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Relatório da SMDH aponta mil mortes violentas na Grande São Luís em 2015

“A maioria das ocorrências aconteceu em bairros da periferia, tendo como alvo a população pobre”, destaca advogada

O Estado Online

Atualizada em 11/10/2022 às 12h52

SÃO LUÍS – Nesse domingo (27), a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) divulgou um dado alarmante: mil mortes violentas intencionais já foram registradas na Região Metropolitana de São Luís (área que abrange a capital maranhense e as cidades de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa) somente em 2015. A SMDH fez um relatório sobre a violência na região, a partir do monitoramento dos veículos de comunicação e dos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-MA).

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“Diante deste quadro dramático, e levando em consideração que a maioria das ocorrências aconteceu em bairros da periferia, tendo como alvo a população pobre, considero serem fundamentais mudanças estruturais urgentes, que alterem o quadro de desigualdades”, avalia Joisiane Gamba, integrante do conselho diretor da SMDH.

Segundo a advogada, esse número representa quase três vítimas de mortes violentas por dia na Grande São Luís, sendo que a maior parte das ocorrências – mais de 77% – são homicídios dolosos. Também são contabilizados casos de latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídios decorrentes de intervenção policial, dentre outras situações.

Joisiane Gamba destaca, ainda, que dessas mortes, 20,8% são pessoas entre 10 a 19 anos. A defensora dos Direitos Humanos enfatiza também a função da sociedade em intervir, em trocar a tranquilidade de seus lares para buscar soluções para um quadro tão preocupante. “Todos nós estamos chamados a intervir (...) a deixarmos de nos proteger atrás dos muros, vendo nossa cidade se deteriorar, a nossa juventude ser morta e a população jovem e negra ser exterminada”, defende.

Ainda de acordo com a advogada, não apenas a sociedade, mas o governo também precisa agir. “O governo precisa deixar de gastar mais em aparato repressivo do que em educação, saúde, lazer, moradia e trabalho. Os agentes de segurança e justiça têm que parar de tratar o pobre como inimigo de Estado, humilhando nossas crianças e adolescentes, afastando-as cada vez mais das políticas públicas, e lhes apontando como alternativas o cárcere ou o cemitério”, critica.

Por fim, a representante da SMDH, sintetiza: “Basta! Violência se enfrenta com indignação, com reconhecimento de direitos, com distribuição de renda, com escola, com cidadania. Precisamos assumir a dor da nossa cidade, e tirá-la desse caos de sangue e horror em que a transformaram!”.

O pastor Ozéas de Araújo Ewerton Júnior, da Igreja Batista do Monte Castelo, também refletiu sobre a situação violência na ilha de São Luís: “A nossa sociedade vivencia um grande paradoxo, mesmo com todos os avanços econômicos, científicos e tecnológicos alcançados não se conseguiu dirimir significativamente os dilemas e problemas sociais. [A violência] já se tornou comum e banalizada. Não indigna, nem causa espanto. As estatísticas são aterrorizadoras. […] Todos, sociedade e governo, somos responsáveis em alguma medida por essa realidade cruel. Não é hora de acusarmos, é tempo de nos juntarmos, caso contrário o ódio, a dor, a desesperança e a morte continuarão dizimando vidas e famílias de nossa querida Ilha”.

Negros à margem?

Outra situação apontada pela SMDH é a posição da juventude negra em face à violência. O promotor de Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques, afirma que os dados demonstram que o poder público descumpre a lei que institui o Estatuto da Igualdade Racial:

“A juventude negra tem sido a maior vítima da violência letal. Isso demonstra que o poder público não cumpre a política de prevenção dessa forma de violação de direitos, como determina o Estatuto da Igualdade Racial. Para que [esta situação] não se torne um etnocídio, é preciso garantir a segurança cidadã, a viabilização de programas estaduais de proteção e o enfrentamento das questões criminógenas estruturantes. Fiscalizar os sistemas de Segurança e de Justiça em favor da dignidade humana, e não como mecanismo de dominação social, é o desafio da cidadania”, aponta o promotor.

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