Guerra difícil

Pesquisador afirma que “será muito difícil” superar o Aedes

Entrevistado por O Estado, o professor da UFMA Raimundo Nonato Martins Cutrim afirma que o país “acordou” muito tarde para o problema, que é sim, segundo ele, uma epidemia; professor relata a história do mosquito no Brasil

Thiago Bastos / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50
Estudos afirmam que há indícios do Aedes aegypti ainda na descoberta das Américas; mosquito é vetor de dengue, zika e chikungunya
Estudos afirmam que há indícios do Aedes aegypti ainda na descoberta das Américas; mosquito é vetor de dengue, zika e chikungunya (Aedes aegypti)

O alerta não é nada otimis­ta. O pesquisador, mestre e doutor em Ciências Tropicais e professor do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Raimundo Nonato Mendes Cutrim, afirma que, com base em suas pesquisas, desenvolvidas há mais de 40 anos, será “muito difícil” para o país superar o número de casos de doenças provocadas pelo Aedes aegypti, como a dengue, zika e febre chikungunya.

Segundo o pesquisador, o país “acordou tarde” para perceber o real perigo do mosquito à população. “Mesmo com a mobilização do poder público, e apesar dos esforços do Governo Federal, não há garantia de que o mosquito será extinto, ou mesmo não terá malefícios”, afirma.

Com estudos aprofundados so­bre a incursão do Aedes no território nacional, o pesquisador confirmou a O Estado que os primeiros indícios da presença do mosquito datam ainda do período de descoberta das Américas. Segundo ele, durante os séculos XVII, XVIII e XIX já havia elementos que confirmavam a circulação do mosquito no país. “Depois disso, ele volta já no século XX”, comenta o pesquisador.

Proliferação

Em 1955, ainda de acordo com o pesquisador, o mosquito Aedes foi erradicado, retornando ao país nos anos de 1967 e 1968, nas cidades paraenses de Belém e Bragança. Em 1969, segundo ele, existem registros da proliferação do mosquito nas cidades maranhenses de São Luís, São José de Ribamar e Rosário. Ele também relata que o mosquito foi novamente erradicado em 1972 no território nacional, reaparecendo em Salvador (BA), em 1975.

No entanto, apesar de aparições em determinados períodos da segunda metade do século XX, é a partir de 2014, com a promoção da Copa do Mundo no país, que, de acordo com o pesquisador, o mosquito vira novamente ameaça à população. “A partir daí, o mosquito ganha força e se torna, de fato, ameaça”, afirma.

Ele também aponta a principal causa para a inoperância nas ações anteriores de extinção do Aedes. Para Raimundo Nonato Mendes Cutrim, o término das atividades da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) prejudicou as ações de controle epidemiológico no país. “Desde então, após o início da década de 1990, houve vários casos semelhantes ao que estamos vivendo nos dias atuais”, afirmou.

Na opinião do pesquisador Raimundo Nonato Mendes Cutrim, o país vive, sim, uma “epidemia”. “Não se trata apenas de um caso isolado, e sim de vários casos registrados de distintas doenças. Então, eu chamaria, sim, de epidemia, neste caso”, diz.

Saiba mais

Focos em 1,3 milhão de imóveis no país

Equipes de combate ao Aedes aegypti visitaram na semana passada 14,1 milhões de imóveis, totalizando 41,5 milhões de casas e prédios comerciais vistoriados desde janeiro. Ao todo, foram encontrados focos do mosquito transmissor do vírus zika e da dengue em 1,3 milhão de imóveis, o que representa 3,3% dos visitados.

Ao todo, foram vistoriados 61,8% dos imóveis previstos. No balanço anterior, 27,4 milhões de imóveis tinham sido percorridos pelos mais de 300 mil agentes comunitários de saúde e de controle de endemias, com apoio dos militares.

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