Leishmaniose

11 óbitos por calazar foram registrados na Grande São Luís

Um dos últimos casos aconteceu na semana passada, quando um servidor da Secretaria Estadual de Saúde morreu vítima da doença; este ano, 44 casos já foram notificados na capital

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h53
Animais que  vivem na rua são principais alvo de mosquitos-palha
Animais que vivem na rua são principais alvo de mosquitos-palha (Cães)

Os casos de mortes provocadas pela Leish­ma­niose Visceral (também conhecida como calazar) estão aumentando em São Luís, o que tem preocupado as autoridades públicas. Este ano, 11 pessoas já morreram víti­mas da doença na região metropolitana, média de um óbito por mês na cidade.

Em todo o ano passado, apenas uma morte por calazar foi confirmada na capital maranhen­se. Em todo o Maranhão, os dados da secretaria mostram que, de janeiro a agosto deste ano, foram registrados 34 óbitos de pessoas que foram acometidas pela doença. Em 2014, a quantidade de mortes foi de 22.

Conforme mostram os dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), de janeiro a agosto deste ano foram registradas 10 mortes na capital maranhense por causa da doença. O último caso ainda não entrou na estatística oficial da SES, porque foi registrado no dia 22 deste mês e teve como vítima um servidor da própria secre­taria, Manoel Soares Lopes.

Ele estava internado no Hospital do Servidor Público Estadual (HSLZ) desde o dia 28 de setembro, apresentando quadro de febre, cefaleia, dores musculares e nas articulações, antes da internação. Em uma semana, o qua­dro do paciente piorou, hou­ve a hipótese diagnóstica de calazar e solicitação de vários exames laboratoriais e de imagem para elucidação do quadro, ten­do-se iniciado tratamento para a pneumonia e o calazar. Contudo, a situação clínica agravou-se e ele faleceu no último dia 22.

Evolução
Ao longo do ano, a quantidade de mortes causadas pela doença es­tá aumentando, não apenas em São Luís, mas em todo o Maranhão. Esse aumento deve-se prin­cipalmente à migração do mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis) da zona rural para a zona urbana que, por sua vez, é causada pelo crescente desmatamento das áreas verdes.

De acordo com Daniel Saraiva, chefe do Departamento de Controle de Zoonoses da SES, a demora no tratamento e no diagnóstico da doença é o principal fator que leva o paciente à morte pela doen­ça. “Quan­­­do a pessoa procura o atendimento, já pode ser tarde. À medida que não há o tratamento, a doença se agrava e pode levar a morte”, dis­se.

Ele afirmou também que as crianças são as que mais morrem vítimas da doença, uma vez que elas têm o organismo mais frágil e menos imune, se comparado com um adulto. Ainda segundo ele, é necessária maior conscien­tização dos órgãos e das pessoas, para que o problema seja tratado como deveria, principalmente no que diz respeito ao combate no mosquito-palha, que é o transmissor da doença.

Notificações - A quantidade de casos de pessoas diagnosticadas com a doença também vem aumentando nos últimos anos na cidade. Em 2010, foram notificados 21 casos e em 2011 esse número subiu para 25. No ano de 2012, houve uma redução em relação ao ano anterior, para 18 casos. Porém, em 2013, foi registrada uma elevação e, nesse ano, 52 casos de calazar em pessoas foram confirmados. No ano passado, foram registrados 93 casos – o maior quantitativo até o momento – e, de janeiro a agosto deste ano, foram 44. Desses, 10 pessoas faleceram.

Em nível estadual, em 2010 a SES notificou 413 casos de Leishmaniose Visceral e no ano seguinte esse quantitativo subiu para 475 casos. Em 2012, houve uma redução para 279 casos notificados. Em 2013, foram 627; em 2014, 746 casos; e, de janeiro a agosto deste ano, já foram registrados 273 casos doença em todo o Maranhão.

Doença - A Leishmaniose Visceral é uma doença transmitida pelo mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis), que, ao picar, introduz na circulação do hospedeiro o protozoário Leishmania chagasi. Ela é uma doença sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia, adinamia e anemia, entre outras manifestações. Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.

Embora alguns canídeos (raposas e cães), roedores, edentados (tamanduás e preguiças) e equídeos possam ser reservatório do protozoário e fonte de infecção para os vetores, nos centros urbanos a transmissão se torna potencialmente perigosa por causa do grande número de cachorros, que adquirem a infecção e desenvolvem um quadro clínico semelhante ao do ho­mem.

A doença não é contagiosa, nem se transmite diretamente de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, nem dos animais para as pessoas. A transmissão do parasita ocorre apenas por meio da picada do mosquito fêmea infectado.

O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações que podem pôr em risco a vida do paciente. Além dos sinais clínicos, existem exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico. Entre eles destacam-se os testes sorológicos (Elisa e reação de imunofluorescência), e de punção da medula óssea para detectar a presença do parasita e de anticorpos. É de extrema importância estabelecer o diagnóstico diferencial, porque os sintomas da leishmaniose visceral são mui­to parecidos com os da malária, esquistossomose, Doença de Chagas, febre tifoide, etc.

Ainda não foi desenvolvida uma vacina contra a Leishmaniose Visceral, que pode ser curada nos homens, mas não nos animais. Os antimoniais pentavalentes, por via endovenosa, são as drogas mais indicadas para o tratamento da leishmaniose, ape­­sar dos efeitos colaterais adversos.

Em segundo lugar, está a anfotericina B, cujo inconveniente maior é o alto preço. Uma nova droga, a miltefosina, por via oral, tem-se mostrado eficaz no tratamento dessa moléstia. A regressão dos sintomas é sinal de que a doença foi pelo menos controlada, uma vez que pode voltar até seis meses depois de terminado o tratamento.

Para combater a doença, é essencial o apoio da população, no que diz respeito à higiene ambiental (manejo ambiental). É re­comendada a limpeza periódica dos quintais, por meio da retirada da matéria orgânica em decomposição (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo) e destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir o desenvolvimento das formas imaturas dos flebotomíneos; a limpeza dos abrigos de animais domésticos; bem como a manutenção de animais domésticos distantes do domicílio, especialmente durante a noite, de modo a reduzir a atração dos flebotomíneos para o intradomicílio.

Outra forma de controle do inseto transmissor é por meio do uso de inseticida (aplicado nas paredes de domicílios e abrigos de animais). Porém, a sua indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos, como municípios de transmissão intensa, moderada ou em surto de leishmaniose.

LEISHMANIOSE
A Leishmaniose pode ser do tipo tegumentar americana (LTA) ou visceral (LV) e a última é a forma mais grave da doença, pois causa sérias lesões nas vísceras, no fígado e no baço, que podem levar à morte se não for feito o tratamento adequado. Ela era, primariamente, uma zoonose caracterizada como doença de caráter eminentemente rural, mas recentemente vem se expandindo para áreas urbanas de médio e grande porte. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a Leishmaniose Visceral é endêmica em 76 países e, no continente americano, está descrita em pelo menos 12. Dos casos registrados na América Latina, 90%
ocorrem no Brasil. A doença vem sendo descrita em vários municípios brasileiros, apresentando mudanças importantes no padrão de transmissão, inicialmente predominando em ambientes silvestres e rurais e mais recentemente em
centros urbanos.

ÓBITOS
São Luís

2015 – 10 óbitos (janeiro a agosto)
2014 – 1 óbito
Maranhão
2015 (janeiro a agosto) – 34 óbitos
2014 – 22 óbitos
Casos notificados de calazar
São Luís

2010 – 21 casos
2011 – 25 casos
2012 – 18 casos
2013 – 52 casos
2014 – 93 casos
2015 (janeiro a agosto) – 44 casos
Maranhão
2010 – 413 casos
2011 – 4775 casos
2012 – 279 casos
2013 – 627 casos
2014 – 746 casos
2015 (janeiro a agosto) – 273 casos

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