Filhos do mesmo Deus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53

O Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 deste ano foi coberto por uma sombra. Não, nada a ver com a chuva – que em Interlagos “vem da represa”, como todos os locutores das corridas acontecidas no autódromo brasileiro cansaram-se de repetir ao longo do domingo.

Não. A “sombra” a que nos referimos é a da tristeza. Do pesar. Manifestados pelos minutos de silêncio nas partidas da Série B do Campeonato Brasileiro. Mais uma vez, o terrorismo deu as cartas. Onde a alegria do esporte deveria prevalecer, o luto e o medo acabaram vencendo.

Sexta-feira, 13 de novembro de 2015. O “11 de setembro” francês. Quando achávamos que a loucura ficaria circunscrita aos horrores cometidos no caso “Charlie Hebdo”, os monstros dizem ao mundo que sempre se pode ir mais baixo – ou mais alto – na escala do morticínio. Do genocídio. Da depravação.

No pódio brasileiro, nada de uma alegria mais exuberante, por assim dizer. Os gestos dos três primeiros colocados – Rosberg, Hamilton e Vettel – eram comedidos. Discretos. Não podiam ter sido diferentes, imagino. Por causa da sombra. Da loucura. De pessoas que fazem do assassinato de inocentes uma espécie de mensagem macabra: “É só o começo. Mais desse inferno está por vir. Esperem... Melhor: paguem para ver”.

O grande problema não é esse. “Não é pagar para ver”. É a gente não saber de onde vai partir o próximo massacre. O número de mortos em Paris poderia ter sido maior. As explosões ocorridas no entorno do Stade de France – por exemplo no portão J, onde três inocentes morreram – poderiam ter acontecido dentro do palco em que a França derrotou a atual campeã do mundo, a Alemanha. Havia mais ou menos 80 mil pessoas no estádio. Quantas vidas mais poderiam ter sido ceifadas se a segurança do estádio não tivesse sido eficiente?

Lass Diarra estava no Stade de France. Para quem não sabe, ele é volante da seleção francesa. E dos bons. Encarou de igual para igual os craques germânicos e se deu bem. Até as explosões. Até os atentados. Até 120 vidas se apagarem como a chama de uma vela perante a mais forte das tempestades.

“Somos filhos do mesmo Deus”, disse Diarra pouco depois de saber que sua prima fora uma das vítimas de um fundamentalismo que prega o extermínio de gente que não tem nada a ver com a história apenas para provar um ponto de vista. Para mostrar que é pela violência e pelo morticínio que o mundo pode fazer sentido. Que eles podem ter razão.

E tem dado certo. Os números não deixam mentir.

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