cabelos volumosos

Assumir os cachos ou crespos: vivemos o início de uma revolução

Surge um movimento entre as mulheres negras de abolir o alisamento

Atualizada em 11/10/2022 às 12h57
(cabelo)

Ah, quanto o cabelo diz sobre o seu dono. Diz das coisas mais simples, como terminar um relacionamento e mudar o corte, às mais complexas, como os mecanismos da nossa sociedade.

No Brasil, onde de uns anos para cá uma onda de alisamentos bateu como tsunami nas cabeças das mulheres começa a mudar, surge um movimento entre as mulheres negras de abolir o alisamento. Um movimento incipiente, é verdade. Mas em crescimento.

Na TV, principal fonte de padrão de beleza, estamos começando a ver mulheres com seus cabelos naturais. Sharon Menezes, na novela das 21h e Lellezinha, em Malhação. Os cachos volumosos delas são um bálsamo para obcecadas por volume.

Se contam nos dedos as negras famosas cacheadas. Elas são exemplos pinçados, mas poderosos por mostrarem um outro lado do espelho a milhões de meninas que passaram a vida alisando, alisando e alisando os cabelos até quase matá-los (só para ficar ainda no rol das famosas, o caso mais punk é o de Naomi Campbell, que hoje tem uma falha irreversível na parte da frente da cabeça).

O alisamento, não se encerra na questão da estética. Por trás dessa obsessão por cabelos retos existe a revelação de um forte sintoma social. Em nome de exercerem a beleza como bem quiserem (sem virarem alvo de sarro nas ruas, como é comum acontecer com quem usa o chamado penteado black power; não serem retratadas por personagens como a nega maluca ou de sofrer discriminação numa entrevista de trabalho) é que vem surgindo iniciativas como as das meninas Black Power.

Trata-se de um coletivo carioca que tem como causa o fortalecimento da autoestima das mulheres negras. Mulheres seguras, também são mulheres com muito mais chances de serem felizes.

Mas são os cabelos um elemento tão importante que, ao dizerem quem são, elas se apresentam assim: "o coletivo Meninas Black Power é formado por mulheres pretas, com formação em diferentes áreas, que optaram pelo cabelo crespo natural e compreendem os significados e significantes dele na sociedade".

Isso me fez lembrar o trabalho de J. D. 'Okhai Ojeikere, um fotógrafo nigeriano, que morreu no ano passado e dedicou parte da carreira a registrar os incríveis penteados das nigerianas.

Durante os anos 60 e 70, Ojeikere fotografou cerca de mil penteados diferentes, que dizem muito sobre aquele momento da Nigéria, recém-independente da Inglaterra. Os penteados chegavam a ter mais de 10 cm e simbolizavam a afirmação da cultura e mais do que isso a expressão da liberdade. Havia modelos de penteados que tinham até direitos exclusivos, uma espécie de patente de algumas famílias.

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