Despedida

Em clima de forte comoção, Mestre Apolônio é enterrado em São Luís

Amo do bumba-meu-boi da Floresta, sotaque da baixada e do Tambor de Crioula de Apolônio, foi enterrado ontem em São Luís

Atualizada em 11/10/2022 às 12h58

Sob batuques dos tambores e das matracas, o comendador e nome de referência da cultura popular do Maranhão, mestre Apolônio Melônio (amo do bumba meu boi da Floresta), foi enterrado na tarde de ontem, no Cemitério do Gavião, na Madre Deus, em São Luís. Amigos, familiares e integrantes de outros grupos folclóricos foram prestar-lhe as últimas homenagens.

Antes de o corpo de Mestre Apolônio chegar ao cemitério, foi realizado por volta das 14h um cortejo pelas ruas e avenidas do bairro Liberdade. A cada passo, uma toada conhecida dos grupos liderados, ao longo dos anos, por Apolônio. Em seguida, o corpo do comendador foi transportado por um veículo até o cemitério do Gavião.

Recebi com muita emoção a notícia da morte de Mestre Apolônio, um dos símbolos dos folguedos do Maranhão e que dedicou a sua vida a um dos grupos de bumba meu boi mais representativos do nosso estado. Recordo na minha mocidade, quando eu, Bandeira Tribuzi e outros escritores da época, acompanhávamos o Boi de Apolônio e prestigiávamos o seu trabalho. É uma enorme perda para a cultura popular do nosso estadoJosé Sarney, ex-presidente da República

Saudação - Na chegada, o corpo do amo foi recebido com muita festa e, ao mesmo tempo, emoção. Tambores e matracas ecoaram, por alguns metros, na Rua do Passeio, até chegar ao cemitério. No traslado até a capela do local, integrantes do bumba-boi da Floresta cantaram “Urro do Boi”, de Coxinho, uma das canções mais conhecidas das festas juninas do estado.

No transporte do caixão até o túmulo, uma forte chuva surpreendeu a todos os presentes. “Isto não pode ser coincidência, devem ser os deuses que estão abençoando o nosso amo Apolônio”, disse a integrante do bumba-boi da Floresta, Sofia Lopes. Emocionadas, centenas de pessoas se amontaram em volta do túmulo para a última homenagem ao amo. “Viva Mestre Apolônio!”, gritavam todos, sob uma salva de palmas e ainda debaixo de chuva.

Durante o enterro, uma das filhas de Mestre Apolônio, Juliana Apolônio, passou mal e precisou ser carregada por populares. Ela foi encaminhada para um hospital da capital maranhense, mas passava bem.

Minutos após o enterro, a viúva de Mestre Apolônio, Nadir Cruz, enalteceu as qualidades do amo e valorizou o seu trabalho em benefício da cultura popular maranhense. “Faço um apelo a todos para que sempre se lembrem da história de vida de mestre Apolônio. Um homem que dedicou a sua vida em prol da cultura e cuja marca e luta diárias jamais serão esquecidas”, afirmou.

Outros dirigentes ligados à cultura do Maranhão também estiveram presentes ao enterro de Mestre Apolônio. “Perdemos um grande homem, no entanto, uma história fica, cujo prosseguimento será dado pelos netos, filhos e demais amigos de Apolônio”, disse o diretor do Boizinho Barrica e do Bicho Terra, José Pereira Godão.

Perfil - Homenageado na categoria Comendador, Mestre Apolônio, aos 97 anos de idade, é um dos nomes de referência da cultura popular no Maranhão. Fundador do

Recebo essa notícia com muita tristeza. Tive a honra de conviver com Apolônio, um homem que nos ensinou muito com o amor que sempre teve pelas manifestações culturais do nosso estado. Me solidarizo com a família e os amigos. Que o mestre siga em pazRoseana Sarney, ex-governadora do Maranhão

Bumba Meu Boi da Floresta, sotaque da baixada e do Tambor de Crioula de Apolônio, sempre teve uma trajetória importante ligada à cultura popular do Maranhão. O bumba meu boi foi fundado há 40 anos, e é um dos expoentes da tradição da cultura maranhense. Além disso, o mestre Apolônio tem uma história de vida que se confunde com a da cultura do Maranhão.

Aos 8 anos de idade, ele começou a participar de grupos na região da Baixada Ocidental Maranhense e ajudou a fundar o Boi de Viana e o Boi de Pindaré. Apolônio Melônio veio para São Luís em 1939. Sobreviveu ao acidente do navio Maria Celeste, que pegou fogo na Baía de São Marcos em 1954. Além de trabalhar como estivador, Apolônio dedicou a vida à manutenção da tradição folclórica do bumba meu boi.

Ao lado de mestre Coxinho, foi um dos fundadores do boi de Pindaré, conhecido pela exuberância dos cazumbás e sonoridade singular. Uma de suas frases marcantes foi proferida em 2009, em entrevista à Rádio Mirante AM: “ Sempre quis ter um grupo de bumba-boi vistoso, bonito, que marcasse na cultura do meu estado. Acho que consegui o meu objetivo”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.