Roda Viva

A presença da colônia árabe no Maranhão

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

O marco temporal da chegada dos primeiros contingentes árabes no Brasil é a década de 1880, razão pela qual a colônia sírio-libanesa comemora nesta terça-feira, 29 de março, 135 anos de sua presença em terras brasileiras.

No Maranhão, um grupo de descendentes árabes movimenta-se para a Câmara Municipal de São Luis, que tem a competência legal de dar nome aos logradouros públicos da cidade, de mediante lei, mudar o nome da Avenida Luis Eduardo Magalhães, no Calhau, para Avenida dos Libaneses, em homenagem a uma colônia, que depois da portuguesa foi a de maior presença em São Luis e com forte contributo nas áreas empresariais, políticas, científicas e culturais do Maranhão.

Não é à toa que nada menos do que quatro descendentes árabes ocuparam o cargo de governador do Estado: Alfredo Duailibe, Antônio Dino, José Murad e Ribamar Fiquene. Se computarmos os eleitos para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa, bem como os que alcançaram os postos mais altos do Poder Judiciário, veremos, em toda plenitude, a marcante expressividade libanesa na estrutura institucional do Maranhão.

Em dois momentos, os fluxos migratórios árabes ingressaram no Brasil. O primeiro, entre os anos 1880 e o começo de 1900, para se livrarem das perseguições movidas pelos turcos e pelo convite do imperador Pedro II, que, em visita diplomática ao Oriente Médio, concitou-os a substituírem o braço escravo, haja vista a abolição da escravatura. O segundo momento deu-se entre 1920 e 1940, quando o Brasil atravessava uma nova fase econômica e social, e precisava de mão de obra abundante para incrementar o processo de industrialização no sudeste brasileiro, mais notadamente São Paulo.

Com respeito ao Maranhão, não há registros oficiais ou oficiosos que precisem a chegada dos pioneiros árabes. Nem os “Almanaques do Maranhão”, publicados na segunda metade do século XIX, que traziam informações preciosas sobre os estrangeiros que desenvolviam atividades econômicas, faziam alusão à participação dos sírio-libaneses.

A única informação, assim mesmo duvidosa, sobre o assunto vem do professor e médico Olavo Correia Lima. No opúsculo de sua autoria, “Sírios e Libaneses no Maranhão, publicado em 1986, afirma que José Zequetervi, Miguel Mettre Heluy e José Nicolau Heluy foram os primeiros árabes a chegar a São Luis, fato ocorrido em 1886 e ‘hóspedes dos frades no Convento do Carmo’”. Sobre o que vieram aqui fazer nada foi revelado.

Novas e mais categorizadas notícias acerca dos árabes no Brasil datam do alvorecer do século XX, quando atraídos pelo mercado paulista, foram absorvidos em grande quantidade para o trabalho nas fábricas em processo de montagem.

Anos depois, parte mais reduzida dela dessa corrente migratória, debandou para outras regiões do país. Nessa empreitada, enfrentaram dificuldades de toda ordem, sobretudo com relação aos meios de transporte, mas não se intimidavam com as adversidades, pois, obstinados como eram, só sossegavam quando encontravam lugar onde pudessem se instalar e prosperar.

Nessa peregrinação pelo interior do Brasil, feita com coragem e sacrifício e quase sempre em lombos de animais ou usando os próprios pés, comercializavam bugigangas e com a venda delas sustentavam-se e conquistavam estímulo e força na perseguição dos objetivos que os levaram a deixar o país de origem. Como mascates, atividade na qual ninguém os superava, acumularam poupança e se estabeleceram como futuros comerciantes.

Dentre os estados nordestinos, o Maranhão se deu bem com a presença das correntes migratórias procedentes da Síria e do Líbano. Atraídos pelas condições que a natureza nos oferece, fixaram-se com a vontade indômita de ganhar dinheiro e construir família. Quando não se estabeleciam em São Luis, procuravam cidades localizadas às margens dos rios Itapicuru, Mearim e Pindaré, produtoras de grande parte dos gêneros alimentícios que outras regiões do estado consumiam.

Nessas cidades, chegavam sem saber falar o nosso idioma, mas através de gestos conseguiam vender os produtos que mascateavam e ainda recebiam as atenções dos moradores do lugar, principalmente quando vinham acompanhados de mulher e filhos.

Foi dessa maneira que o Maranhão os recebeu e de braços abertos os ajudou a se tornarem bem-sucedidos nas atividades produtivas, por conta das quais construíram famílias e contribuíram decisivamente para o engrandecimento e prosperidade das cidades.

Dentre os árabes que aportaram pioneiramente em nossa terra, figuram nomes que, com o passar dos anos, tornaram-se emblemáticos pela participação e atuação em todos os setores da vida maranhense, tais como: Simão, Murad, Mettre, Salomão, Jorge, Duailibe, Aboud, Farah, Àzar, Damous, Maluf, Buzar, Fiquene, Sauaia, Fecury, Mouchereck, Saback, Tajra, Curi, Millet, Sekeff, Safaddy,Nazar, Mubarack, Abdala, Tomeh, Bouéres, Waquim, Nahuz, Dino, Mattar, Francis, Boabaid, Chouairy, Assef, Zaidan, Mohana, Hadad, Haikell e Lauande.

João e Rafiza Buzar, meus avós, quando chegaram a Itapicuru-Mirim, já ali encontraram os patrícios Basílio e Paulo Simão, Chafi Buzar, João Elias Murad e Jorge Assef. Em abril de 1913, eles desembarcaram no porto de Salvador, de onde rumaram para a cidade que os acolheu de modo fraternal, por isso, de lá nunca saíram. De mascates, transformaram-se em prósperos comerciantes, com a ajuda dos filhos ali nascidos: Abdala e José João Buzar.

Nessa peregrinação pelo interior do Brasil, feita com coragem e sacrifício e quase sempre em lombos de animais ou usando os próprios pés, comercializavam bugigangas e com a venda delas sustentavam-se Benedito Buzar

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