Comentário

Para abraçar a tristeza

Com emoções personificadas e sutis reflexões sobre os sentimentos, Divertida Mente consegue cativar crianças e adultos naturalmente

Poliana Ribeiro / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h57
Cena do filme Divertida Mente
Cena do filme Divertida Mente (Divertida Mente)

“Tristeza, por favor vá embora, minha alma que chora está vendo o meu fim”. O samba de Niltinho atesta uma vontade predominante do ser humano. No mundo hedonista em que vivemos, parece difícil acreditar que momentos de tristeza são importantes, mas isso fica bem evidente no longa-metragem “Divertida Mente”. E por mais que isso possa soar inusitado, depois de assistir ao filme, pode dar até uma certa vontade de abraçar a Tristeza.

A nova animação da Disney e dos estúdios Pixar é diversão garantida para toda a família, mas não apenas isso. Por mais que tenha um visual muito atrativo para as crianças, a história levará muitos adultos à reflexão – e no caso dos mais sensíveis até a lágrimas mal disfarçadas. Tudo começa com um questionamento: quem nunca olhou para alguém e se perguntou o que se passa em sua cabeça?

Logo que nasceu, a cabeça de Riley só tinha espaço para a Alegria. Era ela quem comandava a ainda simples sala de comando – ou o cérebro da menina. Mas isso durou pouco, pois logo a Tristeza chegou e depois o Medo, a Raiva e até o Nojinho – a responsável pelas caras feias diante de um belo pedaço de brócolis, por exemplo. E quanto mais Riley crescia, mais complexa ia se tornando a tarefa de organizar suas lembranças e sensações.

Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho são as personificações das emoções vivenciadas por Riley, que chegou aos 11 anos de idade com uma forte ligação com os pais, os amigos, o hóquei e com sua cidade natal no estado de Minnesota. O problema é que, sem que Riley saiba o porquê, seus pais decidem se mudar para San Francisco e, por mais que a Alegria ainda tente se estabelecer no comando dos sentimentos da garota, fica um pouco difícil de aceitar uma mudança tão drástica e cheia de percalços.

E é nesse momento que a sala de comando de Riley vira uma grande bagunça, com a Tristeza causando – não intencionalmente - alguns problemas. Alegria e Tristeza acabam ficando presas nas ilhas do pensamento de Riley, sem saber como retornar à sala de controle, que fica sob o comando dos atônitos Medo, Raiva e Nojinho. Toda essa bagunça emocional se reflete no comportamento da garota, que de repente não consegue mais se conectar com os pais, nem ver mais alegria em nada.

De forma singular, “Divertida Mente” mostra a confusão de sentimentos e sensações próprias do início da adolescência, o que talvez acabe sendo um pouco complexo para os pequenos espectadores. Para eles, a primeira e a última parte do filme funcionam muito bem, mas outros momentos podem causar alheamento – como quando Alegria e Tristeza acabam entrando no subconsciente de Riley, encontrando alguns dos seus medos ou até mesmo quando encontram o amigo imaginário da garota, que embora seja fofo (ele chora balas!) tem um quê de melancolia, afinal foi esquecido em algum lugar dos pensamentos da menina.

Mesmo sendo um longa-metragem de animação, “Divertida Mente” segue a tendência das produções da Pixar, como “Toy Story”, “Procurando Nemo” e “Monstros SA”, de levar a reflexões de forma bastante natural. O filme provocará sorrisos, mas também conduzirá muitos adultos aos bons tempos da infância, quando os sentimentos pareciam mais simples. E aqui vale um destaque especial para a Tristeza, a personagem mais cativante da história e a responsável por colocar tudo nos seus devidos lugares, pois, por mais que seja melhor “ser alegre que ser triste”, abraças a Tristeza de vez em quando também tem sua importância.

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