Promessa que se tornou catedral de São Luís

Igreja de Nossa Senhora da Vitória começou a ser construída em 1620 e tronou-se Igreja da Sé após expulsão dos jesuítas

Jock Dean Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 13h02
Divulgação/Paulo Soares
Divulgação/Paulo Soares (T)

Cerca de 10 anos após sua fundação, São Luís viveu um surto de varíola. Hoje, a doença é considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas no século XVII, sem vacina, o vírus era mortal. Para proteger a população da cidade, à época estimada em 300 almas, o capitão-mor Domingos da Costa Machado fez uma promessa à Santíssima Virgem, mandando construir a Igreja de Nossa Senhora da Vitória. De pagamento de promessa a Catedral Metropolitana de São Luís, o templo mantém sua tradição diante das diversas reformas que sofreu.

O surto de varíola não dizimou a população, mas interpretando os fatos históricos com a mesma percepção que Domingos da Costa Machado teve sobre a epidemia, não seria estranho dizer que Deus não ficou de todo satisfeito com o pagamento da promessa, visto que, ao longo dos quatro séculos de fundação da cidade, foram constantes os pedidos para restauração e construção de um novo templo dedicado a Nossa Senhora da Vitória.

Em 1713, tramitou no Senado da Câmara de São Luís uma petição do padre vigário da matriz da Sé, informando as péssimas condições materiais daquele templo, onde os paramentos e demais ornamentos necessários para o culto divino eram ainda os mesmos trazidos em 1680 por dom Gregório dos Anjos, primeiro bispo do Maranhão. Ainda em 1718, mandou El-Rei de Portugal que se reconstruísse a Sé, aplicando o produto da venda de 200 índios, o que possivelmente não ocorreu, visto que em 1720 o bispo D. José Delgarte pedia a reconstrução da Matriz, pois o templo existente estava ameaçado de ruir, às escuras e imundo, sem capacidade nem alfaias para as funções episcopais.

Em 1768, ocorreu uma das mais significativas reformas na catedral, que anos antes tinha passado a funcionar na antiga Igreja de Nossa Senhora da Luz, já que a então Igreja de Nossa Senhora da Vitória havia sido demolida por causa do seu estado precário de conservação. Essa reforma ocorreu para adaptar a Igreja da Luz à condição de Sé Catedral. Dessa documenta-se apenas a ampliação da capela-mor para dar lugar aos ofícios de coro e pontificais, mas é provável que ainda no século XVIII outras intervenções tenham ocorrido.

A história de reconstruções, reformas e restaurações da Igreja de Nossa Senhora da Vitória inclui ainda um episódio ligado à queda de um raio na torre dos sinos em abril de 1849. D. Manuel Joaquim da Silveira, bispo do Maranhão, determinou, então, a mudança do Cabido para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, fechando a catedral para reforma, sendo reaberta em 1854. A última restauração feita no templo foi em 2013/2014, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), quando o Museu de Arte Sacra do Maranhão foi instalado no Palácio Episcopal, que funciona em prédio anexo à catedral.

Estilo - Tantas reformas alteram suas feições arquitetônicas. Uma das mais marcantes delas foi a ocorrida em 1922, quando foi construída uma segunda torre e remodelação da fachada no estilo neoclássico, opondo-se ao antigo, que era no estilo barroco. Durante a obra, a catedral foi separada do Palácio Episcopal com a demolição de um consistório e as salas de reuniões do Cabido (atualmente, um pequeno jardim de inverno). Também houve a colocação da imagem de Nossa Senhora da Vitória no frontão do templo, obra do escultor português Joaquim Pereira da Costa.

As intervenções feitas, sobretudo ao longo dos séculos XIX e XX "alteraram-lhe o interior e a fachada e acrescentaram-lhe compartimentos internos, transformando-a em uma igreja complexa, do ponto de vista estilístico, em decorrência das diversas transformações e inserções ocorridas que a transformaram em um agrupamento confuso, ao qual se tentou dar uma unidade artística, no final da primeira metade deste século, através de uma pintura profusa e policromática, bem ao gosto da época, que acabou por esconder de vez a maior parte dos elementos de valor artístico individualizado, perdidos e mal adaptados a um contexto estilístico estranho, embora tenha em alguns momentos, esta tentativa de harmonia, cumprido o seu papel, como no caso das pinturas dos forros, que, vazios, deixariam um claro melancólico no amplo espaço interno do templo", conforme consta na publicação Arquitetura e Arte Religiosa no Maranhão (2008).

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De Nossa Senhora da Luz para Nossa Senhora da Vitória - Em 1622, chegou ao Maranhão a primeira missão definitiva da Companhia de Jesus, estabelecendo-se em São Luís em 1627, por meio dos padres Luís Figueira e Benedito Amodei. Em 1622, tem início a construção do Colégio e Igreja e Nossa Senhora da Luz pelo padre Luís Figueira. O colégio constituía-se de um único corredor de pedra e cal, alinhado com o Rio Anil e com as muralhas da cidade, tendo ao lado a primeira Igreja de Nossa Senhora da Luz, também em pedra e cal. Por volta de 1690, iniciam-se a construção da nova Igreja de Nossa Senhora da Luz, inaugurada solenemente em 1699. Por volta de 1761, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória é demolida e o Colégio dos Jesuítas e sua Igreja de Nossa Senhora da Luz foram destinados a ser o Palácio dos Bispos e Catedral de Nossa Senhora da Vitória, respectivamente. Uma vez instituída Catedral de São Luís, a Igreja de Nossa Senhora da Luz tomou o orago de Nossa Senhora da Vitória, servindo como Sé até hoje.

Silhar de azulejos - Principal símbolo da arquitetura de São Luís, os azulejos também estão presentes na Catedral Metropolitana da Cidade. Na parede de acesso ao antigo consistório da catedral há um silhar de azulejo português fabricado em Lisboa no período compreendido entre 1790 e 1805. Trata-se de painéis emoldurados, policromados, nas cores amarelo ocre, manganês escuro/avinhado, verde azeitona e azul acinzentado, com cercaduras relativamente simples, completados por rodapés com efeito marmorizado.

Sé?! - Popularmente chamada Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de São Luís é a Igreja de Nossa Senhora da Vitória. Catedral ou Sé é o templo cristão em que se encontra a sede de um bispo e uma diocese, com seu cabido. O termo catedral deriva do latim cátedra, cadeira de espaldar alto em que se senta um bispo. Em português, utiliza-se ainda o termo Sé Catedral - ou apenas "sé" - para designar uma catedral, sendo esta designação derivada da palavra "sede". O adjetivo catedral foi ao longo dos tempos assumindo o caráter de substantivo, e é hoje o termo mais comumente utilizado para designar estas igrejas. De acordo com o título dos prelados à frente da catedral, esta pode ser denominada catedral episcopal, metropolitana, patriarcal ou primada. Catedral Metropolitana é uma catedral à qual as outras catedrais de determinada província são sufragâneas. No caso da Catedral Metropolitana de São Luís, são sufragâneas Bacabal, Balsas, Brejo, Carolina, Caxias, Coroatá, Grajaú, Imperatriz, Pinheiro, Viana e Zé Doca.

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