Crise

Na Grécia, aposentados enfrentam grandes filas para receber pensões

Governo fecha bancos para evitar uma retirada em massa de dinheiro; país enfrenta grande dívida internacional

Atualizada em 11/10/2022 às 12h57
(Aposentados tentam entrar em agência bancária na Grécia)

Grécia - Pensionistas gregos se acotovelavam em longas filas ontem para tentar entrar em um número limitado de bancos que foram abertos especialmente para pagar benefícios de aposentadoria. A Grécia fechou seus bancos esta semana para evitar uma fuga em massa de dinheiro, diante do impasse de sua dívida internacional.

A cena simboliza a miséria na qual a Grécia afundou e mostra os problemas crescentes que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, deve enfrentar nos próximos dias, destacou a Reuters. Com os bancos fechados e controles de capital impostos para proteger o sistema financeiro do colapso, a gravidade dos problemas diante do país se torna mais clara a cada dia.

Aposentados - O governo de esquerda de Tsipras subiu ao poder em janeiro prometendo proteger aposentados, e muito do desgaste nas relações com credores internacionais centrava-se em sua recusa em aceitar os cortes em aposentadorias exigidos pelos credores.

Ciente do fato de que muitos gregos mais velhos não usam cartões de crédito ou débito e portanto não têm acesso a caixas automáticos, o governo ordenou que mil bancos abrissem em todo o país para pagar um máximo de 120 euros e emitir cartões.

Porém, com isso criou uma lembrança constrangedora dos custos que o enfrentamento com credores está inflingindo sobre uma sociedade já profundamente afetada por mais de cinco anos de austeridade dura imposta por sucessivos acordos de resgate.

Em um país onde uma em cada quatro pessoas na força de trabalho não tem emprego, o drama dos pensionistas, cujos benefícios mensais muitas vezes podem ser a única fonte de renda para famílias, é uma situação muito sensível.

50 bilhões de euros - A Grécia precisará de ao menos mais de 50 bilhões de euros em financiamentos até 2018 para conseguir fechar as suas contas, estima o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um relatório divulgado ontem.

Segundo o FMI, mesmo que a Grécia aprove o plano dos credores que será submetido a referendo no próximo domingo, o país terá uma necessidade de uma nova ajuda nos próximos três anos. Do valot total, ao menos 36 bilhões de euros teriam de ser financiados com recursos europeus. Hoje, a dívida grega supera 300 bilhões de euros.

O FMI considera a dívida da Grécia "insustentável" e avalia que a situação piorou desde a chegada ao governo do esquerdista Alexis Tsipras, citando o relaxamento das medidas de ajuste fiscal e o adiamento de reformas estruturais e privatizações.

"Se o programa (de 2012) tivesse sido implementado como se presumia, não teria sido necessário um maior alívio de dívida", assinalou a instituição financeira internacional.

A análise, além disso, reduz as previsões de crescimento econômico para a Grécia este ano de 2,5% para 0% e piora suas perspectivas sobre a dívida que antes tinha situado em uma tendência de baixa dos atuais 175% do Produto Interno Bruto (PIB) para 128% em 2020, e que agora está estimada em 150% para essa data.

A Grécia não pagou a parcela de € 1,6 bilhão de sua dívida com o FMI que venceu na terça-feira (30) e entrou em moratória (atraso). No mesmo dia também expirou o programa de ajuda financeira à Grécia.Após a suspensão das negociações com os credores até depois do referendo, a Grécia se centra agora nos preparativos da consulta do próximo domingo.

O porta-voz do governo, Gavriil Sakellaridis, afirmou nesta quinta que uma vitória do "não" permitirá voltar à mesa de negociações para conseguir um acordo em melhores condições.

O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, por sua vez, assegurou que se o "sim" vencer renunciará e não assinará o que qualificou como um "acordo hipócrita", que não aborda questões-chave como a sustentabilidade da dívida.

RESUMO DO CASO:


- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.

- Essa dívida foi financiada por empréstimos do FMI e do resto da Europa

- Terça-feira, 30, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. O país depende de recursos da Europa para conseguir fazer o pagamento.

- Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e pensões para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu nesta terça-feira

- Na terça, o governo grego apresentou uma nova proposta de ajuda ao Eurogrupo

- No final de semana, o primeiro-ministro grego convocou um referendo para domingo (5 de julho). Os gregos serão consultados se concordam com as condições europeias para o empréstimo.

- Como a crise ficou mais grave, os bancos ficarão fechados nesta semana para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.

- A Grécia não pagou o FMI e entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na saída do país da zona do euro.

- A saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da Zona do Euro.

- Com o calote, a Grécia pode ser suspensa do Eurogrupo e do conselho do BC europeu.

- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na região. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.

- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

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