Crônica

Os beija-flores e a notícia na televisão

Ivan Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h57

Já faz algum tempo, a televisão Mirante, nos brindou a todos, com um momento de rara beleza telúrica, de pura e comovente poesia natural, em pleno noticiário do seu jornal de meio dia. Foi como um banho de água fria e límpida, no meio de uma manhã quente, tensa por tantas notícias de crimes e pretensos criminosos, por tantas coisas graves que degradam o ser humano e nos enchem de inquietação com o dia de amanhã.

A cena mostrava, com um senso de oportunidade poucas vezes revelado em nossas emissoras de televisão, um ninho de beija-flores, com dois filhotes recém-nascidos e seus orgulhosos pais, pousando de sentinelas. O ninho estava onde esteve, por muito tempo, sobre o tronco de uma mangueira, na densa área verde do extinto restaurante Ronco do Mar, às portas da praia de São Marcos.

Como foi belo, como foi bom, termos sido contemplados com aquela cena tão especial, de tão grande sentido poético e telúrico, no meio de tanta notícia desabonadora para o ser humano. Estava em casa, preparando-me para o almoço, quando vi aquelas cenas comovedoras, por seu significado natural, serem estampadas num jornal da televisão, onde sempre estão presentes as notícias mais dramáticas, mais duras e mais degradantes para o ser humano; mais sensacionalistas, para os interesses e equívocos das reportagens nacionais da televisão.

O texto falava de algo raro e belo, em meio aos cotidianos acontecimentos que o noticiário exibe, aos olhos perplexos de uma sociedade cada vez mais intimidada e impotente, ante as ações de sombra sobre as hostes da luz. Chamava a atenção para os dois filhotes, dentro do ninho, mostrando-os com suave ternura; realçando o paciente orgulho de seus pais, sentinelas cuidadosos e complacentes, com a presenças de estranhos olhos de curiosidades, do objeto câmera e da equipe de reportagem que ali estava.

Como foi belo, como foi bom, termos sido contemplados com aquela cena tão especial, de tão grande sentido poético e telúrico, no meio de tanta notícia desabonadora para o ser humano.Ivan Sarney

Para completar o banho de água fria, mas com imensa graça e delicadeza, a reportagem foi feita por uma repórter, com toda a extremada sensibilidade de sua alma feminina.

Tal fato, para mim, está cheio de relevância, por inserir algo novo e edificante, dentro de algo que tem sua fórmula já definida, integrando sua personalidade construtiva, que é o jornalismo de televisão. A mesma fórmula que já nos embotou a tolerância e nos elevou a graus extremos de reprovação, por tudo o que exibe de degradante, de desabonador, de chocante, de pura exortação à descrença do homem, como espécie animal.

A cenas que o jornal exibiu estavam cheias de uma profunda ruptura com esse tipo de noticiário, com essa fórmula de fazer jornalismo, com esse hino de negativismo que é o noticiário da televisão brasileira, até onde podemos perceber.

Essa me parece uma grande contribuição que o jornalismo televisionado do Maranhão oferece ao país, mostrando que tem olhos para ver outras realidades que nos circundam e que são construtivas para o ser humano, por elevar-nos a todos e nos fazer enternecer, no aconchego de nossos lares, nos ambientes de nossos trabalhos, onde entram as imagens do noticiário da televisão. Quase sempre para mostrar a miséria, a desgraça, o infortúnio, a destruição.

Esta crônica tem, portanto, o sentido de congratular-me com os que fizeram e fazem o jornalismo da Mirante, estimulando-os a prosseguirem com matérias como essa, que parecem amenidades, mas não o são. São verdadeiros oásis de humanismo, de poesia, de filosofia, de reflexão branda e singela para todos os que as vêm, ajudando a construir um novo otimismo, uma nova esperança no coração do homem, para com os nossos destinos e nosso futuro.

Por que os noticiários da televisão, das rádios, dos jornais, têm que ser sensacionalistas? Por que têm que ser degradantes, para com a condição humana? Por que têm que estar a serviço do pessimismo, da descrença no homem, como a mais bela de todas as criações divinas? Por quê? Será que só a degradada condição humana consegue vender noticiário, motivar audiências elevadas?

A resposta de hoje pode até ser sim, porque esses são os padrões gerais de agora. Mas a resposta do amanhã pode ser não, se outros forem os padrões adotados, semelhantes a essa postura, a essa forma de ver a realidade, que nos brindou com aquela notícia singela, como algo de muita importância para todos nós. E de fato, era e é uma notícia muito importante para todos nós, sim. O nascimento de dois novos beija-flores, que são tão especiais no reino da fauna brasileira; que vão fecundar as flores; que vão adornar a beleza das manhãs e das tardes de estio, como o fizeram em minha infância; que vão estender a poesia aos olhos de justos e injustos.

Guardei a emoção que aquela reportagem me causou na alma, sabendo o quanto de bom e belo ela produziu na alma de todos os que a viram, e que estão querendo um jornalismo menos violento, mais respeitoso e comedido com a condição humana, mais estimulante para com as coisas que são construtivas para a nova sociedade, mais atento para as mudanças que o mundo está sofrendo, em torno de nós, diante de nossos olhos, a todo momento, nos alertando para o fato de que toda a vida na Terra é movimento, como todo o sistema solar é movimento; como a energia que faz as forças centrífugas e centrípetas dos corpos celestes é movimento; como Deus, que é energia difusa, é movimento.

Que boa nova o jornalismo nos trouxe, pelos olhos e pela sensibilidade aguçada de uma de suas repórteres! Que boa nova a televisão nos deu, mostrando que nem tudo é destruição e desesperança em torno de nós! Que boas novas a natureza e os homens nos dão, a cada momento, e que infelizmente, não aparecem na televisão.

Depois daquele momento especial, estamos esperando que a cada novo dia, o jornalismo da televisão possa nos brindar com outras notícias como essa, e ajude a reacender, na alma de cada cidadão, uma esperança a mais, um sentimento de otimismo, de beleza, de pureza e valorização do singelo, do sutil, do necessário, criando condições para uma vida melhor, aqui na Terra. Amar a cidade é se enternecer com a natureza. É preciso amar a cidade.

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