São Luís que não dorme

Do cachorro-quente ao mocotó, cardápio da noite é muito variado

Quem sai de festas ou do trabalho durante a madrugada passa pelo retorno da Forquilha para fazer um lanche ou uma refeição completa

Jock Dean/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

[e-s001]Gourmet. Quem ainda não ouviu essa palavra nos últimos tempos? Ela é a última moda da gastronomia. Graças ao tal "raio goumertizador", o docinho ganhou roupagem esnobe, assim como os salgados de festa e os sanduíches, isso para citar apenas esses exemplos. Mas um grupo de pessoas vive alheia a essa tendência e prefere um bom prato de mocotó com tempero caseiro servido às margens de uma grande avenida às 4h. Não, você não leu errado.

Longe da moda gourmet, barracas que vendem lanches comuns e refeições completas atraem um grande número de clientes durante a madrugada no retorno da Forquilha.
A prática da venda de comida nas ruas é antiga, muito antiga. Na Grécia Antiga era comum a venda de peixes fritos nas ruas da polis e ninguém se importava muito quando o filósofo Theophrastus dizia que essa era uma prática vulgar. Pompeia, Roma, Cairo, Turquia, China. Em todos esses locais há registros de vendedores ambulantes de comida. Nem mesmo Paris, cidade que é referência em bom gosto, escapou. Já na década de 1840 era registrada a venda de batatas fritas nas ruas da cidade-luz.

[e-s001]Sempre na moda - O fato é que a prática nunca saiu de moda e vista como opção para muita gente que, por um motivo ou outro, não tem tempo para comer em casa, como Marcone Garcês, que às 3h de sexta-feira, dia 14, jantou bode ao leite de coco. "Eu trabalho distribuindo jornais durante a madrugada e não tenho um horário exato para terminar. Hoje, parei aqui e vim comer um bode. A comida aqui da tia Nazaré é muito saudável, feita em casa, além de muito gostosa", disse.

Bem, saudável não é exatamente a melhor definição de um prato de bode ao leite de coco. Extremamente gorduroso, o prato não é aconselhado para cardíacos, sobretudo durante a madrugada. Mas, enfim, é o preferido de muitos nordestinos.

Tia Nazaré é Maria de Nazaré Nascimento, de 53 anos, que há 20 anos trabalha vendendo comida na região da Forquilha. Atualmente, ela monta sua barraca na calçada de uma loja de materiais de construção no cruzamento das avenidas Guajajaras e Jerônimo de Albuquerque e MA-201, bem em frente ao retorno da Forquilha. "Chego todos os dias às 18h e fico até as 6h. Nesses 20 anos em que trabalho aqui, muita coisa mudou na Forquilha, menos a frequência da minha barraca", comemorou.

[e-s001]Além de bode ao leite de coco, o cardápio de tia Nazaré inclui galinha caipira, mocotó, sarrabulho, carnes bovina, de frango e de porco assadas na panela, pato cozido e outros. E a variedade não está apenas nas refeições. "Por aqui passa todo tipo de cliente. Gente vinda do trabalho, vinda da festa, que chegou de viagem. Prefeitos do interior comem aqui, alguns artistas também vêm comer depois de sua apresentação. Até donos de bares famosos passam por aqui. A noite toda tem movimento", contou.

E quando ela diz que a noite toda tem movimento, não está brincando. Às 4h, clientes estacionam em frente à sua barraca, perguntam o que ainda há para comer e não hesitam em escolher um prato de mocotó, que é esquentado ao fogareiro, cuja brasa é mantida acesa graças às fortes abanadas de tia Nazaré. E ela não é a única comerciante do tipo. Ao lado dela, dois outros vendedores informais comercializam lanches e refeições.

Lanche - Outra opção de alimentação são os quiosques localizados na Avenida Jerônimo de Albuquerque, a poucos metros do retorno da Forquilha. Lá, cachorro-quente, pizzas, hambúrgueres, macarronada e outros pratos rápidos são a pedida. "O pessoal vindo das festas pela região, de madrugada, todo mundo com fome, para aqui e come. A gente geralmente fica até 3h, mas tem noite que precisamos ir até as 4h. E a gente começa às 18h", disse Sandra de Jesus, gerente de uma das lanchonetes da localidade.

[e-s001]Quem passa por lá sempre é William Silva, que para no local quando sai do trabalho. Ele mora na Cohab e prefere comer na rua por causa da comodidade. "A gente sai do trabalho cansado e querendo comer alguma coisa. Paro aqui para dar aquela reabastecida antes de ir para casa. Não tenho paciência para chegar em casa e ainda preparar comida. Por isso, prefiro comer um cachorro-quente por aqui mesmo", comentou, ao chegar ao local quase às 4h.

Aqui na Forquilha já foi bem mais movimentado, mas nos últimos tempos deu uma caída. Apesar disso, a noite toda tem gente chegando. É um ponto bom para um negócio como o nosso"Sandra de Jesus, gerente de uma lanchonete
Mas, com um fluxo tão grande de pessoas pela região, a concorrência não é um problema, pois há opções para todos os gostos. Em um posto de combustíveis do lado oposto à calçada onde tia Nazaré passa a noite, também é grande o fluxo de pessoas em busca de alimento depois da 'farra' da madrugada. Na loja de conveniências do estabelecimento, que ficar aberta 24 horas, são os salgadinhos industrializados que saciam a fome dos frequentadores. Em uma farmácia que também funciona 24 horas, doces como chocolate ajudam a amenizar o 'ronco' do estômago.

SEM LICENCIAMENTO


As bancas de vendedores ambulantes não recebem licenciamento da Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Sanitária Municipal para funcionar. Mas, regularmente, os vendedores identificados passam por cursos de capacitação sobre segurança alimentar. Para os consumidores, a recomendação é observar as condições de higiene em que esses produtos estão sendo oferecidos (bancada onde estão dispostos, o uso de luvas e cabelos presos pela pessoa que os manuseia, etc).

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