opinião

Perdendo a guerra

editorial

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

Na edição de sexta-feira, O Estado revelou: toda vez que o relógio completa uma volta inteira uma pessoa se apresenta em qualquer unidade hospitalar da cidade de São Luís com sintomas de dengue, zika ou chikungunya. Desde o começo do ano, até o último dia 12, foram nada menos que 2.545 notificações das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Esses dados só demonstram que, apesar de toda a campanha e ações para o combate ao mosquito, estamos perdendo a guerra. E isso decorre, como sempre foi sabido, em grande parte das faltas de condições sanitárias de nossa cidade, e do país como um todo.
De que adianta, por exemplo, alguém limpar a sua casa e acabar com todos os focos possíveis, se o terreno bem em frente, que deveria ser uma praça, uma quadra, um parque, é um lixão com quilos e mais quilos de entulhos que se transformam em verdadeiras maternidades e berçários para o Aedes.
Na mesma sexta-feira em que saiu a matéria, a nossa reportagem flagrou lixo e entulho depositados em um terreno baldio localizado próximo a um hospital no bairro do São Francisco. O terreno deveria estar murado, mas simplesmente foi esquecido e se tornou um problema de saúde pública.
Outro ponto: praticamente 90% da população maranhense guarda água em algum tipo de recipiente. Pode ser uma caixa d’água de mil litros ou um balde de apenas 20, mas acumula. E mesmo tomando todas as precauções necessárias, o mosquito sempre encontra um jeito de procriar.
Mas não é o simples ato de secar os reservatórios de águas que irá acabar com o mosquito. Especialistas afirmam que os ovos do bicho podem sobreviver até dois anos em um ambiente seco. Bastando apenas que um pouco de água volte a preencher o local para que eles eclodam e dêem vida a mais mosquitos. Por isso, é fundamental que além de se secar, tem que se limpar o recipiente para aniquilar os ovos.
E mais, aquele velho discurso de que as fêmeas do mosquito só procuram água limpa para procriar já está ultrapassado. Hoje já se sabe que a água suja também pode ser utilizada para o depósito, o que numa cidade como São Luís, onde apenas 45% da população possui rede de esgoto, é um problema e tanto.
Basta dar uma volta por bairros mais periféricos, ou mesmo na área nobre, para se ver a quantidade de água espalhada por valas e sarjetas. Ela sai direto das casas para a rua e termina acumulada em algum ponto. Geralmente são águas servidas, isto é, que foram utilizadas anteriormente, geralmente para lavar roupas, louças, ou mesmo algum ponto da casa, mas como a maioria das ruas na cidade não tem sistema de escoamento e nem de esgoto, elas ficam por aí mesmo.
Daí se deduz que não importa o quanto a população se mobilize e nem tem valor todo o dinheiro gasto com publicidade e campanhas. Também não adianta colocar o exército na rua, ou tirar os alunos das escolas para percorrerem casas orientando moradores, se o saneamento básico, que realmente poderia acabar com a maioria dos focos do mosquito, não é executado de forma eficiente em nossa cidade, em nosso estado, em nosso país.
O Brasil, por tudo isso, se tornou um país bastante favorável ao mosquito, que originariamente nasceu na África, mais exatamente no Egito, e se dispersou pelo mundo, chegando aqui muito provavelmente por meio de navios de tráfico negreiro.

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