Terrorista

Terrorista de ataques em Paris foi rejeitado pelo Exército francês

Mohamed Aggad participou dos atentados que mataram 90 pessoas a turos na casa de shows Bataclan, em 13 de novembro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h52

Paris - Fued Mohamed Aggad, um dos três terroristas que mataram 90 pessoas a tiros na casa de shows Bataclan, em 13 de novembro, foi rejeitado pelo Exército e possivelmente também pela polícia da França antes que a facção terrorista Estado Islâmico o aceitasse como um de seus combatentes.

Após conduzir testes físicos e psicológicos, o serviço de recrutamento do Exército francês na cidade de Estrasburgo decidiu que Mohamed Aggad não era um candidato viável às Forçar Armadas do país.

A identidade de Mohamed Aggad só foi revelada na quarta,9, por conta de uma mensagem de texto recebida pela mãe dele, Fatima. A mensagem veio da mulher de Mohamed Aggad, Hadjira, que está na Síria, e informava Fatima de que o mais jovem de seus quatro filhos havia morrido "com seus irmãos" em 13 de novembro, noite dos ataques.

Temendo o pior, e já tendo seu filho mais velho na prisão por suspeita de elos com o terrorismo, Fatima, nascida no Marrocos, procurou o advogado da família.

Testes de DNA

Depois de testes de DNA, emergiu nesta semana o perfil de mais um jovem radicalizado, de ainda outra parte da França, que se uniu aos demais extremistas oriundos da França e da Bélgica já identificadoscomo responsáveis pela morte de 130 pessoas, na casa de shows Bataclan e em outras partes de Paris.

Mohamed Aggad foi para a Síria em 2013, e, embora sua viagem não fosse segredo na pequena cidade de Wissembourg, no nordeste da França, onde vivia, a comunidade local se surpreendeu ao ser saber sobre a participação dele nos atentados.

"Não consigo acreditar", disse Yazar Mesut, 46, que foi vizinho de Mohamed Aggad. "Ele era um sujeito inteligente e educado, mantinha sempre o respeito e não agia como um fanfarrão".

De acordo com outro vizinho, que disse se chamar Youssef, o jovem foi reprovado por apenas alguns pontos no exame de admissão à polícia e também havia sido rejeitado pelo Exército. "Foi a única vez que o vi desapontado. Ele estava se queixando, e acreditava ter sido rejeitado por conta de suas origens estrangeiras", disse Youssef.

Perfil inadequado

Uma representante do centro de recrutamento militar do Exército em Estrasburgo confirmou que Mohamed Aggad havia tentado sem sucesso se alistar, em 2010.

"Temos filtros. Consideramos a personalidade e conduzimos testes físicos e psicológicos. O candidato precisa ser saudável e viável para o Exército", declarou a tenente-coronel Sophie Caussel, porta-voz do serviço de recrutamento.

"No caso, o identificamos como inadequado para uma carreira como soldado e para portar armas. Decidimos que ele não poderia seguir adiante no processo de recrutamento", disse.

A maior parte dos aspirantes a uma carreira nas Forças Armadas francesas é rejeitada. Neste ano, por exemplo, apenas 15 mil pessoas serão recrutadas para o Exército francês, das 160 mil inscritas até o momento, de acordo com números oficiais. Segundo as autoridades, foi registrado um grande salto no número de alistamentos depois dos ataques de 13 de novembro.

A polícia não confirma nem nega a tentativa de alistamento de Mohamed Aggad. Um representante mencionou as normas de confidencialidade associadas ao inquérito sobre os atentados de 13 de novembro como motivo para o sigilo.

Mohamed Aggad tinha 23 anos quando morreu. De acordo com uma fonte judicial, ele também estava sendo investigado por conexões com Mourad Fares, francês de origem marroquina suspeito de ser um importante recrutador para extremistas nas cidades de Toulouse e Estrasburgo. Fares está preso na França, depois de ter sido detido na Turquia no ano passado.

Orando sozinho

Christian Mahler vivia em um apartamento no mesmo andar em que a família de Mohamed Aggad morou por algum tempo, em um edifício perto da estação ferroviária de Wissembourg; a família destoava dos demais moradores, quase todos de origem europeia.

Durante o período, de acordo com Mahler, a mãe de Mohamed Aggad se via frequentemente tendo de pedir desculpas a vizinhos pelo barulho que seus filhos faziam, socando as paredes do apartamento.

Can Yakup, presidente de um centro cultural turco que teria sido visitado "uma ou duas vezes" por Mohamed Aggad, acredita ter testemunhado uma mudança no comportamento do jovem.

"Da última vez que ele veio, eu o mandei embora porque ele queria orar sozinho", disse Yakup. "Era como se, para ele, nós não fôssemos muçulmanos suficientemente bons".

Partida

De acordo com fontes policiais e moradores locais, Mohamed Aggad e seu irmão Karim, 25, viajaram para a Síria no final de 2013.

Dois amigos deles em Wissembourg e cinco outros jovens de Meinau, subúrbio da vizinha Estrasburgo, os acompanharam.

Um dos integrantes do contingente de Wissembourg não foi muito longe; seus pais o interceptaram no aeroporto de Frankfurt. Outros retornaram alguns meses mais tarde, em 2014, dizendo ter participado de uma missão humanitária. Em maio daquele ano, sete foram detidos, entre os quais Karim. Eles continuam na prisão.

Fontes judiciais dizem que a Promotoria parisiense solicitou, em 9 de outubro, a abertura de um processo contra eles por acusações relacionadas a terrorismo, o que poderia lhes valer sentenças de até dez anos de prisão. Os acusados podem ser levados a julgamento em 2016.

Terroristas

As autoridades ainda não identificaram nominalmente todos os terroristas envolvidos nos ataques de novembro, pelos quais o Estado Islâmico reivindicou responsabilidade. Não está claro quando Mohamed Aggad voltou à França.

Os outros dois terroristas envolvidos no atentado contra a casa de shows foram identificados como Samy Amimour, 28, antigo motorista de ônibus em Drancy, a nordeste de Paris; e Ismail Omar Mostefai, 29, francês de ascendência argelina que viveu por algum tempo em Chartres, a sudoeste de Paris.

Amimour também passou algum tempo na Síria, assim como o suposto líder dos ataques, Abdelhamid Abaaoud, 28, belga de origem marroquina que morreu em confronto com a polícia na semana posterior aos atentados.

Brahim Abdeslam, 31, que se suicidou em uma explosão depois de tomar parte de ataques contra cafés e restaurantes, era cidadão francês, embora nascido e criado em Bruxelas.

Bilal Hadfi, 20, um dos três homens-bomba que morreram nas cercanias do Stade de France, abandonou a escola em 2014 para viajar à Síria. Outro suspeito de participação nos ataques, Salah Abdeslam, 26, também francês embora nascido em Bruxelas, continua foragido.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.