Pesquisa

Estudo enfoca empatia entre humanos e robôs

Após simular situações de dor em mãos humanas e robóticas, cientistas japoneses mostram que a mesma área da compaixão no cérebro é ativada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h53
Simulações  em mãos humanas e robóticas
Simulações em mãos humanas e robóticas (robótica)

Rio de Janeiro - Observar uma faca com o lado serrilhado sobre o dedo de uma pessoa, na iminência de cortá-lo, faz a esmagadora maioria dos seres humanos virarem os olhos e fazerem uma careta involuntária de angústia. Se, no lugar da pessoa, entrar um robô, prestes a perder seu dedo, a reação continua a mesma? De acordo com um estudo publicado na terça-feira, 3, na Nature Scientific Reports, sim.

Conduzida por cientistas do Japão, país em que o uso de máquinas robóticas na vida cotidiana é intenso, a pesquisa traz a primeira evidência neurofisiológica de que humanos conseguem sentir empatia por robôs. Isso significa que o mesmo instinto que nos faz querer preservar nossos semelhantes pode ser estendido a máquinas.

Pesquisa - Tal ideia serviu de premissa para filmes como “O homem bicentenário” - em que há até mesmo uma relação amorosa entre mulher e robô - e nunca havia sido comprovada cientificamente até agora. O feito da Universidade Toyohashi de Tecnologia, em parceria com a Universidade de Kioto, foi alcançado com a ajuda de eletroencefalogramas de indivíduos saudáveis expostos a testes. Em alguns deles, os participantes precisaram observar imagens de outras pessoas em situações de sofrimento, como a per­da de um dedo, e em situações de normalidade. Assim, foi possível determinar as mudanças que ocorrem no cérebro ao se ativar o “modo empatia”.

O mesmo teste foi repetido, desta vez substituindo-se seres humanos por robôs, e novos eletroencefalogramas revelaram que os cérebros dos participantes responderam de forma bem parecida. Só existe diferença no início do processo de empatia, segundo os pesquisadores. Quando se vê um ser humano possivelmente com dor, a reação é mais imediata do que quando se observa um robô. No entanto, o final do processo empático se mostrou igual: depois de pouquíssimo tempo de observação, a carga de empatia passa a ter a mesma intensidade, tanto em relação a humanos quanto a robôs.

“A fase inicial parece estar relacionada a uma tomada de perspectiva”, explicou na divulgação do estudo o professor Michiteru Kitazaki, do Departamento de Ciência da Informação e Engenharia da Universidade Toyohashi de Tecnologia.

Máquinas amigáveis
A dificuldade do ser humano de assumir a perspectiva de um robô faz com que o início do processo de empatia seja mais fraco, consideram os pesquisadores. Mas isso não impede que, no final das contas, ela exista. Os cientistas japoneses esperam que o estudo contribua para o entendimento de quais fatores nos levam a nos sentir mais próximos dessas máquinas. O objetivo é usar esse conhecimento para construir robôs cada vez mais “amigáveis” no dia a dia.

Característica única do ser humano, a capacidade de sentir empatia por meio de ideias abstratas simbólicas é considerada a origem evolutiva mais primitiva da moralidade e do altruísmo.

Causa é a necessidade de viver em sociedade

De acordo com Marco Antonio Meggiolaro, doutor em robótica, cada pessoa tem um nível diferente de empatia, mas, como a busca por relacionamento faz parte da necessidade de viver bem em sociedade, a evolução tem nos tornado mais propensos a nos afeiçoarmos a objetos inanimados.

“O ser humano é muito adaptável e geneticamente programado, por exemplo, para detectar rostos em qualquer coisa: em nuvens, carros, bolsas. Isso nos torna capazes de sentir algum tipo de afeto por quase qualquer coisa. Por isso, nem é preciso que o robô seja semelhante a nós”, afirma. No caso do estudo, foram usadas mãos de for­mas parecidas com as humanas.

“Mas a sensação de empatia também pode ser construída pelo contexto. Se formos apresentados a uma máquina que tenha um nome, um ‘passado’, podemos ter compaixão por ela mesmo que ela não seja um humanoide”, completa Marco Antonio, que coordena a área de Robótica do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio.

O estudo não especifica se os testes foram feitos apenas com japoneses, o que poderia influenciar na empatia, já que aquela sociedade é fortemente ligada a robôs.

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