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Falso: Governo do MA não adotou tratamento precoce contra a Covid, como afirmou candidato

Candidato ao Governo pelo PSC, Lahesio Bonfim, afirmou durante a Sabatina Imirante que protocolo havia sido adotado pela SES em 2020.

Checagem Imirante

Atualizada em 17/08/2022 às 14h56
Lahesio foi entrevistado pelo Sabatina Imirante
Lahesio foi entrevistado pelo Sabatina Imirante (Foto: Juliana Chaves/Grupo Mirante)

SÃO LUÍS - É falsa a informação dada pelo candidato ao Governo pelo Partido Social Cristão (PSC), Lahesio Bonfim, de que o Governo do Maranhão aplicou o protocolo de tratamento precoce contra a Covid-19, em 2020.

A declaração de Lahesio foi dada durante entrevista ao programa Sabatina Imirante, no dia 9 de agosto. O programa foi transmitido ao vivo pelo Imirante.com e pelo canal do portal no youtube.

Na ocasião, Lahesio respondia a perguntas sobre Saúde [tema sorteado durante a sabatina], quando afirmou que somente aplicou o tratamento precoce no município de São Pedro dos Crentes em 2020, ocasião em que ele era prefeito daquela cidade, depois de o próprio Governo do Estado, sob a gestão do ex-governador Flávio Dino (PSB), ter dado início ao protocolo.

Lahesio disse que havia recebido um e-mail da Secretaria de Estado da Saúde (SES) com a orientação para que a gestão municipal fosse realizar a retirada de medicamentos que poderiam ser utilizados no protocolo.

O Imirante.com entrou em contato com o candidato e solicitou uma cópia do suposto e-mail. Ele informou que providenciaria o documento, mas desde então não respondeu mais as mensagens.

O que disse Lahesio Bonfim durante a Sabatina Imirante?

“Primeiro, não foi só eu que implementei o tratamento precoce: o Governo do Estado, o Brasil implementou o tratamento precoce. No começo, todo mundo estava fazendo. Eu recebi email da Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão: ‘venha buscar as suas doses de hidroxicloroquina, a suas doses se azitromicina, de ivermectina que o teu município tem direito'. Eu recebi esse email, como muitos prefeitos receberam, para fazer o tratamento precoce. Agora vem cá, tu acha que não valia a pena tentar quando dizia que você tinha uma esperança. Se você tinha uma esperança você tinha que tentar, e eu fiz, eu tentei também. Eu sou médico. Olha, onde eu aprendi Medicina dizia que a relação médico-paciente é tão importante quanto a relação científica entre dar certo ou não. A relação médico-paciente é muito importante para que você resolva aquela patologia. Se o paciente acreditar que o que tu está passando para ele vai sarar, ele vai tomar e vai sarar. E você que está do outro lado da telinha, você que faz saúde pública, você sabe o que estou dizendo. […] a medicação precoce foi implementada quando tinha a orientação para fazer e depois quando não tinha mais orientação, nós fazíamos aquilo que era implementado nas UTIs”. 

O que diz o Governo?

O Portal Imirante entrou em contato com o ex-secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula, no dia 12 de agosto (sexta-feira) e solicitou respostas a respeito das declarações de Lahesio Bonfim.

O ex-secretário negou que o estado do Maranhão tenha adotado o tratamento precoce contra a doença. Ele explicou que a aplicação de medicamentos como cloroquina, por exemplo, somente ocorreu durante um período de testes em pacientes diagnosticados com a doença e internados.

Lula reforçou que houve sim a distribuição de alguns medicamentos a municípios, mas somente para a utilização em pacientes que estavam em estágio inicial da doença, e não para tratamento precoce, como afirmou Lahesio Bonfim.

“Nunca encaminhamos e-mail com a orientação para tratamento precoce. O que houve foi a mudança ao longo da pandemia no tratamento. A gente tinha uma comissão de infectologistas e essa comissão é que era responsável por fazer as diretrizes, para a gente seguir. Em abril de 2020 a comissão já não recomendava o uso da cloroquina, porque os primeiros testes que haviam sido feitos com pacientes internados não tinham tido nenhum resultado positivo. Mas sim, eu acredito que nos primeiros 30 dias a gente utilizou (o medicamento) diante da inexistência de qualquer evidência contra e a favor, como muitos estados utilizaram, mas logo a gente desfez o encaminhamento e deixou de usar nos testes. Dentro da autonomia dos médicos, eles estavam tentando as medicações nos pacientes para ver se surtia efeitos. Mas, não durou mais do que 30 dias e não, não teve email orientando para aplicar o tratamento precoce. A gente tinha recomendação para iniciar tratamento logo nos primeiros sintomas, e isso não quer dizer que é para tratar com cloroquina”, disse.

E completou: “A gente teve a distribuição de medicamentos a municípios do Maranhão, mas a gente não teve a distribuição de cloroquina”, pontuou.

Fatos de 2020

O Imirante.com fez um levantamento a respeito dos protocolos adotados no combate à Covid-19 no ano de 2020 e não encontrou, de fato, nenhuma diretriz da SES que apontasse para o tratamento precoce da doença.

No entanto, ao contrário do que o secretário Carlos Lula afirmou sobre o uso da cloroquina ter sido interrompido em abril daquele ano - para pacientes com os primeiros sintomas da doença -, ainda houve protocolos médicos para o tratamento inicial com o medicamento nos meses seguintes.

A exemplo disso, há a reportagem “Maranhão insere novo protocolo de cloroquina e disponibiliza kit de medicamentos”, no site da CNN Brasil, que conta com entrevista do médico Rodrigo Lopes, naquela oportunidade, assessor especial da SES.

Esse ponto específico, contudo, não dá sustentação às declarações de Lahesio. 

Protocolo da SES

A reportagem acima citada mostra que a SES havia adotado no dia 17 de maio daquele ano um novo protocolo de medicamentos para o tratamento da Covid-19 com sintomas leves. 

A medida priorizava pessoas com comorbidades, com exceção de doença cardíaca, no período de 1º até o quinto dia de infecção.
 
O protocolo consistia em um kit de fármacos que combinavam hidroxocloroquina, azitromicina, um corticoide, vitaminas C e D, além de remédios para febre e dores, como paracetamol e dipirona.
 
Rodrigo Lopes afirmava, na ocasião, que estudos mostravam que o uso combinado dos medicamentos utilizados na fase mais grave e moderada da doença não possuía comprovação de sua eficácia. No entanto, ainda era possível utilizá-los na fase inicial da enfermidade.

“Hoje as discussões são entorno do uso precoce dessa medicação para pacientes com sintomas leves e na fase inicial da doença, por isso o Maranhão, assim como outros estados, vem adotando o uso desse kit, na fase inicial da doença – principalmente nos grupos de risco, desde que com criteriosa avaliação do paciente e aceitação do mesmo em tomar a medicação”, disse.

O discurso do médico, na ocasião, corrobora com o que disse Carlos Lula ao Imirante.com, no que diz respeito ao uso do medicamento somente no estágio inicial da doença, e não para o tratamento precoce, como sugeriu Lahesio Bonfim.

O que afirmava Flávio Dino sobre o tratamento precoce naquele período?

Naquele mesmo mês, quando se discutia em todo o país o protocolo de prevenção à doença com uso de medicamentos [tratamento precoce], o governador Flávio Dino rechaçou adotar a conduta no Maranhão, como política de saúde pública. 

Em um artigo que levou o título “Lockdown, prevenção e remédios”, publicado em veículos de imprensa, Dino afirmou que caberia aos médicos optarem pelo melhor tratamento para os seus respectivos pacientes.

O artigo foi escrito depois de a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Sindicato dos Médicos do Estado do Maranhão (Sindmed-MA) encaminharem ao ex-governador um ofício em que recomendavam a adoção de um novo protocolo no tratamento de pacientes de Covid-19.

“Recebi estranhos documentos pedindo que eu diga aos médicos que a cloroquina é eficaz contra o coronavírus, o que agride um princípio que cultivo com rigor: o da legalidade. Lamento que ainda existam pessoas que embarquem em delírios ideológicos e cheguem a esse ponto, aumentando o caos sanitário como estamos vendo em nível nacional. Como repito há várias semanas, a cloroquina está disponível na rede pública estadual, mas não é o governador quem decide a prescrição, e sim os médicos, e não serei eu a violar a lei e determinar a prescrição em massa deste ou de qualquer outro medicamento, como se eu fosse médico. Quanto ao tratamento nas redes municipais, também não detenho competência legal para interferir nisso, pois somos uma Federação e os municípios têm seus próprios governos, seus orçamentos e equipes de saúde”

Conteúdo investigado

Declaração do candidato ao Governo Lahesio Bonfim a respeito da suposta implementação do protocolo de tratamento precoce da Covid-19 pelo Executivo Estadual em 2020.

Conclusão

Afirmação é falsa.

Perguntas levantadas pelo Checagem Imirante

O Governo do Estado adotou o protocolo de tratamento precoce da Covid-19 no Maranhão?

O Governo do Estado orientou municípios a adotarem o protocolo?

Houve a distribuição de medicamentos para municípios?

O que afirmava a gestão de saúde em 2020 sobre o tratamento precoce da doença?

O medicamento Cloroquina foi utilizado no Maranhão para tratamento de pacientes com Covid-19?

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