Crônica

A Coluna chega a Balsas

Sálvio Dino

Atualizada em 11/10/2022 às 12h59

Eloy Coelho Neto, “é personagem que o cotidiano incorporou à paisagem do nosso mundo literário, de nossa criação artística e ao patrimônio humano-cultural maranhense”... (Milson Coutinho).

Toda essa luminosa estreita pensamental, peço a devida licença ao meu querido confrade Milson, a fim de dizer, de viva voz: “Thucydes Barbosa também é uma figura lendária da nossa vida pública, do patrimônio humano-cultural maranhense”.

Pois bem. O inesquecível professor Vitor Milesi, o eterno presidente da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), em seu magistral livro “O Carvalho do Tasso”, uma espécie de voo como diria o mestre Milson – voo de condoreiro em céus de plenitude azul, resgata do lamentável e inconcebível limbo do esquecimento – as páginas memoráveis do escritor, homem público – Thucydes Barbosa – sobre a chegada da Coluna Prestes a Balsas.

Foi nesse clima sombrio que o povo recebeu a notícia da aproximação da Coluna Prestes vinda das bandas do Goiás. Alvoroço geral.Sálvio Dino
Flechemos o alvo:

“Possuímos fotocópia do original datilografado de “Subsídios para a História do Maranhão, Passagem da Coluna Prestes”, onde o autor descreve os fatos como testemunha ocular”.

A narração começa com um toque suavemente lírico:

“Desde o amanhecer, o dia mostrava-se nublado. E ora mais carregadas as nuvens e ora menos, sem, contudo, precipitarem-se em chuvas, o tempo era coberto por um véu de tristeza. A aragem constante e fria, a falta de sol que não apareceu se quer um instante, a atmosfera cor de cinza, tudo contribuía para aquele ambiente triste...

(...) Era o Dia dos Mortos - 2 de Novembro de 1925 – e o palco dos acontecimentos, a pitoresca e progressiva cidade de Balsas, no alto sertão maranhense”.

Foi nesse clima sombrio que o povo recebeu a notícia da aproximação da Coluna Prestes, vinda das bandas do Goiás. Alvoroço geral. Informações desencontradas, assustadoras. Mas, aos poucos, a população veio sabendo que – os revoltosos nenhum mal faziam às populações sertanejas...

Nos fins de novembro, Balsas foi ocupada, sem resistência, por Siqueira Campos com o 3º e o 4º Destacamentos, tendo-se estabelecido ali o Quartel General do Estado Maior, “FOI-LHES DISPENSADO, PELA SUA HOSPITALEIRA POPULAÇÃO, O MAIS CARINHOSO ACOLHIMENTO. AO ESTADO MAIOR, O PREFEITO MUNICIPAL (o próprio Thucydes) OFERECEU UM BANQUETE QUE SE REALIZOU EM SUA RESIDÊNCIA E AO QUAL ASSISTIRAM AS PESSOAS MAIS GRADAS E DE MAIOR REPRESENTAÇÃO NO SEU MEIO SOCIAL. TODAS AS TARDES, A BANDA DE MÚSICA DAVA RETRETA NA FRENTE DO EDIFÍCIO DA CÂMARA, ONDE SE ACHAVA INSTALADO O QUARTEL GERAL. (vide foto do antigo prédio da Câmara Municipal Balssense)”.

...

A entrada da Coluna Prestes em Balsas descrita por Thucydes apresenta também episódios engraçados. Descreve assim:

Pesca Milagrosa - apesar das ordens em contrário, houve venda de cachaça e alguns soldados ficaram embriagados. Siqueira Campos soube. Mandou punir os faltosos e percorrer todas as casas onde houvesse bebidas derramando-as na rua. Antônio Lúcio, quitandeiro e dono de engenho tinha um garrafão cheio, da boa. Não querendo perdê-la amarra uma corda ao gargalo do garrafão e o desce ao fundo do poço. Poucos momentos após chegou uma patrulha e toda a residência foi vasculhada. Nada foi encontrado, mas vagava no ar um cheiro de bebida. Um soldado aproximou-se do poço, notou que a água estava toldada. Chamou a atenção dos outros companheiros e munidos de um gancho de ferro, com três mais pontas, atiram-no a uma corda e passaram a pesquisar no fundo do poço. Daí a momentos pescaram o garrafão; poucos instantes decorridos – a “boa” tinha sido totalmente bebida.

A patrulha foi da recolhida à cadeia, recebendo o merecido castigo.

(...) a descrição da passagem da Coluna Prestes, termina com um outro episódio intitulado – “Atrocidades”. Um sargento e um soldado da Coluna adoeceram e permaneceram em Balsas, com um “doutor revoltoso”, quando se deu a evacuação da tropa. O comandante de um destacamento policial que tardiamente se dirigia para Carolina ficou sabendo e mandou efetuar a prisão dos “revoltosos”. Chegando em Balsas numa noite chuvosa não fizeram a prisão dos “revoltosos doentes”, os massacraram enquanto dormiam. O texto de Vitor, diz ainda:

NÃO SATISFEITOS COM A BARBARIDADE COMETIDA, DEMONSTRANDO VALENTIA E HEROÍSMO (grifado no original) NO ATO DA INUMAÇÃO DOS CADÁVERES, FIZERAM INÚMEROS DISPAROS DE FUZIL SOBRE OS CORPOS, NO FUNDO DA SEPULTURA, REDUZINDO-OS A UMA POSTA DISFORME DE CARNE HUMANA”.

O autor revela a sua pessoal avaliação do histórico episódio da Coluna Prestes – concluindo:

A população, testemunha presencial da brutalidade, quedava estarrecida, pensando na diferença de comportamento das duas forças armadas.

E, o sempre saudoso confrade (AIL), professor Milesi com acerto e propriedade – mais uma vez nos ensina:

“Pois é. Nem sempre é muito nobre o que se costuma chamar de heroísmo, nem muito errado o que é chamado subversão”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.