Inovação

Startup: o que é isso?

O assunto ainda causa estranheza e, principalmente, muitas dúvidas. Afinal, o que é uma startup? Todo novo negócio é uma startup?

Paula Boueri / Editora do DOM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

Ter uma ideia é apenas o primeiro passo para quem quer entrar no mercado por meio de uma startup, modelo de negócio que tem se popularizado, relacionado à tecnologia e inovação. Mas apenas uma boa ideia não basta. “Grandes negócios não surgem apenas de grandes ideias. Os grandes negócios surgem a partir de dores relevantes dos usuários [dedicação] e se consolidam pela proposta de valor inovadora que o negócio irá proporcionar aos clientes”, explica Laíza Amorim, líder organizadora da Startup Weekend São Luís, evento que acontece de 20 a 22 de maior e que busca fomentar o mercado de startups no estado.

O assunto ainda causa estranheza e, principalmente, muitas dúvidas. Afinal, o que é uma startup? Todo novo negócio é uma startup? Quais são as características desse modelo de negócio? Como conseguir investir? Laíza Amorim, ela própria chefe de operação da startup SussaMundo, explica o que é o termo em entrevista exclusiva a O Estado.

O que é uma startup? Todo negócio nascendo é uma?

Em tradução livre, startup seria toda empresa que começa pequena e que tem grande potencial de crescimento. Mas eu acredito que startup é muito mais, são empresas que possuem uma base tecnológica (trabalham com software), sempre estão inovando e possuem um modelo de negócio flexível, possibilitando assim ajustar e adaptar seus produtos/serviços com as necessidades dos usuários com base nos feedbacks dos clientes. São negócios que nascem a partir da detecção de um problema real, e estão sempre preocupadas em entregar o máximo de valor e diminuir a dores dos clientes.

Nem todos os negócios que estão nascendo podem ser consideradas startups, é muito comum até pessoas confundirem os próprios aplicativos com uma startup, mas na verdade para se encaixar no conceito de startup é necessário que o negócio seja repetível (entregar o mesmo valor para todos os clientes, sem fazer grandes customizações), escalável (seu lucro deve crescer de forma exponencial, enquanto suas despesas crescem de forma bem mais lenta) e trabalhar com algo inovador, geralmente em um ambiente de extrema incerteza.

Cite alguns exemplos.

A startup mais conhecida e usada no Brasil com certeza é o WhatsApp, eles possuem uma equipe enxuta, estão sempre adicionando alguma nova funcionalidade (desde a semana passada todas as mensagens são criptografadas garantindo assim mais segurança, e há pouco tempo atrás foi liberado o envio de arquivos diretamente pelo aplicativo).

O Uber é uma startup que está inovando na questão de mobilidade, é "a maneira mais inteligente de se locomover”. Eles usam a tecnologia e garantem a mobilidade urbana de forma mais democrática e flexível.

Outro exemplo é o Nubank, uma startup brasileira que gerencia cartões de crédito apenas pela internet. O fator inovador da empresa está em não cobrar anuidade ou taxas extras dos seus usuários, o gerenciamento da conta bancária é feito pelo smartphone. Fácil, rápido e sem filas.

Laíza Amorim
Laíza Amorim

O que é preciso para criar uma startup? Apenas uma boa ideia?

O processo de ideação é muito importante para criar uma startup, no entanto, jamais será o suficiente para ter de fato um negócio consolidado. Startups, costumo dizer, surgem de problemas mal ou não solucionados dos usuários. Por isso, acredito que o primeiro passo na verdade é saber se de fato há usuários interessados na solução proposta e se é uma solução relevante para eles. Depois disso, é necessário saber como montar um modelo de negócio para essa ideia, ferramenta que mostrará como a ideia vai funcionar na prática, qual vai ser a proposta de valor, quem serão os responsáveis pelo projeto, como será monetizado e quais são os players e os recursos necessários que poderão auxiliar nesse processo.

Como é este cenário?

O Brasil já não é um país iniciante no mercado de startups. Segundo a Associação Brasileira de Startups (ABS), em levantamento feito em 2013, em parceria com a BizStart, temos mais de 55% dos jovens com idade entre 20 e 23 anos participando de pelo menos um projeto de startups.

Ainda segundo a ABS, esse mercado movimentou cerca de R$ 2 bilhões no ano de 2015, representando um crescimento de 14% em relação aos dois anos anteriores. Segundo a Anjos do Brasil, maior entidade referência em investimento em startups no país, esse é um dos setores que não foram diretamente afetados pela crise, e que na verdade, mesmo com os riscos maiores, tem conquistado mais investidores por já ser um modelo que já nasce em um cenário de incerteza.

Mesmo estando longe dos grandes centros, o Maranhão tem tido excelentes resultados frente aos nossos colegas, mesmo levando em consideração a pouca idade do nosso ecossistema, que mesmo já existindo como movimento, só começou a se auto-organizar no segundo semestre de 2014. Vemos esse resultado em dois indicadores simples: o primeiro aponta para os mais de R$ 4,5 milhões de investimento público, federal e estadual, em 29 projetos maranhenses, que começaram a ser repassados ainda em 2014 pela Fapema.

A oportunidade de sediar um evento dessa categoria como o Startup Weekend veio em um momento oportuno, visto que as startups maranhenses estão ganhando cada vez mais reconhecimento pelo Brasil inteiro. E isso pode ser observado pelos números que o Maranhão alcançou na Campus Party 2016, o maior evento tecnológico do mundo nas áreas de Inovação, Criatividade, Ciência, Empreendedorismo e Entretenimento Digital: das 8 startups maranhenses inscritas, 8 foram selecionadas e 7 delas puderam estar presente na Campus Party, o dobro de startups em relação ao ano de 2015; a Startup Scoola ficou entre as finalistas do Like a Boss 1 UP - Competição organizada pelo Sebrae Nacional; a Startup SussaMundo ficou em 3º lugar na categoria Economia Criativa na Maratona de Negócios - Competição organizada pelo Sebrae Nacional e a Campus Party; a Startup Infortask ganhou o concurso de Conte sua história para o PEGN (Pequenas Empresas, Grandes Negócios) - organizado pela Hub Global da Organização Globo.

Espera-se ainda que aconteçam duas rodadas de investimento-anjo em startups maranhenses no segundo semestre desse ano, o que daria um somatório esperado de mais de R$ 3 milhões em pelo menos oito startups.

Você falou em Startup Weekend? Que evento é esse?

É um evento global, que já aconteceu em mais de 131 países e acontecerá pela primeira vez em São Luís. O objetivo é transformar ideias em negócios em até 54 horas.Serão 100 participantes que são empreendedores, programadores ou designers, e eles contarão com a ajuda de 16 mentores com redes de contatos internacionais.

Os mentores virão de São Paulo, Florianópolis, Foz do Iguaçu, Fortaleza, Pato Branco, Curitiba e Rio. Dentre eles está o Vinícius Machado, um dos organizadores da Campus Party Brasil. O Edson Mackeenzy também marcará presença, e ele foi indicado a melhor mentor do Brasil para o Spark Awards da Microsoft em 2013, reconhecido como um dos empreendedores mais influentes do Brasil pela Revista ISTOÉ Dinheiro. Mais informações sobre os mentores já confirmados: http://www.up.co/communities/brazil/sao-luis-brazil/startup-weekend/8530

Por que boas ideias, às vezes, não conseguem se transformar em grandes negócios? O que faz com que uma dê certo e outra não?

Porque grandes negócios não surgem apenas de grandes ideias. Os grandes negócios surgem a partir de dores relevantes dos usuários e se consolidam pela proposta de valor inovadora que o negócio irá proporcionar aos clientes. E sempre tendo em mente que para um negócio continuar no mercado hoje é necessário conhecer a fundo as necessidades do seu público-alvo e inovar sempre, seja na proposta de valor, no relacionamento com o cliente, nos processos ou até mesmo no modelo de negócio. Empresas que reconhecem isso estarão sempre um passo a frente dos concorrentes.

Você tem uma startup? Como ela funciona?

Eu, líder organizadora, sou a chefe de operação da SussaMundo, que é uma startup voltada para pessoas que gostam de construir objetos. A SussaMundo ainda está em fase de validação de modelo de negócios, mas no futuro venderemos combos com os materiais necessários para construção de objetos personalizados.

O João Silva, líder de parcerias do Startup Weekend, é o diretor da Trend Cards, uma startup que analisa tendências de mercado e interpreta essas informações, possibilitando que micro e pequenos empreendedores saibam do que as pessoas estão falando e o que elas querem consumir.

SAIBA MAIS

Como conseguir investimento?

Primeiramente, a startup precisa ter um plano de negócio bem definido, um mercado de atuação atraente, grande e com um valor significativo, e uma solução inovadora que tenha um potencial para conquistar o mercado. A partir disso, hoje se trabalha no Brasil com diversas modalidades de investimentos, em que as startups se encaixam dependendo do estágio de maturação. Segundo o Broota, plataforma virtual que permite o contato direto entre empreendedores buscando capital e pessoas que querem ajudar e investir em projetos, as cinco principais modalidades são:

a) Investimentos semente: investidores montam fundos privados para captar em grupo e amenizar riscos.

b) Investidores-anjos: empreendedores que acreditam nos projetos em que investem e estão dispostos não apenas a injetar dinheiro neles, mas também a contribuir com os mesmos nos âmbitos técnico e conceitual.

c) Equity crowdfunding: é um custeamento coletivo também para startups em fases iniciais. É considerado bastante vantajoso porque une as principais características do investidor-anjo e do capital semente.

d) Venture Capital: ajuda o projeto a ganhar o mercado. Os investidores adquirem participação acionária acreditando no potencial de crescimento da empresa e miram nos lucros futuros, advindos de possíveis operações de venda, fusão ou abertura de capital.

e) Private Equity: A ideia, nessa fase, é preparar a empresa para um novo salto de crescimento, que pode ser a expansão do negócio ou a abertura de capital junto à Bolsa de Valores. Geralmente, para liberação do recurso, o fundo investidor exige ações de modernização da gestão.

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