SÃO LUÍS – Nesse domingo (27), a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) divulgou um dado alarmante: mil mortes violentas intencionais já foram registradas na Região Metropolitana de São Luís (área que abrange a capital maranhense e as cidades de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa) somente em 2015. A SMDH fez um relatório sobre a violência na região, a partir do monitoramento dos veículos de comunicação e dos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-MA).
Leia também:
SL: cinco mortes violentas registradas de quinta a sexta-feira
Quatro homicídios dolosos registrados só nesse sábado na Grande Ilha
Jovem é executado a tiros no Novo Angelim, em São Luís
Fim de semana violento: segurança de lanchonete é assassinado em São Luís
“Diante deste quadro dramático, e levando em consideração que a maioria das ocorrências aconteceu em bairros da periferia, tendo como alvo a população pobre, considero serem fundamentais mudanças estruturais urgentes, que alterem o quadro de desigualdades”, avalia Joisiane Gamba, integrante do conselho diretor da SMDH.
Segundo a advogada, esse número representa quase três vítimas de mortes violentas por dia na Grande São Luís, sendo que a maior parte das ocorrências – mais de 77% – são homicídios dolosos. Também são contabilizados casos de latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídios decorrentes de intervenção policial, dentre outras situações.
Joisiane Gamba destaca, ainda, que dessas mortes, 20,8% são pessoas entre 10 a 19 anos. A defensora dos Direitos Humanos enfatiza também a função da sociedade em intervir, em trocar a tranquilidade de seus lares para buscar soluções para um quadro tão preocupante. “Todos nós estamos chamados a intervir (...) a deixarmos de nos proteger atrás dos muros, vendo nossa cidade se deteriorar, a nossa juventude ser morta e a população jovem e negra ser exterminada”, defende.
Ainda de acordo com a advogada, não apenas a sociedade, mas o governo também precisa agir. “O governo precisa deixar de gastar mais em aparato repressivo do que em educação, saúde, lazer, moradia e trabalho. Os agentes de segurança e justiça têm que parar de tratar o pobre como inimigo de Estado, humilhando nossas crianças e adolescentes, afastando-as cada vez mais das políticas públicas, e lhes apontando como alternativas o cárcere ou o cemitério”, critica.
Por fim, a representante da SMDH, sintetiza: “Basta! Violência se enfrenta com indignação, com reconhecimento de direitos, com distribuição de renda, com escola, com cidadania. Precisamos assumir a dor da nossa cidade, e tirá-la desse caos de sangue e horror em que a transformaram!”.
O pastor Ozéas de Araújo Ewerton Júnior, da Igreja Batista do Monte Castelo, também refletiu sobre a situação violência na ilha de São Luís: “A nossa sociedade vivencia um grande paradoxo, mesmo com todos os avanços econômicos, científicos e tecnológicos alcançados não se conseguiu dirimir significativamente os dilemas e problemas sociais. [A violência] já se tornou comum e banalizada. Não indigna, nem causa espanto. As estatísticas são aterrorizadoras. […] Todos, sociedade e governo, somos responsáveis em alguma medida por essa realidade cruel. Não é hora de acusarmos, é tempo de nos juntarmos, caso contrário o ódio, a dor, a desesperança e a morte continuarão dizimando vidas e famílias de nossa querida Ilha”.
Negros à margem?
Outra situação apontada pela SMDH é a posição da juventude negra em face à violência. O promotor de Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques, afirma que os dados demonstram que o poder público descumpre a lei que institui o Estatuto da Igualdade Racial:
“A juventude negra tem sido a maior vítima da violência letal. Isso demonstra que o poder público não cumpre a política de prevenção dessa forma de violação de direitos, como determina o Estatuto da Igualdade Racial. Para que [esta situação] não se torne um etnocídio, é preciso garantir a segurança cidadã, a viabilização de programas estaduais de proteção e o enfrentamento das questões criminógenas estruturantes. Fiscalizar os sistemas de Segurança e de Justiça em favor da dignidade humana, e não como mecanismo de dominação social, é o desafio da cidadania”, aponta o promotor.
Saiba Mais
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.