Opiniões

Líderes religiosos opinam sobre temas relacionados ao público LGBT

Formadores de opinião, pastores evangélicos, babalorixá, padre e líder espírita falam sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a inserção de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no âmbito religioso

Eduardo Lindoso e Thamirys D'Eça / oestadoma.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h56
O ESTADO entrevistou líderes religiosos do Maranhão
O ESTADO entrevistou líderes religiosos do Maranhão

Quanto mais o tema sobre os direitos das pessoas que se enquadram no público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) é debatido e o assunto fica surrado, surgem também mais opiniões distintas sobre as nuances que envolvem o universo da questão.

Os discursos de liberdade e proibição são quase sempre regados com informação ou a falta dela - daí proliferam inúmeros pontos de vista. Entre as várias fontes das quais brotam argumentos – contrários e a favor –, o direito civil e os princípios religiosos são os dois eixos que sustentam as teses. Depois de ouvir advogados, especialistas e pessoas vítimas de preconceito, como no caso da estudante transexual Stheffany Pereira, que foi expulsa do banheiro feminino do Liceu Maranhense e virou centro de uma polêmica recente em São Luís, a equipe de oestadoma.com resolveu ouvir alguns líderes religiosos da capital sobre o assunto.

Foram ouvidos um pastor da igreja inclusiva Nova Vida, um pastor da tradicional Igreja Presbiteriana do Centenário, o líder espírita do Centro de Vivência Espírita, um padre da Igreja Católica e o babalorixá da casa de candomblé Fanti Ashanti. Eles discorreram sobre a participação de LGBTs no âmbito religioso, expuseram suas opiniões acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo e explicaram como suas respectivas religiões recebem o público LGBT.

Líder de um novo segmento religioso no Maranhão, a igreja evangélica inclusiva Nova Vida, que existe há mais de cinco anos em São Luís, o pastor Paulo Mendonça acredita que o seu segmento religioso vem para dar abrigo para este público. “Estas pessoas agora conseguiram ter uma voz, começaram a ‘sair do armário’, como é comum de se falar, e começaram a buscar seu espaço nas igrejas. E a nossa igreja veio para receber estes irmãos”, comentou.

Fechado - O pastor Lúcio Carlos, da Igreja Presbiteriana do Centenário, tem pensamento parecido com o do líder do segmento inclusivo, mas admite que tanto a igreja quanto as pessoas LGBTs ainda não estão preparadas o suficiente para essa inserção. “O evangelho não é fechado para estas pessoas, que são seres humanos igual a gente. Talvez nós, quanto igreja, também não estamos preparados para esse recebimento. Acredito que até mesmo este público não esteja preparado para isso em seus corações”.

Moab José de Sousa, mentor do Centro de Vivência Espírita, vê o assunto de uma ótica mais ampla. “A espiritualidade é inclusiva, não podemos aceitar nenhum tipo de preconceito com quem quer que seja. A mensagem do amor é incondicional. Jesus amou e não colocou um ‘mas’ neste amor. Amar não é pecado, pecado é odiar”, disse. Pai Euclides, babalorixá da casa de candomblé Fanti Ashanti, segue na mesma linha. “Não temos problema com este público em nosso terreiro. Não vejo distinção entre ninguém”.

O padre Haroldo Passos não muda a visão dos outros líderes quanto a inclusão destas pessoas nos espaços religiosos. “Eles têm o direito de participar da missa. Como qualquer outra pessoa têm. Temos que ter respeito”, afirmou.

Ficou bem claro que quanto à inclusão de LGBTs nas religiões todos seguem na mesma linha de opinião, porém, nos outros dois temas, eles têm opiniões bastantes divergentes.

OPINIÕES

PASTOR PAULO MENDONÇA – IGREJA INCLUSIVA NOVA VIDA

1- Como você vê a inclusão do público LGBT no âmbito religioso?

“Muitos gays continuam nas igrejas tradicionais, mas, com o crescimento da militância, eles começaram a sair do ‘armário’ e estão fazendo outra leitura da bíblia. Mas é importante saber qual proveito estão tirando disso”

2- O que você acha do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

“As pessoas visualizam o casamento como uma coisa dogmática, mas não passa de um contrato. Onde é feito um acordo que nos dá garantias. É mais uma questão de formalidade. Paulo já dizia: ‘É melhor casar do que abrasar’. Portanto, viver sozinho não pode. Infelizmente, a sociedade empurrou a homossexualidade para a promiscuidade”

3 - Como a sua religião recebe estas pessoas?

“As outras igrejas até te aceitam, mas até determinado ponto. Você é excluído de vários cargos e atividades. Você começa a ficar de escanteio. O que me impressiona é a carga de preconceito. Quando uma raça tenta se achar superior, como aconteceu na Alemanha de Hitler, nós sabemos no que deu. Aqui nós aceitamos qualquer um, sem distinção”

PASTOR LÚCIO CARLOS - IGREJA PRESBITERIANA DO CENTENÁRIO

1- Como você vê a inclusão do público LGBT no âmbito religioso?

“Essa inserção precisa ser vista sem outros caminhos. Por exemplo, igrejas que dizem: ‘abraçamos vocês do jeito que vocês estão e concordamos com isso’. O evangelho não pode entrar neste relativismo. A forma certa de se viver é como Jesus viveu”

2- O que você acha do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

“Quem vive junto tem os seus direitos e o Estado garante isso. Mas, com relação ao casamento legal, eu, com o pastor, não vou fazer. A minha prática, as minhas ideologias, as minhas raízes não me permitem. A minha ótica cristã não me permite e ela também precisa ser respeitada. As pessoas são livres como cidadãos, agora dizer que nós concordamos, não”

3 - Como a sua religião recebe estas pessoas?

“Nós não vamos impor nada. Temos um acompanhamento pastoral. Nós somos marcados pelo pecado e, da mesma forma como qualquer outra pessoa e recebe nossa atenção, eles também recebem. Todos somos a imagem de Deus, no entanto caídos, e precisamos de uma redenção para nos encontramos como indivíduos na Terra”

MOAB JOSÉ DE SOUSA - CENTRO DE VIVÊNCIA ESPÍRITA

1- Como você vê a inclusão do público LGBT no âmbito religioso?

“Não podemos aceitar, em hipótese alguma, nenhum tipo de preconceito, contra quem quer que seja, seja de natureza pela cor, sobre questão social, a sexualidade. A mensagem de Jesus é a mensagem do amor e o amor é absolutamente inclusivo, incondicional”

2- O que você acha do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

“Há pouco tempo, uma jovem me perguntou se era pecado odiar alguém do mesmo sexo. E eu falei que pecado era odiar, alguém do mesmo sexo ou não. Temos que olhar o casamento homoafetivo como uma evolução da humanidade. Não podemos julgar as pessoas, muito menos proibi-las de terem uma vida em comum e buscarem a felicidade”

3 - Como a sua religião recebe estas pessoas?

“A mensagem de Jesus é ‘amai uns aos outros como eu vos amei’, então aqui nós recebemos as pessoas, independentemente do que quer que seja, com muito amor. Aqui é uma casa que tem muitos casais homoafetivos, que são reconhecidos, e são respeitados por isso”

PAI EUCLIDES - CASA FANTI ASHANTI

1- Como você vê a inclusão do público LGBT no âmbito religioso?
“Nós recebemos muitas pessoas deste público. Não temos nenhum problema. Aqui é um terreiro, público de alguma forma, então não vejo problema. E também acho normal que estas pessoas procurem locais religiosos onde elas se sintam bem”

2- O que você acha do casamento entre pessoas do mesmo sexo?
“Quando se trata de casamento oficializado, que me perdoem todos, eu discordo. Conviver é uma coisa, mas oficializar é outra. Talvez seja normal, mas não é natural. Nas leis, desde o início do mundo, não é assim e não pode mudar”

3 - Como a sua religião recebe estas pessoas?
“Aqui na casa Fanti Ashanti o espaço é sagrado para nossa prática espiritual, portanto não é permitido qualquer tipo de coisa, mas dentro da normalidade não temos problemas com nenhum tipo de pessoa. Todo mundo entra e sai e não vejo problema nenhum. Não aceitamos ninguém ficar se agarrando no ambiente

PADRE HAROLDO PASSOS – IGREJA CATÓLICA

1- Como você vê a inclusão do público LGBT no âmbito religioso?

“Devemos respeitá-los, são nossos irmãos. Agora é diferente aceitarmos o que eles querem. Porque nós, religiosos, a Igreja, obedecemos ao evangelho, nós somos evangélicos, então seguimos a Cristo. Nós precisamos obedecer a Deus”

2- O que você acha do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

“Dois homens e duas mulheres não parem, por isso que Deus criou macho e fêmea, para reproduzir. Logo, se eles querem casar, na Lei civil, podem, mas na Lei do evangelho, não. Eu não posso fazer um casamento que não está na Lei de Deus”

3 - Como a sua religião recebe estas pessoas?

“Eles têm direito, desde que não façam baderna. Nós jamais podemos escorraçar esse pessoal da igreja. Não é porque eles são gays que vamos fechar a porta. O próprio Cristo recolhe. Aqui o que manda é o amor. Jesus disse que reino dos céus muitas vezes são dos ladrões e das prostitutas”

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