Doação

131 pacientes aguardam transplante de rim no MA

Números da central responsável no estado apontam para a necessidade de conscientização sobre a doação, ato capaz de devolver a chance da vida para quem está precisando do órgão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

Setembro é o mês dedicado à sensibilização pela doação de órgãos. Por isso, é conhecido como “Setembro Verde”. No dia 21, próxima segunda-feira, tem início a Semana Nacional de Doação de Órgãos, e o cenário no estado ainda é preocupante. Há 131 pacientes aguardando na fila de espera por um transplante de rim no Maranhão, onde a captação de órgãos ainda é baixa.

No dia 18 de março de 2000, foi realizado o primeiro transplante de rim no Maranhão, após a inauguração da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Maranhão (CNCDO-MA). Com funcionamento no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HUUFMA), a central é capacitada para realizar transplantes.

Desde então, foram feitos 485 transplantes de rins, número considerado abaixo da média, comparando a outros estados do Brasil. Este ano, já foram 39 trans­plantes. Em 2014, foram 34 de rins. Apesar dos números de transplante, a quantidade de pessoas que precisa do ato de solidariedade para continuar a vida normalmente ainda preocupa.

Atualmente, no estado do Maranhão, 131 pacientes aguardam na fila de espera por um transplante de rim. De acordo com o CNCDO-MA, 2.400 pacientes estão fazendo diálise - cerca de 800 aptos para o transplante de rins - e o número de doadores ainda não é suficiente para suprir a demanda.

Espera
Em São Luís, no Hospital Dr. Carlos Macieira, cerca de 100 pacientes fazem hemodiálise. O procedimento é uma filtragem do sangue, que tem como princípio a retirada de líquido e toxinas como ureia e creatinina do paciente com insuficiência renal, além de poder corrigir distúrbios no pH, no sódio e no potássio sanguíneos, entre outros.

O publicitário William Azevedo, de 55 anos, é um dos pacientes que vão ao hospital três vezes por semana para fazer hemodiálise. Ele começou o tratamento em março de 2014 e aguarda ansiosamente o transplante para que possa retornar a sua rotina normal. “O recado que deixo é que quem deseja ser doador avise sua família, pois só ela na hora mais difícil vai poder decidir. Apesar de estarmos bem instalados, sermos bem atendidos, queremos mesmo é ficar bem. Quanto mais pessoas quiserem doar, teremos mais possibilidades de sair daqui”, afirmou.

O aposentado Edgar Trindade Azevedo Neto também faz hemodiálise na unidade de saúde e tem esperanças de ser chamado para o transplante. Somente com o procedimento ele pode deixar a hemodiálise, que já faz há um ano as terças, quartas-feiras e sábados.

A nefrologista Luciene Campos Bandeira, do Hospital Dr. Carlos Maceira, destacou que é a compaixão das famílias de potenciais doadores, que pode devolver a qualidade de vida a essas pessoas. “Normalmente, são pacientes internados no hospital ou com diagnóstico de doença crônica, diabéticos, hipertensos, de doenças renais. Eles fazem hemodiálise três vezes por semana e quatro horas por sessão. A gente tenta fazer com que eles tenham ao máximo uma vida normal. Quem trabalha pode trabalhar. Eles têm restrições alimentares. Não se pode dizer que eles vão ficar determinado tempo fazendo hemodiálise. A tendência é fazer o tempo todo até que ele possa fazer o transplante”, explicou.

Doações
As doações podem ser feitas de duas formas: de doadores vivos e de doadores cadáveres. O doador vivo é considerado uma pessoa em boas condições de saúde, capaz juridicamente e que concorde com a doação. A decisão deve ser orientada por médico e, por lei, pais, irmãos, filhos, avós, tios, primos e cônjuges podem ser doadores. Não parentes podem ser doadores somente com autorização judicial.

Já o segundo caso é relativo aos pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). Após uma série de exames que excluam doenças transmissíveis, a família será consultada sobre seu desejo pela doação de órgãos.

A CNCDO-MA realiza transplantes de rins e córnea, as duas especialidades oferecidas no estado. Desde o início do serviço de transplantes no Maranhão, em março de 2000, também foram realizados 1.140 transplantes de córnea. Neste ano, foram 84 procedimentos do tipo e 782 pacientes aguardam por um transplante de córnea.

A córnea só pode ser doada de um doador cadáver, o que vai de encontro à autorização das famílias. Em 2013, pelo menos 88% das famílias não autorizavam a doação. Em 2014, esse número caiu para 69%, chegando a 68% em 2015. Ou seja, um avanço de 20 pontos percentuais em três anos.

Conscientização
Segundo a nefrologista coordenadora da central de notificação, captação e distribuição de órgãos (CNCDO-MA), Maria Inês Oliveira, a captação de órgãos ainda é baixa no estado. Por isso, a importância de as famílias se conscientizarem e se sensibilizarem com as vidas que aguardam por uma nova chance.

A médica nefrologista lembra que é com esse apelo que a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e o Hospital Universitário da UFMA realizam a Semana Nacional de Doação de Órgãos em São Luís. A programação tem início no dia 21 e tem foco na família, que é a responsável por autorizar a doação. Apesar do desejo declarado do doador, atualmente, a doação só acontece após autorização familiar. É por isso que a campanha se intitula “Eu assumi e a minha família já sabe! Sou doador de órgãos”.

Desde o início deste mês, equipes da CNCDO-MA têm visitado unidades de saúde, instituições de ensino e empresas públicas e privadas, para ministrar palestras e esclarecer dúvidas frequentes quando o assunto é a doação de órgãos. Locais como shoppings e praças também entraram no roteiro de visitas para a realização de panfletagem.

QUERO SER DOADOR
COMO FAZER

Hoje, no Brasil, para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento, embora anteriormente já tenha existido a opção de colocar na carteira de identidade ou motorista. Basta comunicar sua família do desejo da doação. A doação de órgãos só acontece após autorização familiar. Mas a consulta é obrigatória, mesmo que você tenha autorizado a doação em vida.

DOADORES
TIPOS:

DOADOR CADÁVER
- Pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). Dois médicos, sendo um neurologista, examinam o paciente sempre com a comprovação de uma série de exames complementares.
- Pode ser retirado de um doador falecido: coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino, rim, córnea, veia, ossos e tendão. Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes e controlada pelo Ministério Público (MP). A retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra, e o doador poderá ser velado normalmente.

DOADOR VIVO
- Por lei, pais, irmãos, filhos, avós, tios, primos e cônjuges podem ser doadores. Não parentes podem ser doadores somente com autorização judicial.
- Podem ser doados: um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Neste caso, pela lei, parentes até quarto grau e cônjuges podem ser doadores; pessoas sem grau de parentesco, somente com autorização judicial.

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