Especial Mulher

Machismo: mulheres e os preconceitos após a maternidade

Olhares acusatórios quando um filho faz birra em público e discriminação no trabalho são algumas das dificuldades diárias enfrentadas por quem é mãe

Poliana Ribeiro / O Estado On-line

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50
Olhares de incômodo atingem em cheio a mãe que lida com birra do filho
Olhares de incômodo atingem em cheio a mãe que lida com birra do filho (MAE E FILHO )

SÃO LUÍS - O mundo sempre foi bastante cruel com as mulheres. Todas as vitórias e conquistas ao longo dos anos foram sempre resultado de muita luta em meio a conceitos – e preconceitos – de uma sociedade dominada por homens. E se muitas das grandes batalhas já foram ganhas – como o direito ao voto e o avanço das mulheres no mercado de trabalho –, os embates diários fazem parte da vida de todas nós, inclusive quando nos tornamos mães.

Os olhares de incômodo atingem em cheio a mãe que lida com a birra do filho em um shopping ou restaurante lotado. “Não sabe educar; não devia sair para certos lugares com criança pequena; não tem pulso; é desequilibrada porque bate na criança”, são algumas das frases que preencheriam balões de pensamento das pessoas que testemunham esse tipo de cena. “A gente vê sempre muitas matérias falando como devemos agir nessa situação. Porém, quando olham você tentando mudar o comportamento da criança, por exemplo, deixando ele gritar, você percebe que estão todos olhando. Certa vez, meu pequeno fez birra e uma senhora veio falar comigo dizendo que eu não estava agindo corretamente (porque deixei ele no chão). Na hora fui até grosseira e perguntei quem era a mãe”, conta Tassia Sueli Lopes. Ela foi uma das mães que participam de um grupo no Facebook e toparam falar sobre as vicissitudes da maternidade.

Bruna Cerqueira também sente-se alvo de olhares acusatórios em locais públicos. “Vivo essa discriminação na rua, pois tenho filho especial e preciso lidar com umas birras que pertencem à síndrome. Sempre observo olhares me julgando, mas não ligo mais”, garante.

E se entre pessoas desconhecidas mães são frequentemente alvo de críticas, no círculo social, por vezes, a situação não é muito diferente. Ter um filho é, talvez, uma das maiores mudanças pelas quais uma mulher pode passar, e uma das consequências pode ser o afastamento dos amigos. “Claro que não tenho mais vida social! Sempre fui de pouquíssimos amigos, mas, depois dos filhos, sumiram quase todos!”, atesta Daniela Lisboa. “Com certeza as pessoas se afastam, até porque vivemos uma fase diferente e tendemos a falar mais sobre isso, então quem não tem filhos não se interessa muito. Somos excluídas das festas, dos passeios, até porque com criança, ainda mais pequena, fica tudo mais complicado. Porque é a comida que tem que levar, atrapalha o cochilo e o trabalho que dá correr atrás dele para não derrubar nada na casa do amigo. Esse afastamento é comum. Não é muito legal, me sinto só, apesar de acompanhada durante todo dia, mas entendo que faz parte”, destaca Ana Vasconcelos.

Beatriz Andrade Santos Fontenele pondera que o afastamento ocorre dos dois lados. “Acredito que o afastamento é das duas partes, porque, ao mesmo tempo que eles não nos chamam mais para uma super balada, nós também deixamos de chamá-los para alguns programas que passam a fazer parte de nossa vida. As prioridades apenas mudam”, acredita.

Emprego

Se opta por deixar o trabalho para cuidar dos filhos, a mulher enfrenta, muitas vezes, o preconceito mal disfarçado em perguntas do tipo: “mas você só cuida dos filhos?”. Por outro lado, ter a “ousadia” de conciliar trabalho com maternidade também não exime a mulher de julgamentos: “não sei como você consegue deixar seus filhos em uma creche/com uma babá”.

“Uma vez em uma entrevista de emprego fui desclassificada por ter filho, visto que não houve nenhuma outra explicação, pois me adequava ao cargo”, afirma Pétala Monteiro. Thaís Amanda Mendes conta que também já se sentiu discriminada em entrevista de emprego ao dizer que tinha filho. “Já fiz entrevista (de emprego), duas, na verdade, em que, quando disse que tinha uma filha, a cara mudou da água para o vinho. Parecia que eu estava dizendo que tinha alguma doença contagiosa. E seguiram com a pergunta ‘ah, você tem filho? Quantos anos? E tem quem tome conta dela?’ Em todos eu respondi igual: ‘tenho. 2 anos. Ela não me dá trabalho, fica com a minha mãe, e só vim aqui porque achei que vocês poderiam me dar uma oportunidade melhor que meu atual emprego, mas estou vendo que não’. Sai andando. Não sou obrigada”, conta.

Uma vez contratada, as dificuldades para a mãe que trabalha fora de casa não diminuem. “A empresa em que eu trabalho não aceita atestado do filho para liberação da mãe. Por exemplo, se meu filho for internado eu não poderei acompanhá-lo durante a internação, pois só aceitam atestado de um dia! Acho isso desumano e também não deixa de ser discriminatório”, diz Edlayne Castro.

Para Pétala Monteiro, a sociedade não ampara a mulher normalmente e, quando ela se torna mãe, isso torna-se ainda pior. “Nós, mulheres, cada vez mais conquistamos o mercado, mas, muitas vezes, somos obrigadas a decidir entre a maternidade ou o trabalho. Conciliar as duas coisas é extremamente cansativo, e eu aplaudo as mães que conseguem fazê-lo. Você é obrigada a largar os estudos porque a universidade não te dá uma creche, é obrigada a desmamar cedo, porque o trabalho te obriga a voltar logo, muitos destes nem auxílio creche têm. É difícil, é triste. E quando você opta por ficar em casa cuidando dos filhos, já te chamam de preguiçosa, refém do marido... Na verdade, nós mulheres, já somos discriminadas por ser mulheres, e quando somos mãe, isso duplica”, desabafa.

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