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Vamos dançar?

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música” Friedrich Nietzsche (1844-1900), filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão.
Tem coisa mais aconchegante do que o ato de dançar tal como na bela pintura de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), datada de 1883 e denominada “Dança à cidade/campanha ou em Bougival”, exposta no Museu D´Orsay, em Paris? Renoir foi um importante artista plástico francês influenciado por Monet no tratamento da luz e por Delacroix, das cores.
É emocionante pensar no que se afigura um efêmero contato corporal permitido pelas convenções, mesmo entre pessoas que não se conhecem bem; abraçar e deixar-se abraçar, ser envolvido por sensações embaladas pela música. Não pensem, porém, que não gosto de tipos de dança mais modernos (as), cada um por si, em movimentos nem sempre coordenados; dançar às vezes pode ter o sentido de “dançar”, estar por fora e ficar de fora, como está acontecendo, agora, com muitos desavisados e oportunistas.
Nos meus tempos de juventude, nos amplos e assoalhados espaços do Cassino Caxiense, na praça Gonçalves Dias, moças sentadas de um lado junto aos pais e rapazes ávidos por uma aventura, do outro; quem se arriscasse a desfrutar o prazer de dançar com quem não fosse sua namorada, além de atravessar os salões, devia cuidar-se para não escorregar nos efeitos da cera de carnaúba usada para deixar o piso brilhoso e liso.
Um desses rapazes, num desses “bailes da vida”, encheu-se de coragem e, resoluto, atravessou o salão convidando uma garota para dançar, mas levou um “contra”; quando ato contínuo deu meia volta, além da vergonha estampada no rosto, escorregou caindo totalmente desamparado e foi embora da festa sob intensa gozação.
Houve um tempo em acalentei um sonho: articular um grande baile a ser realizado no “velho” Cassino, com a presença do cantor Dick Farney (1921-1987), de estilo romântico e voz aveludada, que fazia sucesso nos autofalantes da cidade; casais da sociedade, moças e rapazes noivos, namorados ou não, para dançarem ao som do seu som. Seria um evento para consagrar, de corpo presente, o famoso cantor. Quando em São Paulo, nos anos 70, uma noite fomos vê-lo cantar numa cada de show; já não era tão famoso, porém continuava interpretando uma bela voz. Conversei com ele, que era consciente do sucesso que fizera em nosso Estado; falei-lhe do prazer que seria tê-lo conosco novamente, para abrilhantar nosso baile há muito acalentado.
Muitos anos depois dessa conversa, um grande evento realizado no Clube Alecrim, em Caxias, teria sido perfeito à realização desse acalentado sonho, quando diversas autoridades foram agraciadas com a comenda Gonçalves Dias, outorgada pela Prefeitura Municipal: uma orquestra de cordas, casais da sociedade, moças e rapazes noivos, namorados ou não, prontos para o abraço aconchegante no ato de dançar. Faltou o Dick Farney, que se foi bem antes sabendo do nosso sonho.
Infelizmente, não se dança mais como antigamente; contudo, tem muita gente “dançando” de outra forma, pagando seus pecados.

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