Entrevista João Martins

“Temos no país pessoas empreendendo por necessidade e por oportunidade”

Diretor-superintendente do Sebrae no Maranhão faz uma análise do resultado de pesquisa que revelou que a taxa total de empreendedorismo atingiu 39,3%

Ribamar Cunha

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50
(Sebrae)

A nova pesquisa GEM trou­xe como dado importante que a taxa total de empreendedorismo no Brasil alcançou 39,3% em 2015. Ou seja, que 52 milhões de brasileiros com idade entre 18 e 64 anos estavam envolvidos na criação ou manutenção de algum negócio. Em entrevista a O Estado, o diretor-superintendente do Sebrae no Maranhão, João Martins, faz uma avaliação do resultado da pesquisa, levando em conta também o viés da crise e sua implicação em se empreender por necessidade ou por oportunidade.

A nova pesquisa GEM 2015 mostra uma taxa total de empreendedorismo no Brasil de 39,3%. Qual a relevância desse dado?
É interessante informar que essa pesquisa faz um estudo da atividade empreendedora no âmbito mundial. No ano de 2015, 60 países foram objeto dessa pesquisa, os quais representam 83% do PIB mundial. Essa pesquisa é justamente para detectar o impacto da criação de negócios no crescimento e no desenvolvimento desses países. No Brasil, a pesquisa foi realizada nos meses de setembro, outubro e novembro com 2 mil entrevistas com a população de 18 a 64 anos, além de entrevistas com 74 especialistas em empreendedorismo. Quando você me pergunta qual a relevância desse fato, considerando 39% de empreendedorismo no Brasil, nós associamos que de dois em cada cinco indivíduos entre 18 e 64 anos, que é a faixa etária da população economicamente ativa no Brasil, essas pessoas ou já têm um negócio ou estão envolvidas na criação de um negócio que vai impactar no crescimento e desenvolvimento da sua região e do país como um todo.

É fato afirmar que a crise teve influência ou foi fator preponderante para aumento da taxa de empreendedorismo no país?
Sim. Nós, ao analisarmos a crise, precisamos levar em consideração que ela é oportunidade. Mas se você trouxer diretamente para as pessoas que foram impactadas pela crise, que foram demitidas ou observaram restrições ao mercado de trabalho, elas passam a empreender por necessidade. Ou seja, a situação da crise faz com que elas busquem alguma for­ma de empreender para vender serviços e produtos, até mesmo para que possam sobreviver.

Podemos dizer que nesse momento as pessoas estão empreendendo mais por necessidade do que por oportunidade?
Uma coisa complementa a outra. O que eu acabei de dizer: a crise também pode ser uma oportunidade. Mas uma oportunidade iniciada pela necessidade que o indivíduo tem de empreender. Nesse momento, o Brasil é um país muito particular porque tem pessoas empreendendo por necessidade, em função da crise, mas a própria crise é uma oportunidade para que outros possam, inclusive, ampliar seu fato de empreendimento. Nós temos no país pessoas empreendendo por necessidade e por oportunidade, sendo que a crise impacta muito mais no empreendedorismo por necessidade.

Há diferença de resultado de quem empreende por necessidade daquele que investe no seu próprio negócio ao vislumbrar uma oportunidade?
O resultado para quem empreende por necessidade pode se mensurar pelo fato de que a pessoa em uma situação impactada pela crise está com certeza num ambiente desfavorável. E os resultados não vão ser os mesmos de quem empreende por oportunidade. Porque subtende-se que quem está empreendendo por oportunidade fez um estudo de mercado, fez um plano de negócios, ele se preparou para aquela atividade. Ou seja, vislumbrou uma oportunidade e buscou as ferramentas necessárias para atingir seu objetivo e, com certeza, seus resultados serão melhores. Ao passo que quem está empreendendo por necessidade não teve tempo de se preparar. Basicamente se viu com uma situação desfavorável e teve que entrar no mercado para tentar sobreviver e o risco para ele é maior.

Embora o brasileiro tenha uma veia empreendedora, o senhor concorda que abrir um negócio no país ainda é um sonho difícil de realizar, tendo em vista a falta de políticas públicas adequadas, o excesso de burocracia para abertura, funcionamento e encerramento dos negócios, alta carga tributária e elevados custos de operação?
Sim. No Brasil, temos alguns mecanismos no setor público que acabam afetando um pouco o empreendedor. Mas acreditamos que isso já evoluiu bastante. Hoje nós temos a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e um processo de organização dos empreendedores, hoje, que já sabem identificar quem são as instituições apoiadoras que podem contribuir, facilitar e convergir para determinado espaço onde eles possam alcançar informações e buscar mecanismos que possam facilitar sua vida. Necessário estabelecer comparativos: como era antes, como está hoje e o que se precisa fazer mais. Então, acreditamos que com uma participação maior desses empreendedores de forma organizada e buscando uma interlocução com seus representantes no legislativo, temos certeza que o ambiente pode se tornar muito mais favorável para o empreendedor.

Há uma receita para que o empreendedor obtenha sucesso em seu negócio?
Acreditamos que essa receita inicia-se primeiro por uma característica comportamental do empreendedor. Acho que o perfil do empreendedor pesa muito aí - a iniciativa, a proatividade, o acreditar e o iniciar a caminhada que objetiva o cumprimento de um sonho. Mas é necessário que busque as ferramentas, que busque os mecanismos que possam ajudá-lo a chegar lá e cumprir seu objetivo. E um desses mecanismos principais são as informações preliminares. São as informações que ele pode buscar lá no início, numa prospecção de mercado. Ele precisa saber qual é o cliente dele, o que é que esse cliente precisa para que ele possa oferecer um produto ou serviço que possa ser atrativo para esse potencial cliente que é foco do trabalho dele.

A Pesquisa GEM revelou ainda que, dos empreendedores identificados, 14% procuraram algum órgão público ou privado de apoio ao empreendedorismo. Entre esses empreendedores, 66% buscaram o Sebrae. Como o senhor avalia a participação do Sebrae nesse processo?
É extremamente salutar esse número, porque demonstra que de três empreendedores dois estão procurando o Sebrae para buscar informações que possam fazer o diferencial nessa sua inciativa empreendedora. Além disso, é fundamental fazer um destaque que a missão do Sebrae é fortalecer a competitividade ente as micro e pequenas empresas para que possam ser sustentáveis e contribuam para o país. E o Sebrae está trabalhando muito fortemente nisso por intermédio de diversas ações que são trabalhadas com os governos federal e estadual e com os municípios, através do Prêmio Prefeito Empreendedor e ações muito fortes na questão das compras governamentais para que as micro e pequenas empresas participem das licitações públicas, além de considerar que o Sebrae acaba sendo o referencial para o empreendedor. Entendo que isso aumenta a nossa responsabilidade e fortalece nosso trabalho no que diz respeito à obtenção desses resultados.

Fazendo um recorte da pesquisa GEM para o Maranhão, como está o comportamento do empreendedorismo no estado?
No Maranhão, nós podemos observar que temos um avanço muito grande no que diz respeito ao empreendedorismo. Se nós buscarmos identificar as camadas que passaram a ser incluída no processo de empreendedorismo, temos segmen­tos étnicos como o empreendedorismo negro que hoje proporcionalmente é o maior do Brasil. As mu­lheres empreendem muito também no Maranhão. O Sebrae disponibiliza ações técnicas para o apoio ao afroempreendedorismo e para aquele que já e conhecido por todos, que está no extrato geral do número de empreendedores no estado. Verificamos que com o estabelecimento da crise ficou evidente o crescimento de abertura de empresas e de pessoas buscando o Sebrae para ter acesso a maiores informações no sentido de se preparar.

Qual o perfil dos empreendedores maranhenses e quais são as áreas mais procuradas?
O empreendedor maranhense se encontra mais na área de comércio e serviços, especificamente no varejo de alimentações e de confecções e vestuário. Além de se ter um número significativo no serviço de estética que é uma crescente no Brasil e o ramo de construção civil. Se formos detalhar mais, precisamos fazer um registro dos números do Micro Empreendedor Individual, que hoje no estado do Maranhão temos o quantitativo de 78 mil/mês. Significa dizer que se está trazendo uma grande parcela de empreendedores para a formalização, contribuindo para a geração de emprego formal e para a arrecadação do estado.

Na atual conjuntura de crise, que mensagem o senhor deixa para quem pensa em empreender?
A crise, nós costumamos afirmar e repetir, é um processo cíclico que se estabelece por algum desequilíbrio que pode acontecer dentro ou fora do país e isso acaba repercutindo em todas as instâncias. Mas existe também o ponto de equilíbrio, o declínio dessa crise. Acho que a mensagem nossa para quem pretende empreender é justamente pensar no declínio da crise. Nesse momento, nós devemos orientar os empreendedores para que tenham primeiro um estudo de mercado, compreender de que forma podem contribuir e até que ponto avançar para não comprometer suas reservas e seu esforço e ânimo para empreender, porque pode acontecer de a coisa não dar certo num primeiro momento. Se bem que o empreendedor é perseverante, é persistente. Mas, se ele tiver in­formações acerca do mercado, as ferramentas necessárias para que possa empreender, se buscar treinamento e conhecimento específico de gestão, de tecnologia, de inovação e, principalmente, para que ele tenha um atendimento diferenciado. Pois o que vai estabelecer uma fidelização na relação empreendedor e consumidor é um atendimento diferenciado. É isso o que vai prender o consumidor, fazer com que o empreendimento se torne sustentável e contribuir para que o Brasil, estados municípios respondam a essa situação conjuntural de crise econômica com geração de emprego e com oferta de produtos e serviços de qualidade. Embora estejamos numa situação de cautela, a nossa mensagem é de otimismo.

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