O Estado contra o Aedes

Infectologista tira dúvidas sobre doenças causadas pelo Aedes

Ana Cristina Saldanha explicou como ocorre a transmissão das doenças, as diferenças entre elas, por que há uma grande prevalência no Brasil e o que as pessoas devem fazer caso percebam os sintomas; médica também deu dicas de prevenção

Jock Dean

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50

[e-s001]Dengue, zika vírus e fe­bre chikungunya são as três principais doen­ças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Apesar do grande número de informações sobre as enfermidades e o crescimento no número de casos, a população ainda têm dúvidas sobre o tema. Para esclarecer o assunto, O Estado foi às ruas para saber das pessoas quais são suas dúvidas sobre o mosquito e as doenças por ele transmitidas e conversou com a infectologista do Hospital Getúlio Vargas, Ana Cristina Saldanha, que respondeu aos questionamentos e deu dicas à população.

Por terem sintomas muito parecidos, dengue, zika vírus e febre chikungunya podem ser facilmente confundidas. Esta é apenas uma das dúvidas que a popu­lação tem. Há até mesmo pes­soas que não acreditam que as endemias não sejam tão graves quanto está sendo noticiado. Em tempos de redes socais, muitos boatos se espalharam rapidamente sobre as possíveis causas das endemias, mas Ana Cristina Saldanha alerta que esses informes muito mais atrapalham do que ajudam na prevenção e tratamento. Por isso, é preciso estar atento à fonte que está divulgando quaisquer informações sobre as doenças.

LEIA TAMBÉM:

Doenças transmitidas pelo Aedes já somam quase 400 notificações
Com medo do zika vírus, sonho de ser mãe acaba sendo adiado
Na gravidez, prevenção contra o Aedes aegypti é indispensável

Microcefalia

A microcefalia tem realmente relação com o zika vírus?

[e-s001]Aldaísa Coelho Soares, fonoaudióloga

Ana Cristina Saldanha - Até mesmo no meio científico existem dúvidas em relação a associação do zika vírus com a microcefalia porque existe essa doença em outros países sem a ocorrência da microcefalia. Hoje, o que sabemos é que já há estudos que comprovaram a presença do vírus zika no cérebro de crianças que nasceram mortas e que tinham microcefalia. Essa correlação existe. Agora a intensidade dessa correlação e a análise de que outros fatores possam causar essa maior prevalência de microcefalia ainda estão em análise.

Transmissão

Como as doenças são praticamente iguais, a forma de transmissão é a mesma?

[e-s001]Benedita Pontes, vendedora

Ana Cristina Saldanha - A transmissão é basicamente vetorial. Então, é o mosquito que passa o vírus que causa a dengue, o vírus que causa a chikungunya e o vírus que causa a zika, que são as principais doenças transmitidas pelo Aedes. Após isso, a pessoa pode adoecer ou não, ter sintomas graves ou não. Existe, em relação à zika, alguns relatos de transmissão sexual, mas isso ainda não está muito claro para a gente essa forma de transmissão. Hoje, o que a gente sabe como forma certa de transmissão é por meio do mosquito.

Sintomas

Qual a diferença dos sintomas entre as três doenças?

[e-s001]Edilson Vitório Pires, autônomo

Ana Cristina Saldanha - As três doenças são viroses muito parecidas. Então, as três viroses passam como se fossem uma gripe por que dão febre, dor no corpo, mal estar e isso dura em torno de uma semana, no máximo, e os sintomas desaparecem sozinhos. Agora existem algumas características que de acordo com a doença são mais peculiares. A chikungunya tem de mais característico a dor nas juntas, nas articulações. Na zika, o que é mais característico da doença é o exantema, que são as manchas vermelhas pelo corpo com muita coceira. Na dengue, tem a dor atrás dos olhos e o prurido (coceira), mas é mais leve que na zika. Mas não temos como diagnosticar apenas clinicamente, olhando o paciente. Só um exame para confirmar.

Vacina

Ouvi boatos de que a microcefalia é causada por vacinas aplicadas em gestantes. É verdade?

[e-s001]Sueli Oliveira, aposentada

Ana Cristina Saldanha - Isso é um mito mesmo. O primeiro boato em relação a isso foi que a vacina para rubéola aplicada em gestantes estaria causando a microcefalia nos bebês, mas isso não tem fundamento porque nem se vacina gestantes com rubéola porque essa é uma vacina com vírus vivos. Essa vacina não faz parte do calendário vacinal para gestantes no Brasil e esse calendário também não sofreu qualquer modificação recentemente no Brasil. Não há nada cientificamente comprovando essa relação. É preciso ter muito cuidado com esse tipo de boato que se espalham muito facilmente pelas redes sociais.

Prevalência

A minha principal dúvida é com relação a origem dessas três doenças.

[e-s001]Sandro Lima, assistente de planejamento

Ana Cristina Saldanha - Estas são doenças de países tropicais e normalmente são silvestres. Os mosquitos primeiramente se infectam em animais e depois começam a transmitir para seres humanos. No Brasil há uma prevalência alta dessas doenças por que as nossas condições climáticas, ambientais e sociais favorecem a proliferação do vetor. Então, o Aedes aegypti ele se multiplica de forma fácil no nosso clima.

Outras causas

Antes do zika vírus, quais eram as causas da microcefalia?

[e-s001]Rosário Pinheiro, autônoma

Ana Cristina Saldanha - Microcefalia é um defeito de formação no feto e pode ter causas genéticas, de má-formação, ou causas infecciosas por outras doenças, como a rubéola e outras doenças infecciosas contraídas durante a gestação. Doenças infecciosas associadas à má-formação fetal é algo que sempre existiu. Só que são doenças infecciosas que não têm a prevalência que nós temos hoje em dia do zika, que é transmitido por um mosquito que tem muita facilidade de proliferação. Além disso, essa doença atingiu uma população totalmente vulnerável.

Gravidez

Eu estou grávida de três meses. Por isso, tenho muitas preocupações em relação a estas doenças. As principais delas são em relação ao uso do repelente e até que período da gravidez há riscos para o bebê. Quais cuidados devo ter?

[e-s001]Antônia Andrade, técnica agropecuária

Ana Cristina Saldanha - Os cuidados que as gestantes precisam ter é, principalmente, para evitar a infecção, evitando criadouros dentro de casa, como água parada em vasos de plantas, pneus, jardins. O mosquito se reproduz em qualquer pequena quantidade de água. Com relação ao uso de repelentes é preciso observar a indicação do tempo de reposição e evitar se expor nos horários de maior pico do mosquito, ao amanhecer e entardecer. Se puder, usar roupas compridas para ter menos áreas expostas ao mosquito. Em qualquer momento da gestação o bebê pode ser afetado, mas o principal período em que pode haver consequências como a microcefalia é o primeiro trimestre. Após o risco de o vírus causar danos ao bebê vai caindo gradativamente.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.