Sem teto

Moradores da Vila Nestor fazem protesto e interditam Av. Beira-Mar

Nesta segunda manifestação, eles exigiam que o Governo do Estado se posicionasse e regularizasse a situação das famílias que temem ser desalojadas a qualquer momento do terreno; após reunião, governo se comprometeu a tratar do caso

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

[e-s001]Moradores da Vila Nestor, em Paço do Lumiar, Região Metropolitana de São Luís, voltaram a protestar, na manhã de ontem, contra o Governo do Estado, cobrando uma solução para o problema vivido pelas famílias que ocupam a localidade, cujo terreno foi alvo de uma ação de reintegração de posse no mês passado. Dessa vez, não houve confronto com a Polícia Militar (PM), mas o clima chegou a ficar tenso entre manifestantes e policiais. No fim da manhã, após nova pressão popular, o governo prometeu regularizar a situação das famílias.

Os manifestantes se concentraram na Praça Maria Aragão, no centro de São Luís, no início da manhã. De lá, iniciaram caminhada pela Avenida Beira-Mar. Com cartazes, eles faziam críticas aos três poderes. Cobravam dos deputados estaduais o respeito ao voto do povo, pediam ajuda ao Governo do Estado e clamavam por Justiça. A manifestação foi comandada por Nestor da Silva, líder comunitário da Vila Nestor.

O protesto aconteceu porque, após a manifestação ocorrida no dia 6 de agosto, o Governo do Estado e os manifestantes acordaram um prazo de 20 dias para que houvesse alguma resposta do poder público às reivindicações da população. "O governador não está dando o direito a moradia para nós, pediu que a gente tirasse as famílias do local. Estou tirando hoje e vamos colocá-las na casa do governador", disse Nestor da Silva.

Interdição - Em frente à cabeceira da Ponte do São Francisco, eles fizeram uma parada de cerca de 20 minutos, interditando o tráfego de veículos na ponte, congestionando o trânsito na Avenida Beira-Mar e vias adjacentes.

Quem tentava subir ou descer pela Rua do Egito foi impedido. Os condutores reclamaram do protesto e uma idosa afirmou que precisava passar com seu carro, pois estava passando mal. Antes de iniciar o protesto, Nestor da Silva chegou a ameaçar a interdição do trânsito em outros três pontos da cidade: os retornos da Forquilha e do Aeroporto de São Luís, além da Barragem do Bacanga.

[e-s001]Polícia - Os manifestantes chegaram até a subida da rampa do Palácio dos Leões, mas foram impedidos de subir pela PM. Quando chegaram ao local, um grupo de pelo menos 30 policiais já estava a postos para conter os manifestantes. O major Renato, do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), informou aos manifestantes que se eles forçassem a subida, a polícia reagiria com o uso de granada.

Ainda durante a concentração na Praça Maria Aragão, um policial militar conversou com os manifestantes e houve bate-boca. Nestor da Silva afirmou que passaria por cima dos policiais, se fosse necessário, e ouviu do PM que se os manifestantes causassem algum tipo de tumulto, o Batalhão de Choque, que já estava a postos próximo à rampa de acesso à Praça Pedro II, seria acionado. Dessa vez, não havia crianças entre os manifestantes.

Eles permaneceram em frente à rampa, na Avenida Beira-Mar, obstruindo o tráfego de ônibus para o Terminal de Integração da Praia Grande. No local, um coro gritava "Queremos residência!", "Não somos invasores!". "Eu moro na Vila Nestor porque dependia de aluguel. Agora, estou economizando o aluguel para poder comprar comida para meus filhos e o governo quer me tirar de lá", disse Elinalva Ribeiro.

Reunião - Após quase uma hora e meia de manifestação, os moradores da Vila Nestor resolveram liberar a Avenida Beira-Mar e uma comissão de sete moradores foi recebida no Palácio dos Leões pela secretária de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid), Flávia Alexandrina Coelho; Direitos Humanos e Partipação Popular (Sedipop), Francisco Gonçalves, e o procurador do Município de Paço do Lumiar, Bruno Leonardo Silva Rodrigues.

Durante a reunião, os manifestantes ficaram concentrados no coreto da Beira-Mar.
Nestor da Silva informou que, durante a conversa, a secretária Flávia Alexandrina Coelho informou que a partir de amanhã será feito um cadastramento das famílias que moram na Vila Nestor, para saber quais delas não têm moradia. Enquanto isso, a Procuradoria Geral do Município de Paço do Lumiar vai fazer um levantamento sobre o terreno que as famílias estão ocupando para verificar se é possível desapropria a área para que elas sejam assentadas.

ENTENDA O CASO
Uma liminar concedida pela juíza
Jaqueline Reis Caracas determinou a reintegração de posse da área onde fica a Vila Nestor, em favor de Amadeu da Cunha Santos Aroso Neto e Yuefang Araújo Marques Aroso. Por causa dessa decisão, os moradores da Vila Nestor interditaram os dois sentidos da Avenida Beira-Mar, no dia 6 de agosto, concentrando-se em frente à rampa de acesso à Praça Pedro II, na Praia Grande, em protesto contra sua retirada da comunidade. Eles tentaram conversar com o governador Flávio Dino (PCdoB) e quando subiam até o Palácio dos Leões foram barrados por cerca de 11 policiais militares do Bata-lhão de Choque, sendo retirados à força e atingidos por pelo menos 10 bombas de efeito moral, que acabou machucando duas crianças. Um menino de três meses sofreu queimaduras e foi internado no Hospital Dr. Odorico Amaral de Matos (Hospital da Criança), na Alemanha. A desocupação da avenida só ocorreu após a Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE), por meio do Núcleo de Moradia e Defesa Fundiária, mediar diálogo entre os moradores da comunidade e representantes do governo estadual, adiando em 10 dias o cumprimento da liminar concedida pela juíza Jaqueline Reis Caracas. Durante esse prazo, o Governo do Estado deveria dar uma resposta à comunidade, o que nunca aconteceu.

SAIBA MAIS
A Vila Nestor
fica às margens da MA-201 (Estrada de Ribamar), próximo ao Cemitério Jardim da Paz, e vizinha da Vila Nova Canaã, em Paço do Lumiar. O local em que ocorreu a reunião da manhã de ontem fica próximo da Escola Municipal Nova Canaã. No local, não tem infraestrutura, as ruas são de terra, as ligações elétricas são por meio de gambiarras, não há rede de abastecimento d'água e nem de esgoto. Apenas barracos feitos de madeira e cobertos de palha ocupam a área em que moram 600 famílias.

NÚMERO
2.300 famílias
moram na Vila Nestor

Eu moro na Vila Nestor porque dependia de aluguel. Agora, estou economizando o aluguel para poder comprar comida para meus filhos e o governo quer me tirar de lá"Elinalva Ribeiro, moradora da Vila Nestor

manifestação Nestor 2

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