Artigo

Somos todos irmãos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50

Mais uma vez, o papa Francisco tem se referido ao fato de sermos todos irmãos. Por isso, devemos nos dar as mãos, sem preconceitos estéreis. Chama os judeus de “nossos irmãos mais velhos”.

Dirigi o setor cultural do Rio de Janeiro, como Secretário de Estado, durante quase sete anos. No Teatro Municipal, fomos parceiros de inesquecíveis espetáculos de música, balé e ópera, numa forma original de congraçamento. No dia 7 de abril deste ano, vamos assistir naquele Teatro, por iniciativa do Pontifício Conselho de Cultura, a um incrível show de fé, na compreensão de que “fé e razão são duas asas pelas quais o espírito humano se eleva na contemplação da verdade.”

Tudo isso dentro dos sagrados princípios da Ética, de que o mundo anda tão necessitado. Utilizar o nome de Deus para fins bélicos, positivamente, é uma aberração. Ao contrário, Ele só pode inspirar movimentos de paz e compreensão, como sempre pregou, desde os primórdios da civilização. É assim que se alcança uma existência plenamente humana, como se afirma no Documento de Aparecida.

“Todos somos filhos de Deus”. Quando fez essa declaração, no Vaticano, no dia 9 de janeiro de 2016, o Papa Francisco não pensou nos que acreditam na existência do Todo Poderoso e naqueles outros, felizmente uma minoria, que não têm essa crença. Pensou que todos somos iguais. É preciso refletir mais sobre essa realidade.

O Sumo Pontífice fez da compaixão e do perdão os temas centrais do seu ensinamento. É a principal mensagem do livro “O Nome de Deus é Misericórdia” (Editora Planeta), produzido em parceria com o vaticanista Andrea Tornielli, do diário italiano “La Stampa”. A obra proclama que Deus está sempre de braços abertos para perdoar, mesmo àqueles que tenham escorregado no pecado da corrupção. Eis um trecho: “Não nos transformamos de repente em corruptos; existe um longo caminho de declínio, para o qual se desliza e que não se identifica simplesmente com uma série de pecados”.

Vivemos o Ano Santo da Misericórdia, que vai até o dia 20 de novembro de 2016. O Papa, nesse trabalho, procura reproduzir o coração misericordioso de Deus. Preocupado com as inúmeras escravidões do terceiro milênio, o Sumo Pontífice procura combater o que chama de “globalização da indiferença” e defende “o amor de Deus por todas as criaturas”. Temos que ir ao encontro de todos aqueles que necessitam de compreensão, perdão e amor.

Por isso, enviará ao Brasil o cardeal Gianfrancesco Ravasi, responsável pelo Pontifício Conselho de Cultura, para ouvir o que temos a dizer e levar ao Vaticano o que os brasileiros pensam a respeito do assunto. O silêncio, seguramente, seria o maior dos males.

Aprendemos a conviver com a ideia de que constituímos um povo cordial. Dentro desse aspecto, temos uma maioria católica, que respeita os direitos das demais religiões, sejam elas evangélicas, luteranas ou judaicas. O que, simbolicamente, estreita essas relações é a crença na existência de um Deus único e todo-poderoso. Quem é agnóstico - e é claro que os há - pode não ter sido tocado por esse fogo sagrado da crença, mas deve ser igualmente respeitado. Quem sabe, muda de opinião?

Arnaldo Niskier

Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras de Brasília e presidente do CIEE/RJ

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