"É uma guerra!". Com essa frase, o gestor da Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, Evane Lisboa, define a atual relação entre fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, madeireiros e caçadores que invadem a área de preservação ambiental, última fronteira da Floresta Amazônica, localizada a oeste do estado do Maranhão.

"Os madeireiros nos confrontam. São destemidos. Juntam-se e nos roubam até o caminhão. Eles vêm de Buriticupu", ressalta o gestor. Ele informa que está marcada uma reunião, em São Luís, no próximo dia 9, para discutir a segurança de um dos mais importantes patrimônios biológicos do planeta.

Participarão do encontro o Governo do Estado, o presidente nacional do ICMBio, Claudio Carrera Maretti, secretários de Estado e representantes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Estamos passando por um momento muito difícil. A ideia é convocar o Exército Brasileiro para guardar a Rebio do Gurupi", informa Lisboa.

A Rebio já chegou a ser considerada a pior unidade de conservação do país, devido às atividades ilegais realizadas em seu interior (desmatamento, grilagem e exploração de madeira), mas, por causa de pressões políticas de pesquisadores e de comunidades locais, políticas públicas foram elaboradas e executadas em favor da conservação da reserva.

Morte - O assassinato do ambientalista e conselheiro da Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, Raimundo dos Santos Rodrigues, levantou curiosidades sobre a reserva. Que área é essa que atrai a cobiça de pessoas capazes de tamanha violência contra alguém que defende a área de preservação ambiental?
Raimundo Rodrigues foi morto em uma emboscada, a tiros e golpes de facão, na estrada que liga os municípios de Bom Jardim a Buriticupu. Desde 2012, ele vinha denunciando a ação de madeireiros ilegais na região.

Além do conflito com os madeireiros, a comunidade sofre também com a perseguição de latifundiários. Em julho deste ano, o Ibama apreendeu e incendiou caminhões que eram utilizados para extrair madeira ilegal do interior da Rebio.

A reserva está conectada com as Terras Indígenas Alto Turiaçu, Awá e Caru. Juntas, formam um mosaico que representa o que resta de Floresta Amazônica no Maranhão. Em abril, o agente indígena de saneamento Eusébio Ka'apor foi assassinado com um tiro nas costas, na mesma região.

De acordo com informações, ele teria sido vitimado por madeireiros contrários às ações de autofiscalização e vigilância territorial dos indígenas contra a exploração ilegal de madeira na Terra Indígena Alto Turiaçu.

A história do assassinato foi enviada para as relatorias da Organização dos Estados Americanos (OEA de Execuções Sumárias), Defensores de Direitos Humanos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Mas, afinal, o que a Rebio do Gurupi tem?

Berçário - A Reserva Biológica do Gurupi visa preservar o ecossistema de Floresta Tropical Úmida e proteger a Serra da Desordem e a Serra do Tiracambu. "A Rebio do Gurupi é um berçário de inúmeras espécies da fauna e da flora, que vão existir para gerações futuras", alerta Lisboa. Com 271.197,51 hectares de extensão, ela foi criada em janeiro de 1988 pelo Decreto nº 95.914. É a única a única unidade de conservação de uso integral do Estado, abrangendo os municípios de Bom Jardim, São João do Caru e Centro Novo do Maranhão.

Trata-se de uma área de altíssima biodiversidade. No momento há uma equipe de pesquisadores do estudando felídeos (onças).

Saiba mais

- O acesso à Reserva Biológica do Gurupi é feito pela BR-316, que liga Santa Inês a Capanema, no estado do Pará. Ele pode ser feito também pelas BR-222 e a BR-010.

- Cita-se a ocorrência de 21 espécies de aves consideradas vulneráveis e quatro espécies de mamíferos ameaçados de extinção na Rebio do Gurupi

- A ave símbolo do Brasil, ararajuba (Aratinga guarouba), habita a Reserva Biológica do Gurupi.

Encontradas novas espécies em área de preservação

A rica biodiversidade da Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi está, aos poucos, sendo descoberta. Pesquisas recentes feitas pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio Amazônia Oriental) revelam a ocorrência de duas novas espécies de aves nesta região, que passam a integrar a avifauna brasileira e contribuir para os estudos sobre a biodiversidade da Amazônia Maranhense. As aves foram encontradas durante pesquisas coordenadas pelo ornitólogo Alexandre Aleixo, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

De acordo com dados dos pesquisadores Diego Lima (ICMBio- Instituto Chico Mendes ) e Carlos Martinez (UFMA- Universidade Federal do Maranhão), também foram encontradas ocorrências das espécies Amazona ochrocephala (papagaio campeiro), que ainda não havia sido registrado para a região, Sporophila minuta(caboclinho lindo), e Pyrrhura lepida lépida (tiriba pérola).

Houve também relatos de uma comunidade de Crax fasciolata pinima (Mutum de penacho) mantida em cativeiro, nas regiões sul e norte da Rebio. Os pesquisadores estão finalizando uma lista composta por 428 aves, além de um levantamento que aponta a existência de espécies ameaçadas de extinção. Até então, a lista era composta por 329 aves.

As pesquisas do PPBio Amazônia Oriental também descrevem a ocorrência de lagartos, quelônios e pelo menos três espécies de insetos. No livro Amazônia Maranhense – Diversidade e Conservação vários artigos científicos demonstram com dados como é significativa a biodiversidade do Gurupi.

A crescente descoberta de novas espécies é uma comprovação do que ainda há para ser descoberto sobre diversidade biológica da região. Mesmo assim, as ameaças ao local são muitas.

Reserva biológica não pode ter interferência humana direta

Uma reserva biológica consiste em uma categoria de unidade de conservação ambiental na legislação brasileira. Ela tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites.

A reserva não pode ter interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.

A reserva biológica é de posse e domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. Pela lei, é proibida a visitação pública nas reservas biológicas, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico.

Já a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como aquelas previstas em regulamento.

Dicionário

Biota

Conjunto de seres vivos que habitam um determinado ambiente ecológico, em estreita correspondência com as características físicas, químicas e biológicas.

Ecossistema

Conjunto formado pelas interações entre componentes bióticos, como os organismos vivos: plantas, animais e micróbios, e os componentes abióticos, elementos químicos e físicos, como o ar, a água, o solo e minerais. Estes componentes interagem via transferências de energia dos organismos vivos entre si e entre estes e os demais elementos de seu ambiente.

Bioma

Conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria. Pode ser definido como uma grande área de vida formada por um complexo de ecossistemas com características homogêneas. Muitas vezes, o termo bioma é utilizado como sinônimo de ecossistema, mas, diferentemente do ecossistema, bioma interessa mais o meio físico.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.