Teatro

Obra de Antonio Callado sobre atores negros em nova edição

“A revolta da cachaça”, peça escrita em 1958 retrata a realidade de negros no teatro brasileiro da época

Atualizada em 11/10/2022 às 12h50

A dura realidade dos atores negros no Brasil é o tema central de “A revolta da cachaça”, peça escrita por Antonio Callado em 1958 e cujo texto retorna agora às livrarias em edição da José Olympio. Na trama, Vito, um dramaturgo, e Dadinha, sua esposa, recebem em casa a visita inesperada do amigo Ambrósio, que há anos busca uma oportunidade de destaque no mundo do teatro. O visitante tenta convencer seu anfitrião a terminar uma peça que lhe prometera. Por ser negro, Ambrósio acredita que só assim conseguirá deixar para trás os papéis secundários e subir aos palcos como protagonista. O encontro dos três personagens, regado à cachaça, faz com que revivam mágoas antigas, o que traz à tona uma série de questões relacionadas ao racismo e às diferenças sociais.

Callado decidiu escrever “A revolta da cachaça” depois de ver “Pedro Mico”, peça que inaugurou o seu “teatro negro”, ser encenada por atores brancos com o rosto pintado. A obra foi dedicada ao ator Grande Otelo, que deveria ter interpretado Ambrósio. O texto, entretanto, não chegou a ser montado na época em que foi escrito.

A publicação de “A revolta da cachaça” faz parte de um projeto da José Olympio de trazer de volta às livrarias, com novas capas e projetos gráficos, toda a obra de Callado. Primeiro, a editora relançou os romances do autor. No ano passado, com “Pedro Mico”, as peças começaram a integrar a coleção. Para ajudar os leitores a compreender o teatro de Callado dentro do contexto mais amplo de sua obra e da cena literária brasileira, os volumes trazem prefácio do professor João Cezar de Castro Rocha (Instituto de Letras da UERJ) e um perfil do autor escrito por Eric Nepomuceno.

“Em 1958, mantendo o impressionante ritmo de sua produção teatral, Callado escreveu ‘A revolta da cachaça’, terceira peça do ‘teatro negro’. Em alguma medida, ele aproveitou para acertar contas com o teatro brasileiro, num texto no qual se dão as mãos metalinguagem e recuperação da história”, afirma Castro Rocha. “O título da peça, aliás, alude à Revolta da Cachaça, sucedida no Rio de Janeiro de novembro de 1660 a abril do ano seguinte. O objetivo da rebelião era contestar o monopólio da produção do destilado e um de seus nomes mais destacados foi o do negro João de Angola. Mais uma vez, Callado recorre ao vaivém entre tempos históricos, oscilando da releitura do passado ao exame crítico do contemporâneo, cujos impasses são assim mais bem explicitados”.

Sobre Antonio Callado - Jornalista, romancista, biógrafo e teatrólogo, Antonio Callado nasceu em Niterói, em 1917. Colaborou com grandes jornais de sua época, como O Correio da Manhã e O Globo, além de ter sido redator da BBC de Londres e ter trabalhado no serviço brasileiro de Radio-Diffusion Française, em Paris. Chefiou o projeto da enciclopédia Barsa, publicada em 1963. Além da atividade jornalística, sua atuação literária destaca: “Quarup” (1967), “Bar Don Juan” (1971), “Reflexos do baile” (1976) e “Sempreviva” (1981), romance vencedor do Prêmio Goethe. No teatro, reuniu quatro de suas peças no volume “A Revolta da Cachaça”, de 1983.

Em 1985, recebeu pelo conjunto de sua obra o Prêmio Brasília de Literatura. No mesmo ano, a Embaixada da França em Brasília lhe concedeu a Medalha das Artes e das Letras. Em 1989, recebeu o troféu Juca Pato, da União Brasileira dos Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”. Em 1994, foi eleito à cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras.

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