Transporte público

Usuários de ônibus de São Luís relatam medo constante de assaltos

Na terça-feira (22), Rosemary Lima, de 24 anos, se jogou do coletivo durante um assalto com o veículo em movimento e teve ferimentos leves

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49

Atitudes extremas estão sendo tomadas por usuá­rios de transporte coletivo da cidade, que diariamente são vítimas de assaltos em coletivos. Sem opções, as pessoas têm de conviver com o medo.

Há pouco mais de dois meses, Maciléia Furtado, de 34 anos, estava voltando do trabalho em um ônibus da linha Alto do Turu, em São Luís, mas saiu pela janela do coletivo em movimento, e morreu ao bater a cabeça no solo. Na última terça-feira, situação semelhante aconteceu, na Cidade Operária. Uma jovem teve ferimentos leves quando se jogou pela janela de um ônibus, ao perceber um assalto em andamento dentro do veículo.

Transtornos
A onda de violência no transporte público vem traumatizando todos que dependem dele. Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão (Sttrema) mostram que 87 assaltos a ônibus foram registrados na capital maranhense nos meses de janeiro e fevereiro.

São aproximadamente 750 mil usuários de transporte coletivo em São Luís, e grande parte dessas pessoas já foi assaltada dentro de um ônibus ou conhece alguém que passou por esse transtorno. É raro encontrar quem ainda não tenha passado por essa situação.

De acordo com Paulo Henrique da Silva, presidente da Associação dos Usuários de Transporte Urbano do Estado do Maranhão, por diversas vezes a entidade se reuniu com representantes da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) e da Polícia Militar (PM) para encontrar soluções para diminuir os assaltos a ônibus. Segundo ele, não houve o retorno esperado.

“Precisamos dar um basta nessa situação. São 750 mil pessoas que utilizam o transporte público, e precisamos de uma segurança dig­na. Estamos chegando a um ponto que não dá mais para aguentar”, desabafou Paulo Henrique da Silva.

Ele afirmou ainda que os empresários que atuam no setor de transporte de passageiros de São Luís também são responsáveis por zelar pela segurança dos passageiros. “É um compromisso dos empresários dar segurança aos passageiros. Não se pode mais aceitar as coisas da forma como estão”, disse Paulo Henrique, destacando também que a associação planeja realizar manifestações, caso o número de assaltos nos coletivos não diminua.

A autônoma Laura Sodré mora no bairro do Geniparana e contou que foi assaltada no ponto final do coletivo, próximo à sua residência. Na ocorrência, dois criminosos levaram sua bolsa com documentos pessoais e outros objetos. “De lá para cá, vivo apavorada com a situação, que deixa todos com medo”, afirmou.

Casos
Assim como Laura Sodré, muitos usuários de transporte coletivo de São Luís têm uma história de assalto a ônibus para contar. Rosemary Lima, de 24 anos, se jogou do coletivo para escapar do crime e acabou sofrendo ferimentos leves.

O caso aconteceu na noite de terça-feira, dia 22, na Avenida Nor­te Externa, na Cidade Operária. Ela estava em um ônibus de linha Socorrão II/Rodoviária, quando três criminosos armados anunciaram o assalto.

Apavorada, a jovem saltou do coletivo, caiu no chão e ficou com ferimentos. Uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) levou a vítima para o hospital Socorrão II. Os criminosos fugiram com os pertences dos passageiros e não foram presos. O caso foi registrado no Plantão de Polícia Civil da Cidade Operária.

Um caso semelhante e que terminou de forma trágica foi registrado no dia 13 de janeiro deste ano, envolvendo Maciléia Furtado. Ela bateu com a cabeça no chão e morreu ao pular de um coletivo que estava sendo assaltado.

A mulher voltava do trabalho quando o ônibus em que estava foi assaltado na Avenida Principal do Alto do Turu. No momento de desespero, alguns passageiros pularam pelas janelas do coletivo. Maciléia Furtado foi uma dessas pessoas, mas bateu a cabeça no chão e morreu no local. Os crimi­nosos também conseguiram levar todos os pertences dos passageiros e fugiram. A vítima deixou dois filhos.

Na manhã de ontem, O Estado esteve na casa onde ela morava com a família, no Alto do Turu, e conversou com o viúvo, Urpiano Garcia Pereira. Ele contou que algumas vezes utiliza o transporte coletivo para resolver seus afazeres, mas tem medo de ser vítima de criminosos em assaltos a ônibus.

Ele disse também que ainda não superou completamente o trauma, que foi a perda da companheira. “Essa é uma situação difícil. A lembrança ainda fica e, com o tempo, se vai superando. O jeito é pedir para Deus e rezar para que não aconteça novamente”, afirmou.

Medidas são tomadas para coibir esses crimes

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) informou, por meio de nota, que têm adotado uma série de medidas a fim de inibir os assaltos a ônibus na Região Metropolitana de São Luís, entre elas o reforço da Polícia Militar nas ações das operações Transporte Seguro, Malha Metropolitana, Saturação e Transporte Embarcado.

A SSP ressaltou que as ações foram intensificadas com o incremento do efetivo da Polícia Militar após nomeação dos novos soldados que já estão atuando nas ruas e avenidas da Grande São Luís. Além disso, as polícias Civil e Militar têm efetuado prisões, e mais de 100 assaltantes já foram identificados pela Secretaria de Segurança.

A Polícia Militar tem realizado o policiamento ostensivo nos cin­co terminais de integração e montado barreiras em vários pontos estratégicos da cidade, como nas avenidas dos Holandeses, Daniel de La Touche, Getúlio Vargas, Franceses, Portugueses, Guajajaras, Africanos e MA-201, e em outros municípios da Região Metropolitana, com abordagens e revistas a passageiros no interior dos coletivos.

A secretaria disse também que o próprio Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão (Sttrema) reconheceu a intensificação das operações e divulgou, no início deste mês, números que demonstram redução nos assaltos a ônibus na Grande Ilha. De acordo com o sindicato, na comparação de fevereiro, com o mesmo período do ano passado houve redução de 27% nestes registros. Na comparação com 2014 a queda foi ainda maior, de 36%.

A SSP ressaltou, ainda, que uma Força-Tarefa pontual foi montada na Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), com o aporte de delegados, para trabalharem na investigação, identificação e na resolução dessa prática criminosa. Equipes do Serviço de Inteligência da Polícia Militar e da Polícia Civil têm trabalhado de for­ma conjunta, a fim de prender os autores dos assaltos.

NÚMERO
87
é a quantidade de assaltos a ônibus registrados em janeiro e fevereiro

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