A mensagem de David Bowie no clássico Heroes traduz a inquietação de um artista que declarou ter a “necessidade repulsiva de ser mais que humano”. Dotado de uma incrível genialidade e do poder de se reinventar, Bowie, falecido na segunda-feira,11, aos 69, vítima de câncer, demonstrou, ao longo da sua vida, sinais de que não era mesmo desse mundo.

Conhecido pelo clichê de camaleão do Rock, o cantor britânico, imortalizado na figura de personas como o andrógino Ziggy Stardust, o Major Tom, astronauta de "Ashes to Ashes", e o Thin White Duke, de “Station to Station”, foi um artista sem precedentes, que soube explorar a linguagem universal do rock para flertar com o Soul, o Jazz, o Funk, o Pop, e tantos outros gêneros.

No mesmo ano em que Bob Dylan, grande referência do artista, lança os versos de Song to Woody (1962), Bowie inicia sua carreira na banda Kon-rads, aos 15 anos. O primeiro disco veio em 1967. Já o reconhecimento, somente com Space Oddity, em 1969. Na década de 1960, Bowie transitou do mod ao rock. Com The Man Who Sold the World, em 1970, ele já era o astro do glam rock. É também nos anos 1970 que Bowie lança o aclamado Hunky Dory, considerado pela crítica um dos melhores discos do músico.

Em 1975, Bowie põe fim a Era Stardust e chega aos Estados Unidos com Young Americans. Em parceria com John Lennon, ele compõe “Fame”, com a qual alcança a primeira posição no ranking musical do país. O início dos anos 1980 é marcado pela trilogia de Berlim, como ficaram conhecidos os três discos de Bowie influenciados pela música eletrônica e experimental alemã, país para o qual ele se muda na época.
Low é o primeiro disco dessa fase, não por acaso, o título demonstra o lado sombrio do artista, que se recupera do uso de cocaína. Em 1983, ele lança Let's Dance, que marca a aproximação do músico com o pop rock e a new wave. Os anos 1971, 1975, 1977, 1980 e 1983 são mesmos os mais marcantes da vida de Bowie, como demonstra o documentário de Francias Whately, David Bowie Five Years, lançado em 2013.

Sétima Arte
Ao longo dos seus 69 anos, o roqueiro atuou também em muitos filmes. Estreou como protagonista em 1976, interpretando um humanóide em O Homem que Caiu na Terra, de Nicolas Roeg. Em 1988, Bowie é Pôncio Pilatos no filme A Última Tentação de Cristo, dirigido por Martin Scorcese. Ele também foi o soldado inglês Jack Celliers de Furyo - Em Nome da Honra (1983), de Nagisa Oshima. Viveu o vampiro John Blaylock em Fome de Viver (1983), de Tony Scott, o andrógino Jareth, rei dos goblins, em Labirinto - A magia do tempo (1986), e Andy Warhol em Basquiat - Traços de Uma Vida (1996).

As músicas de Bowie ainda eternizaram trilhas sonoras, com "Young Americans", ele deixa sua marca na primeira trilogia de Lars Von Trier: EUA. Terra de Oportunidades, inserida em Dogville (2003) e Manderlay (2005). Bowie foi autor de toda a trilha sonora de Christiane F. (1981), e interpreta ele mesmo cantando “Station to Station” no filme. Aparece em Bastados Inglórios (2009), de Quentin Tarantino, com “Cat People” e com “I’m Deranged” na cena de abertura de Estrada Perdida (1997), de David Lynch.
Com 26 álbuns de estúdio, nove discos ao vivo, muitos singles, e atuação em mais de 20 filmes, a artisticidade de Bowie atravessou gerações, e foi capaz de ser contemporânea em todas elas. Ele inspirou a moda, o design e a cultura pop em geral. Fez história. Com a mesma Heroes, Bowie também uniu o mundo, dividido pela Guerra Fria.

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