Barreira

Centro de São Luís tem sérios problemas de acessibilidade

Pessoas com dificuldades de locomoção enfrentam transtornos diários em logradouros públicos e nos coletivos; muitas vezes, elas precisam da ajuda para superar essas barreiras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53

[e-s001]Sob o sol escaldante do meio-dia, ontem, Alritonio Ferreira se esforçava para subir a Rua Oswaldo Cruz, no Canto da Fabril, em sua cadeira de rodas. Dividindo o espaço da pista com os veículos que trafegavam em alta velocidade, ele seguia o seu caminho, até que encontrou um motorista que se solidarizou com a situação e o levou até o bairro Anjo da Guarda, onde mora.

No rosto de Alritonio Ferreira havia o sorriso como forma de agradecimento ao gesto do indivíduo que acabara de conhecer, sorriso esse que desaparece todas as vezes em que ele se lembra das dificuldades que enfrenta diariamente, por causa da falta de acessibilidade no centro da capital ma­ranhense.

Se para as pessoas que não têm deficiência andar pelas ruas do centro de São Luís já é uma dificuldade por causa de buracos e outros empecilhos, imagine então para aquelas que precisam de muletas ou cadeiras de rodas para se locomover, como é o caso de Alritonio Ferreira. Transtornos maiores passam os deficientes visuais, que não têm um dos sentidos mais importantes para a percepção do mundo exterior.

[e-s001]Transtornos
Os momentos difíceis vividos on­tem por Alritonio Ferreira parecem cenas de filme. O pior é que nem todas as pessoas com deficiência na cidade têm a mesma sorte que ele teve, de encontrar uma pessoa que o ajudasse a superar os empecilhos causados pela falta de acessibilidade em São Luís.

Por força da lei, diversos órgãos públicos da cidade estão adaptados para receber as pessoas com deficiência, disponibilizando ram­pas, pisos táteis e outros mecanismos que facilitem o acesso desse público.

Essas melhorias foram importantes, contudo seriam necessárias que muito mais fosse colocado em prática para suprir as necessidades das pessoas com dificuldades de locomoção. Algumas praças ainda não dispõem da rampa para cadeirantes e nem todos os ônibus do sistema de transporte coletivo da cidade têm o elevador para deficientes. Para piorar a situação, há vários ônibus em que esse elevador está quebrado.

“Os problemas são muitos, seja nos ônibus ou nas ruas, que estão cheias de buracos. É muito difícil andar por aí por causa dos obstáculos. O transtorno é muito gran­de e passo por isso diariamente”, disse Alritonio Ferreira.

Na manhã de ontem, ele subia a Rua Oswaldo Cruz em direção à Praça Deodoro, onde iria pegar um ônibus com destino ao bairro Anjo da Guarda. Mas em seu caminho apareceu o auxiliar de contabilidade Zeca Marinho, que o levou generosamente para casa. “Eu estava subindo essa ladeira quando resolvi perguntar se ele não queria ajuda. Ele disse que estava indo para o Anjo da Guarda e eu estou indo para a Vila Embra­tel deixar a minha filha na casa da avó”, disse.

Outro caso
Na quarta-feira, dia 25, Josivaldo Cordeiro estava na Praça Deodoro e também relatou à O Estado as dificuldades que enfrenta diariamente por causa da falta de acessibilidade.

“Muitos dos ônibus estão com o elevador para cadeirante quebrado. As paradas de ônibus também não têm as rampas de acesso. E ainda tem as ruas, que estão cheias de buracos. Eu, que sou cadeirante, sofro na pele diariamen­te as consequências dessas situações. Sou um ser humano e um ci­dadão como qualquer outro. Tenho os meus direitos”, desabafou.

Ação
A falta de acessibilidade é hoje a principal barreira enfrentada diariamente pelos deficientes físicos na cidade, principalmente aqueles que têm dificuldade de locomoção. Seja em órgãos públicos ou privados, as pessoas com deficiência têm dificuldades de aces­so, uma vez que muitos não têm rampa, elevadores e outras adaptações que facilitem sua entrada e saída.

Para reverter essa situação, o Ministério Público, por meio da Promotoria de Justiça Especializada na Defesa da Pessoa com Deficiência, moveu ações contra Prefeitura de São Luís com o intuito de garantir a acessibilidade desse público nas vias e nos prédios que são sede de órgãos de responsabilidade do Município.

A Prefeitura de São Luís informou, em nota, que várias praças na capital estão passando por reformas, que incluem espaços pa­ra o convívio família e reforça que possuem rampa de acessibilidade. A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) informou também que a atual frota da capital possui cerca de 78% dos ônibus adaptados com elevadores e que todos passam por vistorias periódicas, nas quais são verificadas as condições de segurança e manutenção.

A SMTT ressaltou que, ao detectar um ônibus com defeito no elevador ou sem elevador, o usuário deve verificar a linha (se é local ou intermunicipal), o número do ônibus e a empresa para logo em seguida informar à SMTT pelo nú­mero 156. Com o atual processo de licitação do sistema de transporte, todo o sistema municipal será adaptado.

PLANO NACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

São Luís é um dos municípios maranhenses que já aderiram ao Plano Nacional da Pessoa com Deficiência "Viver sem limites". O plano é uma ação proposta pelo Governo Federal para que os estados e municípios expandam as políticas públicas para essa parcela da população, centrada em quatro eixos: acesso à educação, inclusão social, atenção à saúde e acessibilidade. Porém, o que se observa na cidade é a falta de aplicação dessas políticas, pois as pessoas com deficiências ainda são prejudicadas diariamente por causa da falta de acessibilidade nos locais públicos.

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