Sem explicação

Assassinatos de blogueiros ainda não foram elucidados

De acordo com a polícia civil, só há indícios de identificação de autoria no caso da morte de Ítalo Diniz

Thiago Bastos / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53
Ítalo Diniz era blogueiro e já havia registrado na polícia que estava recebendo ameaças; Roberto Lano trabalhava em campanhas políticas
Ítalo Diniz era blogueiro e já havia registrado na polícia que estava recebendo ameaças; Roberto Lano trabalhava em campanhas políticas (Italo Diniz e Roberto Lano)

SÃO LUÍS - Sem explicações. Esta é a con­clusão preliminar da Polícia Civil do Maranhão, que, até o momento, ainda não elucidou as mortes dos blogueiros Ítalo Diniz Barros, de 30 anos, assassinado dia 13 deste mês, na cidade de Governador Nunes Freire, e de Orislândio Timóteo Araújo (conhecido por Roberto Lano), de 37 anos, assassinado no município de Buriticupu, dia 21 de outubro deste ano. Segundo a polícia, há indícios de identificação de autoria somente no caso de Ítalo Diniz.

Entrevistado por O Estado, o delegado titular da Superintendência de Homicídios da Polícia Civil do Maranhão, Leonardo Diniz, informou que os casos continuam sendo apurados. Ele informou ainda que são crimes de difícil elucidação, pela falta de informações de terceiros que possam, inclusive, levar aos suspeitos.

O delegado Leonardo Diniz disse também que, até o momen­to, não há prazo para desfecho dos casos (que inicialmente deverão ter as causas divulgadas em até 30 dias) e que, até a próxima semana, novas informações sobre os crimes deverão ser divulgadas. Ele confirmou a O Estado que há equipes em campo nas cidades de Buriticupu e Governador Nunes Freire (com o apoio da Superintendência da Polícia Civil do Interior) para apurar os casos.

O titular da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), Thiago Bardal, disse semana passada acreditar que os assassinatos dos blogueiros estão diretamente ligados a grupos políticos. “Esses crimes são para intimidar, com certeza. Nós iniciamos investigações após denúncias e, como a polícia do Maranhão vem cada vez mais fechando o cerco contra criminosos, principalmente nas cidades do interior, a quantidade desses crimes começou a aumentar”, disse.
Caso Ítalo Diniz

O titular da Delegacia de Homicídios, Guilherme Sousa Filho, que tem responsabilidade direta pela apuração da morte de Ítalo Diniz, disse que existem quatro linhas diretas de investigação, entre elas a de que o crime tenha sido motivado por desentendimentos políticos.

Ele informou ainda que o blogueiro já havia registrado denúncia à polícia por ameaças feitas por políticos da região. “Esses documentos estão sob a responsabilidade do Instituto de Criminalística”, disse. O delegado afirmou ainda que há uma distância temporal considerável entre o registro das ocorrências de ameaças e a data do crime. “Mesmo assim, são documentos importantes na investigação”, assegurou.

O delegado disse ainda que familiares de Ítalo Diniz já foram ouvidos. “Até para se saber quais vínculo havia entre a vítima e outras pessoas. Isso pode trazer um caminho para a polícia”, disse. “Pela lei, temos até 30 dias para a resolução do caso, no entanto, como se trata de um crime complexo, creio que esse prazo deverá ser ampliado. Trata-se de um crime complexo e de difícil resolução”, disse Guilherme Sousa Filho.

Relembre
De acordo com as primeiras informações da polícia, Roberto Lano foi atingido por tiros disparados por um suspeito, em uma motocicleta, e morreu ainda no local do crime, em Buriticupu. Segundo testemunhas, o autor fugiu logo em seguida. A polícia confirmou que Roberto Lano estava em uma motocicleta com a esposa dele quando foi interceptado pelo criminoso.

No dia do crime, a Polícia Militar do Maranhão esteve no local e realizou buscas pelo suspeito, mas ninguém foi encontrado. Além de blogueiro, Roberto Lano era conhecido na cidade de Buriticupu por trabalhar em campanhas políticas locais e promover eventos, especialmente na Região Tocantina.

As características do assassinato de Roberto Lano se assemelham às de Ítalo Diniz, que foi morto por dois homens que estavam em uma mo­to, efetuaram os disparos e fugiram. Mesmo tendo sido levado para o hospital da região, o blogueiro morreu logo em seguida.

No perfil de seu blog, Ítalo Diniz – além de destacar o início de sua página (que teria sido ativada dia 3 de julho de 2011) – também afirmou (sem citar nomes) que a página serviria para “desvendar muitos desmandos da atual administração” da cidade de Governador Nunes Freire.

Repercussão
Os casos das mortes dos blogueiros Ítalo Diniz e Roberto Lano repercutiram nacionalmente, dada a preocupação de entidades de defesa dos direitos humanos e sociais com a liberdade de imprensa e ameaças contra a vida, além de associações ligadas a jornais, organizações não-governamentais e outras entidades.

A organização com ramificações internacionais Article 19, que realiza atividades de acesso à informação no Brasil desde 2005, definiu os assassinatos como os de um “cenário hostil à liberdade de expressão”. De acordo com a organização, essa seria a situação atual do Maranhão que apresentou, ao Brasil e ao mundo, a morte de dois profissionais da informação em um intervalo de oito dias. Outra entidade que se pronunciou sobre os casos foi a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que defende a liberdade de expressão, de pensamento e propaganda. Representantes da ANJ buscaram contato com a redação de O Estado, no intuito de saber outras informações sobre os assassinatos dos blogueiros.

Segundo a direção da entidade, devido ao caso, um relatório sobre a liberdade de imprensa no país está em fase de elaboração, para chamar a atenção sobre a falta de proteção ao exercício do trabalho dos jornalistas e demais profissionais de imprensa no país

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