Pesquisa

Doença da Soja Louca II é reconhecida pelo Ministério da Agricultura

Lavouras de soja no Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso têm sofrido ataques de nematóides

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

A doença da Soja Louca II, que desde a safra 2005/2006, que vem causando reduções de até 60% na produtividade da soja, principalmente em regiões quentes e chuvosas como Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso, teve seu agente causal, o nematoide Aphelenchoides sp, reconhecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Há 10 anos os pesquisadores da Embrapa e parceiros trabalhavam na identificação da causa da Soja Louca II (SL-II). "A identificação do agente causal da SL-II representa uma descoberta importante, porque direciona as atividades de pesquisa para a definição das estratégias de manejo, o que trará um enorme alento aos produtores que amargam prejuízos com uma doença até então desconhecida", revela o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja.

A doença apresenta como sintomas principais: plantas de soja com haste verde, retenção foliar e abortamento de vagens antes de finalizar seu ciclo. Quando o problema foi detectado, os pesquisadores da Embrapa descartaram as hipóteses de ataque de percevejo (agente causador da Soja Louca I), problemas nutricionais ou distúrbios fisiológicos da planta.

"Esses sintomas, observados na década de 1980 em algumas áreas de soja, eram conhecidos por Soja Louca e também causavam a incidência de haste verde e retenção foliar no final do ciclo da cultura, mas a Soja Louca II era diferente", explica Maurício Meyer.

Para identificar as possíveis causas do novo problema, monitorar sua ocorrência no Brasil e propor alternativas de manejo, em 2011, o pesquisador Maurício Meyer desenvolveu pesquisa em parceria com diversas instituições. A primeira comprovação foi que a Soja Louca II não era causada por ácaros ou vírus. A partir de 2012, parte dos trabalhos de pesquisa se voltaram a investigar a associação de nematoides do gênero Aphelenchoides à ocorrência de SL-II, constatando-se frequentemente sua presença em amostras de plantas com sintomas.

Somente em março deste ano, a Embrapa e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) conseguiram isolar e multiplicar o nematoide Aphelenchoides sp, por meio do aperfeiçoamento e da adaptação de métodos laboratoriais.

Nesta ocasião, amostras de hastes e folhas de soja, coletadas em áreas comerciais e experimentais no Maranhão e no Pará, com e sem os sintomas de Soja Louca II foram enviadas ao laboratório da Epamig, em Uberaba (MG), quando se observou elevada concentração do nematoide apenas nas amostras de plantas sintomáticas. De acordo com Luciany Favoreto, pesquisadora da Epamig, a análise foi feita por meio de uma metodologia adequada ao gênero do nematoide, revelando sua associação com a SL-II.

Método de identificação da doença

Com o isolamento e a multiplicação do nematoide em laboratório, foi possível realizar um procedimento chamado de 'Postulado de Koch', que permite identificar o agente causal de uma doença. O teste consiste em observar se as plantas sadias, ao serem inoculadas com o patógeno, apresentam os sintomas da doença e se é possível reisolar o mesmo patógeno em outras partes da planta, após a expressão dos sintomas.

O pesquisador Maurício Meyer inoculou plantas de soja sadias com diferentes concentrações deAphelenchoides sp. e em diferentes fases de desenvolvimento da cultura. Após 12 dias, observou-se que as plantas começaram a apresentar os sintomas da SL-II. "Essas plantas doentes foram enviadas ao laboratório e constatamos uma expressiva quantidade do nematoide, comprovando-se assim que ele desencadeia a doença", explica.

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