Roda Viva

Outubro de 1965 e 2014: as eleições de Sarney e de Flávio.

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

Outubro é um mês emblemático para os maranhenses. Nele, o registro de duas eleições importantes ao governo do Maranhão: do jovem, de 35 anos, José Sarney, e do advogado, de 46 anos, Flávio Dino. A de Sarney ocorreu a 3 de outubro de 1965, há 50 anos; a de Flávio, a 5 de outubro de 2014, há um ano.

Não há registro na História do Maranhão de eleições tão auspiciosas e esperançosas como aquelas. A separá-las, além do tempo, alguns pontos que, sob os olhares de hoje, divergem ou convergem quando se levam em conta a legislação eleitoral, as organizações partidárias, os direitos à liberdade e à democracia e outros.

Com respeito à liberdade e à democracia, nas eleições de Sarney, em outubro de 1965, o país vivia sob os ditames do regime militar, que golpeara do poder o presidente João Goulart e instalara a ditadura do Executivo em detrimento do Legislativo e do Judiciário. Já, nas eleições de Flávio Dino, em outubro de 2014, o Brasil era outro e a nação desfrutava do direito de ir e vir e do pleno exercício da democracia.

No concernente à legislação eleitoral e os partidos políticos, tanto José Sarney como Flávio Dino, disputaram os cargos sob a égide do multipartidarismo. Enquanto Sarney concorre por um partido de índole conservadora, a UDN - União Democrática Nacional, Flávio vestia a camisa do Partido Comunista do Brasil, de formação socialista.

Mas existem outros pontos que merecem destaque no confronto Sarney x Dino: a estratégia de chegada ao poder, campanha eleitoral e discurso.

No tocante à ascensão ao poder, a estratégia foi idêntica: um e outro se lançaram candidatos ao governo do Estado com certa antecedência. Em 1963, pensando na disputa à sucessão do governador Newton Bello, Sarney, em hábil e astuciosa manobra, convence o Partido Republicano e o Partido Trabalhista Nacional a pedirem ao Tribunal Regional Eleitoral o registro de sua candidatura a governador.

No tocante à ascensão ao poder, a estratégia foi idêntica: um e outro se lançaram candidatos ao governo do Estado com certa antecedência. Benedito Buzar

Em 2010, Flávio se lança candidato a governador, mas com o pensamento nas eleições de 2014. Enfrenta Roseana Sarney, sabendo que as chances de ganhá-la eram remotíssimas, mas concorre para adquirir experiência e se tornar conhecido em todo território estadual.

Quanto à campanha eleitoral, nada diferente. O alvo escolhido pelos dois candidatos foi o mesmo: a estrutura política vigente no Maranhão, atacada e responsabilizada pelos baixos índices econômicos e sociais aqui enraizados.

Com relação ao discurso, estavam em completa sintonia, pois vocalizaram e prometeram mudanças nos processos administrativos, nos costumes políticos e nas práticas e ações voltadas para o incremento do desenvolvimento econômico e do progresso social. Sarney cumpriu rigorosamente essa tarefa. Até agora, nesse quesito, as ações tomadas por Flávio são tímidas e nada convincentes.

Se nos pontos acima, Sarney e Flávio ora divergem, ora convergem, no que se refere ao processo eleitoral e modo de votar, uma aguda discrepância marcou os pleitos de 1965 e de 2014. No de Sarney, o eleitorado compareceu às urnas com representação reduzida. Dos mais de 400 mil eleitores com presença no pleito de 1962, apenas 291.230 eleitores se habilitaram a votar em 1965.

Por que isso? Pela decisão do presidente da República, Castelo Branco, de realizar no Maranhão, a pedido das lideranças oposicionistas, o saneamento do eleitorado, sem o que as Oposições não poderiam pensar em derrotar o PSD. Para isso, a Justiça Eleitoral foi mobilizada para extirpar das folhas de votação os títulos eleitorais contaminados e causadores da desenfreada fraude que campeava no Estado inteiro, sob o beneplácito do Tribunal Regional Eleitoral.

Depois de quatro meses de intenso trabalho da Justiça Eleitoral, as Zonas Eleitorais foram saneadas e um novo processo de alistamento, votação e apuração veio à tona, que propiciou o direito de participar das eleições de outubro de 1965 sem risco ou ameaça de o voto ser desvirtuado.

Importa, também, dizer que em 1965 o eleitor votou sob o império da cédula eleitoral, aquela que trazia impressa os nomes dos candidatos registrados na Justiça Eleitoral. Nela, portanto, figuravam José Sarney, Antônio Costa Rodrigues e Renato Archer, lançados, respectivamente, pelas Oposições Coligadas (PSP, UDN, PR e PTN), Partido Democrata Cristão e Partido Trabalhista Brasileiro. Nas urnas, Sarney consegue o sufrágio de 112.062 eleitores, Costa Rodrigues, 68.560, e Renato, 36.103, resultado que deu a Sarney o direito de assumir o governo do Estado a 31 de janeiro de 1966.

Na época de Sarney, convém assinalar, as eleições majoritárias ainda não se processavam em dois turnos, e a contagem de votos fazia-se manualmente e pelos escrutinadores, requisitados pela Justiça Eleitoral, razão pela qual o resultado da sua eleição só foi divulgado vários dias depois.

A tecnologia e a internet - dos tempos de Flávio Dino, impulsionam a Justiça Eleitoral a criar a urna eletrônica para substituir a cédula eleitoral, que vigorava desde a década de 1950. Com este novo e revolucionário processo de votação, o resultado das eleições é imediato. Em questão de horas, o eleitorado toma conhecimento do que aconteceu no dia da votação e do desempenho de seu candidato.

Através, portanto, dessa avançada ferramenta tecnológica, o Maranhão todo, três horas após a realização do pleito de 5 de outubro de 2014, passou a saber que dos seis candidatos ao Governo do Estado, Flávio Dino, o vencedor, conquistou 1.876.705 votos, Lobão Filho, 995.168, Pedrosa, 33.749, Saulo Arcangeli, 27.304, Zé Luis Lago, 17.650, Professor Josivaldo, 3.574.

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