Faturamento

Volta às aulas impulsiona venda de livros didáticos pela internet

Participação do livro didático no total de vendas cresceu 42% em janeiro. A expansão pode estar relacionada ao fato de o Carnaval ter sido mais cedo

Alana Gandra/Agência Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50
(Livro ilustração)

RIO DE JANEIRO - Painel de vendas elaborado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pela Consultora Nielsen revela aumento do faturamento geral do setor editorial em janeiro deste ano, “que foi muito influenciado pelo livro didático”, disse o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira.

Segundo ele, a participação do livro didático no total de vendas cresceu de 38%, em 2015, para 42% em janeiro deste ano. Para Pereira, essa expansão pode estar relacionada ao fato de o Carnaval ter ocorrido mais cedo, favorecendo a antecipação das compras dos livros didáticos, com concentração maior em janeiro.

A volta às aulas foi o fato gerador do aumento de 30% nas vendas em janeiro e fevereiro deste ano no site de comercialização de livros usados e novos Estante Virtual, que reúne uma rede de 1.350 sebos em todo o país. Segundo a gerente de Marketing do Estante Virtual, Érica Cardoso, 55% das vendas são referentes a livros infantojuvenis e universitários. "Isso engloba livros didáticos e paradidáticos, livros técnicos e universitários."

Érica informou que o crescimento este ano foi bem maior que em anos anteriores, “apesar da crise econômica do país”. No ano passado, o maior crescimento de livros didáticos e universitários foi observado em março. “Este ano, já sentimos crescimento desde janeiro”. Em 2015, as vendas pela internet do Estante Virtual mostraram incremento de 15% em relação ao ano anterior.

Sobre livros universitários, a gerente acrescentou que as edições encontradas em sebos, mas ainda em perfeitas condições, constituem atrativo para os compradores em razão do preço mais baixo. Comparando a lista de livros recomendados no primeiro período de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, a economia chega a 30%.

“Uma lista que custaria cerca de R$ 3,5 mil em outras livrarias, no Estante Virtual seria comprada por cerca de R$ 2,5 mil. Uma economia de R$ 1mil é representativa”. O levantamento de preços foi feito no dia 2 de fevereiro passado.

Os estados campeões de venda no primeiro bimestre foram São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que representaram juntos 56% das vendas. Os livros novos correspondem a 24% do acervo do Estante Virtual. Desde que foi criado, há dez anos, o portal atingiu 15 milhões de livros no acervo.

Atacado e varejo

No mercado de venda de livros no atacado e varejo há 20 anos, o portal Top Livros, do Paraná, não sentiu nenhuma alteração nas vendas com o início das aulas, disse à Agência Brasil o diretor comercial do site, Rodrigo Castro. O principal consumidor do portal são livrarias, sebos e pequenos distribuidores de todo o país. Como não trabalha muito com livros didáticos, Castro assegurou que “a volta às aulas não impacta em nada” para o seu portal.

O Top Livros trabalha com feiras em escolas e universidades, e está aguardando o início do ano letivo para agendar os eventos, nos quais apresenta livros de todos os gêneros, como romance, ficção, contos, poesia. O site mantém ao longo do tempo o mesmo volume de venda de livros didáticos por mês, da ordem de 500 unidades, disse o diretor.

Para o portal Varejão do Estudante, única livraria online do Brasil especializada em livros escolares, as vendas dos livros didáticos representam 90% do acervo. “Para nós, já é natural ter um aumento de vendas entre dezembro e fevereiro”, informou a diretora da empresa, Carolina Tavares. Apesar disso, relatou que este ano, houve queda na venda de livros didáticos de 10%, em comparação ao ano passado, devido à migração de alunos de escolas particulares para escolas públicas.

No período de dezembro a fevereiro, a média de acessos ao site supera 15 mil por mês. Na época da volta às aulas, Carolina Tavares disse que são vendidos mais de 150 mil livros. Os estudantes, pais e responsáveis têm acesso no portal à lista escolar. Nesse serviço, estão pré-cadastradas as listas escolares com todos os livros. O estado com maior representatividade nas vendas do portal é Pernambuco, que responde por mais de 80% do total.

Painel de vendas

O presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira, admitiu que há, de fato, uma tendência de a venda do livro didático estar muito presente no mundo online. “Você tinha empresas muito tradicionais que vendiam o livro didático e, hoje em dia, todos os sites trabalham fortemente com isso”. Nas grandes lojas virtuais que ele acompanha, como Saraiva, Cultura e Submarino, Marcos Pereira disse que a venda do livro didático no retorno às aulas é um período “importantíssimo para todos eles”.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), Antonio Luiz Rios da Silva, o canal em que o livro é vendido para os pais “quanto mais diversificado [for], melhor”.

Ele vê ampliação da venda de livros didáticos pela internet como uma tendência de todo o varejo. “As transações de varejo pela internet vêm crescendo a uma taxa superior ao crescimento das vendas de maneira geral, por uma série de razões”, disse. Quantidade, facilidade para comprar, mobilidade urbana são algumas das razões que levam as pessoas a optar por adquirir um produto online, afirmou Silva.

O livro escolar, que atende a crianças e jovens até o ensino médio, faixa em que a Abrelivros atua, para escolas particulares, representa 35% do total de venda de livros no país. Para as escolas públicas, a entidade entrega os livros para o governo, que se incumbe de distribuir diretamente às escolas.

Para a Abrelivros, é indiferente o aumento da venda de livros didáticos por sites. O presidente da entidade assegurou que o importante é haver disponibilidade do livro para que o pai tenha facilidade de comprar. “Se vai ser em uma livraria, se vai ser na escola, se vai ser na internet, para a gente é indiferente”.

Ele esclareceu que a empresa que vende pela internet se relaciona por meio de uma entidade legalmente constituída com as editoras associadas à Abrelivros nas regiões onde atua, negocia os livros e, em geral, deve ter o mesmo tratamento que uma grande rede, como uma Saraiva, por exemplo, que vende livros didáticos tanto em suas lojas físicas, como pela internet. “O que importa, enfatizou, é dar comodidade e facilidade para que o pai possa comprar”.

Economia do livro

O coordenador do Laboratório de Economia do Livro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fábio Sá Earp, disse que o crescimento de 30% nas vendas de livros didáticos pelo portal Estante Virtual é “muito expressivo”, sobretudo, segundo ele, porque o site não parecia estar investindo na corrida do início do ano, como fazem outras empresas.

Ele acredita que a recessão econômica contribui para os pais migrarem para fazer as compras dos livros escolares pela internet, inclusive em conjunto com outros pais, a chamada compra coletiva, porque isso resulta em abatimento de preços. “Com recessão, você está tendo um movimento de pais que estão levando seus filhos para a escola pública e de pais que fazem qualquer tentativa para reduzir custo. Uma delas é correr para a internet”, disse à Agência Brasil.

Sá Earp lembrou que na última crise, há cerca de dez anos, o que aconteceu foi que as famílias migraram para livros baratos. “Começou a ter feirões nas escolas, com troca-troca de livros no início do ano, e apelou-se para livro usado”. Destacou que um pouco desse movimento em relação ao livro usado está ocorrendo agora. Como o livro didático tem um peso grande no faturamento total do setor editorial brasileiro, o economista da UFRJ acrescentou que o aumento registrado nas vendas dessas obras pode indicar também que as vendas dos demais gêneros s de livros caíram.

Comodidade

A médica Lumena Tereza Gandra, mãe de uma adolescente de 15 anos, que cursa o primeiro ano do ensino médio, disse que o principal fator que a levou a procurar livros didáticos na internet foi a comodidade. “Comparo preços para saber se há diferença. Se valer a pena, compro na internet, comparando prazo de entrega e valor. Comodidade”, reiterou. Em algumas ocasiões, ela optou por comprar na internet os livros que estavam em falta na papelaria indicada pelo colégio.

O profissional de tecnologia da informação Renato Carvalho ressaltou que a praticidade da operação foi o que o levou, inicialmente, a comprar pela internet, prática que adotou, “há mais de dez anos”, para as compras de mês da família. “Comprar pela internet tem uma praticidade enorme”, manifestou. Em relação ao material escolar, Carvalho descobriu que conseguia comprar livros já usados na internet, em excelentes condições, “por uma fração do preço” cobrado normalmente nas lojas físicas.

“É uma economia bastante razoável quando você tem um filho no segundo grau, que pede uma quantidade enorme de livros muito caros”. No ano passado, Renato Carvalho fez a primeira experiência na área de livros didáticos usados “e deu muito certo”. Este ano, ele repetiu o procedimento e disse ter economizado mais de R$ 1 mil.

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