, como dinheiro de passagens para quem vive no interior do estado e não tem condições de se manter na capital, dicas para acompanhamento médico e terapêutico.
E o que falar de situações bem menos “importantes”, mas causadoras de um impacto avassalador na opinião pública e que nos fazem crer na humanidade, como o caso do menino afegão que jogava futebol com uma sacola imitando a camisa do craque Lionel Messi? Ou das campanhas realizadas para angariar fundos para pessoas doentes. O certo é que a humanidade pode simplesmente se afundar no mar do narcisismo, egoísmo e inconformismo da web, ou surfar suas ondas em pranchas de solidariedade, bondade e amor.

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