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Passasgem do tempo

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Atualizada em 11/10/2022 às 12h52

Prof Dr. Natalino Salgado Filho

Ao final de uma translação, somos levados a pensar em planos para o futuro que está ali na esquina. O clima das relações, das festas, dos encontros e saudações conspira para criar em cada um o sentimento de saudade do ano que finaliza, mesmo que 2015 tenha sido particularmente desafiador em muitas áreas e o país respire por aparelhos no quesito economia.

A saudade a que me refiro não considera as mazelas do ano, mas os momentos que foram vividos e estão registrados em nossa mente como história. Lembramos pessoas e momentos que nos acrescentaram algo que, independente do que tenha sido, nos ampliaram e alargaram as fronteiras da alma.

Nessa direção, proponho que, em vez de olharmos para o futuro, reservemos alguns instantes para pensar, não no passado, mas nas escolhas que fizemos. Elas definem este exato instante em que estamos. As escolhas modelaram nossos caminhos e criaram realidades que não estariam agora vivas em nossa memória. É como se fôssemos capazes de criar um mundo a cada escolha feita.

Esse olhar nos retro-eventos das escolhas, redesenham nossas expectativas para o futuro. Sinto esperança com o que há de vir por saber que as boas escolhas conduzirão a mim e aos que andam comigo pelo caminho do êxito. Não afirmo um poder divino em nós, apenas me lembro de que o Eterno nos concedeu a capacidade do livre arbítrio quando oferta os dois caminhos, como quando ensinava ao povo em meio à travessia do deserto que se atentassem para seu conselho, tudo lhes iria bem, não porém se olvidassem as palavras do Divino.

Os sábios de culturas tão velhas quanto à humanidade criaram mitos e metáforas para entender a passagem do tempo, seu fenômeno cíclico, mas nunca igual. Não um verão igual ao outro, nem primavera. O ouroboros, a figura do dragão ou da serpente que forma um círculo e devora a própria cauda simboliza o continuum da mudança, do nascimento e morte, o que renasce, o que se renova.

Nossa vida obedece a este circuito, mas o fato de voltar a um ponto de partida não se repete como uma coisa clichê. O mesmo sol que nasce cada dia varia em pequenos ângulos resultantes dos movimentos perpétuos da terra e da estrela. O novo ciclo translacional ao qual chamamos de ano, é uma oportunidade, ainda que nuvens escuras pairem sobre nós no mundo que chamamos real.

O ano se vai com muitas imagens tristes e fatos terríveis que comoveram o mundo ou geraram apenas medo e horror. É tudo tão instantâneo. Ainda o mal está pulsante e em ação e já fomos invadidos por suas cenas cruéis. Mas também o bem que vimos, nos ajudou a renovar a esperança. É com ela que nos animaremos outra vez a lançarmo-nos no mar bravio. Não, não naufragaremos, encontraremos o bom porto.

Que 2016 traga o sol da justiça sobre o Brasil e o Maranhão. Que vejamos a verdade imperar. Que alcancemos a paz. Que haja solidariedade entre nós e sejamos mais tolerantes. Se estendermos as mãos, se formos de mãos dadas como sugere o poeta, talvez não mudemos o mundo, mas faremos a diferença em nossa pequena aldeia.
E para brindar os leitores com um desejo poético de ano novo, recorro ao belo poema de Carlos Drummond de Andrade, “Fatiando o tempo”:
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente…”

do HU-UFMA

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