Criminalidade

Participação feminina em crimes é cada vez maior no Maranhão

Tráfico de drogas é o principal responsável por levar as mulheres para o mundo do crime; elas quase sempre se colocam no lugar dos companheiros que são presos; aumento da participação feminina é observado em todo o país

Leandro Santos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54
Cristina Ubelino foi presa por envolvimento com assaltantes; Tainara Cristina e Larissa Rosa Vaz transportavam tabletes de maconha na BR-135
Cristina Ubelino foi presa por envolvimento com assaltantes; Tainara Cristina e Larissa Rosa Vaz transportavam tabletes de maconha na BR-135 (Participação feminina em crimes é cada vez maior no Maranhão)

É cada vez maior a participação de mulheres em crimes no Maranhão. Em muitos casos, elas estão substituindo os seus companheiros e dando continuidade ao negócio do tráfico de drogas. Esse crescimento no estado acompanha uma tendência nacional, que mostra que cada vez mais as mulheres estão articulando diversos tipos de delitos, tendo o tráfico de drogas o principal fomentador dessa expansão.

Na manhã da última sexta-feira, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu, no Km 85 da BR-35, em Itapecuru-Mirim, 27 tabletes de maconha prensada dentro de um veículo Fiat Ducato, de placas NML-3367, em que estavam Tainara Cristian Pereira da Silva, de 25 anos, e Larissa Rosa Vaz, de 21. As duas foram presas e autuadas em flagrante.

Ainda na semana passada, por exemplo, a Polícia Civil, por meio da Superintendência Estadual de Combate ao Narcótico (Senarc), cumpriu um mandado de prisão e prendeu Cristina Ubelino Souza, no município de São Domingos (distante aproximadamente 400 km da São Luís). Ela é apontada como uma das principais integrantes de uma quadrilha especializada em assalto a bancos no Maranhão e em outros es­tados das regiões Norte e Nordeste, com ligação ainda com uma facção criminosa de São Paulo.

Conforme mostram as investigações da polícia, Cristina Ubelino seria a responsável pelo apoio logístico aos quadrilheiros, fazendo o levantamento de informações de uma determinada cidade (como, por exemplo, a quantidade de policiais existentes e o dia de abastecimento dos caixas eletrônicos) pa­ra facilitar o trabalho dos criminosos. Atualmente, ela está detida no Complexo Penitenciário de Pedrinhas à disposição da Justiça.

Causas - Por causa do tráfico de entorpecentes, as mulheres acabam se envolvendo nesse e em outros delitos ainda mais graves. De acordo com o delegado Tiago Bardal, que responde atualmente pelo Senarc, o antigo Departamento de Narcóticos (Denarc), dos 31 inquéritos policiais instaurados este ano no distrito, em nove, ou seja, em 30%, as pessoas indiciadas são mulheres. Ainda segundo o delegado, esse número vem crescendo nos últimos anos.

Bardal apontou ainda duas principais causas que levam as mulheres cada vez mais a se envolverem no mundo do crime, principalmente com o tráfico de drogas: o fato de elas serem companheiras de homens traficantes que foram presos ou foram mortos e agora elas devem dar continuidade ao “negócio”, e também por elas acharem que, por serem mulheres, não levantariam suspeitas enquanto estiverem praticando o delito.

“Na maioria dos casos, o marido vai preso e, por subsistência ou para dar continuidade à ‘empresa do crime do companheiro’, a mulher acaba sendo a ‘gerente’ da empresa do tráfico. Há também os casos em que as mulheres chamam menos atenção do que o homem e por isso os traficantes acabam arregimentado suas companheiras que passam a ser chamadas de ‘mulas do tráfico’”, ressaltou o delegado.

Presas - O reflexo do aumento da participação feminina no mundo do crime pode ser visto na população carcerária do país. O número da população carcerária feminina cresceu qua­se o dobro da masculina entre os anos de 2000 e 2012. Além de ser responsável por levar a maior parte das detentas ao encarceramento, a associação ao tráfico e ao mundo das drogas é porta para outros crimes como roubos, furtos e homicídios.

Conforme mostram os dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o número de presas passou de 10.112 em 2000 para 35.039 em 2012. Isso significa um avanço de 246% no período. Entre os homens, que são maioria no presídios brasileiros, o crescimento foi de 130%, passando de 222.643 para 512.964, na mesma base de comparação.

Segundo os dados, em 2012 o número de mulheres presas equivalia a 6,4% do total de encarcerados no Brasil. Doze anos antes, esse percentual era igual a 4,3%. Esse número representa 24.997 mulheres presas a mais - inclusão de 2.083 detentas ao sistema por ano.
O motivo para esse aumento, dizem especialistas, está relacionado ao maior envolvimento das mulheres com as drogas e o tráfico. Dados do Ministério da Justiça mostramque 39% (13.964) das detentas respondiam por tráfico de drogas em 2012. Entre os homens, as condenações por tráfico chegam a 22% (117.404) do total de encarcerados, segundo o Ministério da Justiça.

O roubo é o segundo item que mais leva mulheres ao encarceramento, segundo o Ministério da Justiça. Em 2012, o artigo 157 (simples ou qualificado) mantinha 2.746 mulheres no sistema prisional (7,8% do total). No universo penitenciário masculino, esse crime era responsável por 145.321 (28,3%) prisões. A participação em homicídios foi responsável por 1.620 prisões de mulheres (4,6%). l

Perfil das detentas no sistema prisional

De acordo com o Ministério da Justiça, 49% das detentas têm entre 18 e 29 anos, 39% têm entre 30 e 45 anos e 12% com mais de 46. Em relação à escolaridade, 44% declararam ter o ensino fundamental incompleto e apenas 3% chegaram a ingressar em uma universidade. As negras e pardas são maioria dentro das unidades prisionais do País e somam 61% das detentas. Mulheres brancas representam 37% do total.

30%

das pessoas indiciadas em inquéritos policiais são mulheres, a maioria respondem por tráfico de drogas

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