ÁLBUM

O rock afiado na arte de ASSIS

Cantor, compositor e produtor musical Assis Medeiros lança terceiro álbum solo “Lamina” com forte pegada rock’n’roll; disco está disponível para streaming e será lançado em formato físico em fevereiro

Italo Stauffenberg/O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h51
Assis Medeiros lançou o disco Lamina
Assis Medeiros lançou o disco Lamina (Assis Medeiros)

O produtor musical, cantor, compositor, escritor e jornalista Assis Medeiros, nascido em Pernambuco, mas com passagens pela Paraíba, Maranhão e atualmente radicado em Brasília, acaba de lançar o terceiro disco solo da carreira. “Lamina” está disponível para streaming no SoundCloud e chegará às lojas em formato físico no mês de fevereiro. A distribuição será intermediada pela Tratore.

O álbum foi produzido no estúdio Ponto sem Nó, em Brasília, residência do artista. Ele traz 14 faixas. Todas compostas por Assis, exceto o blues “Aviso” - letra do poeta maranhense Celso Borges, e “Sombra Seca”, por Fernando Rodrigues e Marcos Guedes, que fazem parte da banda base do CD. Os arranjos de metais são do maestro Leonardo Batista. O disco ainda tem a participação da cantora Flora Lago em três canções, fotos de Adriana Lago e o projeto gráfico é assinado pelo fotógrafo Gustavo Gracindo.

“Lamina” (escrito sem acento para destacar a exclusividade da obra) é o álbum, na visão de Assis, com menos referência da cultura popular do Nordeste, apesar do sotaque marcante. Ele não traz um conceito específico, mas foi elaborado em torno do rock’n’roll, pop e experimental. “Ele [o álbum] trata de temas que me remetem à cena contemporânea do mundo. É um pouco pessimista e ao mesmo tempo libertador. Em termos musicais é um disco muito íntimo. Há canções longas e muitos improvisos (solos de guitarra, por exemplo). É como eu gosto de tocar ao vivo. Talvez seja o meu disco mais solto, livre... pra mim isso é ótimo, mas o mundo hoje anda muito elétrico, rápido. E sinto que falta um pouco de curiosidade nas pessoas hoje para escutar música (ou parar para escutar!)”, comentou.

Assis destaca que não obedece a um ritual para escrever suas músicas. “Compor é um processo que exige inspiração e técnica. Saber manipular as harmonias de uma forma ‘acadêmica’ é muito importante para estimular a criação e a inspiração. Às vezes é trabalho braçal também. Tem que tocar várias vezes, mudar.... até chegar a um ponto em que eu considere final”, disse.

Assis ainda comentou que o disco é recheado de letras fortes e cortantes, salvo algumas exceções. Três canções fazem parte do seu gosto pessoal. É o caso de “Sombra Seca”, “Um pouco de sol” e “Sempre será”, músicas que ele sempre toca em suas apresentações.

Maranhão

Estreitando os laços com o Maranhão, “Lamina” traz uma faixa escrita pelo poeta Celso Borges. “Conheço Celso desde a década de 1990 (quando morei aí). Eu participei do Livro/CD “Disco do Celso Borges”. Participei também do álbum em homenagem ao José Chagas (um projeto do Celso e do Zeca Baleiro). Ou seja, somos amigos e parceiros. Celso é uma voz de grande importância hoje na arte e cultura maranhense. Um homem inquieto e curioso (coisa rara!)”, frisou.

Apesar de ter residido em São Luís por apenas cinco anos, Assis completa que traz muito da cultura local em sua formação artística e ainda revela ter admiração por Josias Sobrinho. “Eu adoro a cultura e a música do Maranhão (para mim, uma das mais ricas do Brasil). Toquei muito tambor de crioula com mestre Felipe no Laborarte. Eu me considero como maranhense também. Para mim, um dos maiores compositores vivos hoje no Brasil é Josias Sobrinho. Como sou fã desse cara”, explicou.

Além de compor música popular, Assis Medeiros trabalha com trilha sonora original para cinema, televisão e teatro. Ele compôs a música original de um documentário sobre a vida do Mestre Vitalino, uma homenagem ao centenário de nascimento deste artista pernambucano notável (produção da TV Senado). É autor da trilha do filme “O jardineiro do tempo”, curta metragem em 35mim do cineasta brasiliense Mauro Giuntini. Com este trabalho ganhou o prêmio de melhor trilha original nos festivais de cinema de Recife (2002) e São Luís (2002).

Em 2001, conseguiu emplacar a música “Burro de Carga” no Rumos Itaú Cultural, interpretada pela banda Boca de Lobo (São Luís/MA) e gravada num dos CDs do projeto. Justamente a música que dá título ao seu primeiro disco, “Burrodecarga”. Seu segundo álbum, “Baiãozinho Nuar” foi gravado integralmente em João Pessoa. Em formato duplo, o disco tem arranjos de cordas e sopros do maestro Leonardo Batista.

Faixa a Faixa / por Assis

Sempre será

Essa música que nasceu a partir de um riff de guitarra em compasso 7/4. A letra expressa um sentimento de que a história é cíclica e de que no fundo, no fundo, tudo continua como sempre esteve.

Fogo

É o pop brega romântico do disco. Foi composta para uma cena do longa-metragem Cru, do brasiliense Jimi Figueiredo. É dançante e preguenta. Quem sabe até toque em algumas rádios brasileiras. Eu ficaria feliz, rssss.

Agora

Ufa, é uma música com melodia direta, redonda, mas com uma letra que mostra a cara cortante do disco. É emoldurada por um Ukelele e, claro, por solos de guitarra. Tem belos vocais da cantora Flora Lago.

Se você

Com seus metais intensos, esta canção é um desdobramento de outra canção do disco: Animal. Elas possuem harmonias parecidas e se encaixam bem uma na outra. Escute as duas, uma atrás da outra, e verás a identidade. Tem participação do guitarrista brasiliense José Flores.

Eu vou dizer

Uma música antiga que capta bem o clima do Brasil atual. Estava enterrada no meu arquivo de compositor e saltou como uma luva para este disco. “Esse Brasil é muito grande e apertado pra mim e pra você”. Tem participação no vocal de Gustavo Gracindo (que é o responsável também pela arte do disco).

Sombra seca

Adoro essa música. Ela tem pouca letra e muita viagem. Mistura compassos de 5/4 com 6/4. Tem belos vocais de Flora Lago e, pra variar, um monte de solos de guitarra. Tem ainda um solo de baixo. Ou seja é quase instrumental. Foi feita justamente num ensaio com meus comparsas Fernando Rodrigues e Marco Guedes. A letra fala da desesperança com o mundo contemporâneo.

A pluma e você

Fiz esta música em São Paulo, sob a pressão da cidade infinita. É uma canção que fala de dor, de álcool, de estar junto pelo amor e desamor. Letra pesada para uma melodia cândida. Com direito a uma intensa viagem instrumental no final.

Um pouco de sol

Essa é pra colar no seu ouvido. Eu faço apenas vocais. Quem canta mesmo é Flora Lago. Considero a música mais pop do disco, mais audível. Ela captura o ouvinte rapidamente. E apesar de ter a aspereza do disco, aponta para o otimismo: “e o sol pra incentivar o prazer. a gente quer paz e um pouco de sol pra cauterizar a dor”.

Animal

Percebeu? Animal é Lamina ao contrário. Tem um pesado naipe de metais e aponta para o otimismo: “tomara que o dia possa ser bem animal”. É pra dançar.

Largo

Aqui está a minha porção nordestina. O contrabaixo é comandado pelo maestro e arranjador paraibano Leonardo Batista (responsável também pelos arranjos de metais de todo o disco!). A principal influência aqui é do pernambucano Alceu Valença. Vai pra ele essa.

Tudo é pop

Uma ironia, uma brincadeira com a ideia de que o mundo busca sempre o caminho mais fácil do pop. Tem a minha sobrinha Eloisse (francesa/paraibana) falando no início junto com a minha mãe Elza. Tem uns amigos cantando e amigos falando. É uma farra de quase 6 minutos (é pra irritar mesmo! rsss).

Fugir por aí

Um rock tradicional, meio titãs, meio Assis, que retrata bem a vontade que todos nós temos de um belo dia desviar o caminho de casa e fugir por aí. Vamos fugir?

Aviso

Uma parceria com o poeta maranhense Celso Borges. Um blues muito gostoso que o próprio Borges “reclamou” de estar muito longo (5’26”). E por mim nem acabava, rsss. Dá vontade de ficar tocando isso por horas, só repetindo a harmonia como mantra. Acho o clima dessa música meio mágico. A batera é linda.

Lamina (animal ao contrário)

Sim, o título do disco vai para o final. Talvez seja a canção mais infantil e por isso mesmo o título. Por que complicar? “Num dia sem verbo e insano, num rumo quase deserto”. A bateria é tocada por Guiga Medeiros, o baixo por Leonardo Batista e a guitarra por Marcelo Macedo e eu.

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