Novembro azul

Homens ainda deixam de se tratar por preconceito e vergonha

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), diariamente, 42 homens morrem em decorrência do câncer de próstata.

Imirante.com, com informações da assessoria

Atualizada em 27/03/2022 às 11h05
Novembro é o mês de conscientização e prevenção ao câncer de próstata.
Novembro é o mês de conscientização e prevenção ao câncer de próstata. (Foto: Reprodução)

SÃO LUÍS - O movimento Novembro Azul iniciou em 2003, na Austrália, com o objetivo de promover a conscientização sobre cuidados com a saúde dos homens e o diagnóstico precoce das doenças que atingem a população masculina, com ênfase na prevenção do câncer de próstata.

Para o médico urologista Elimilson Brandão, o homem está mais consciente da necessidade de fazer exame de câncer de próstata. “Ainda existe preconceito, mas com novembro azul melhorou bastante, e a tendência é continuar fazendo a massificação da informação e fazer os homens entender que todos os meses são importantes pra fazer essa triagem. Então previna-se, procure seu urologista e faça uma avaliação prostática anualmente, homens a partir de 50 anos e homens negros ou com histórico familiar devem iniciar essa triagem aos 45 anos” alerta o médico.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), diariamente, 42 homens morrem em decorrência do câncer de próstata e, aproximadamente, 3 milhões vivem com a doença. Em 2019 foram diagnosticados 68.220 novos casos de câncer de próstata e cerca de 15 mil mortes em decorrência da doença no Brasil. É o tipo de câncer mais frequente entre os homens brasileiros, depois do câncer de pele, ocorrendo geralmente em homens mais velhos, a maioria dos casos em pacientes com mais de 65 anos.

A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, que pesa cerca de 20 gramas e se assemelha a uma castanha. Localiza-se abaixo da bexiga e sua principal função, juntamente com as vesículas seminais, é produzir o esperma. Inicialmente o câncer de próstata não apresenta sintomas e quando os sintomas começam a aparecer, a doença já está em fase avançada, dificultando a cura. Na fase avançada, os sintomas são: dor óssea; dores ao urinar; vontade de urinar com frequência; presença de sangue na urina e/ou no sêmen.

A forma mais segura de conseguir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce, por isso os homens devem ir ao urologista com frequência para fazer os exames de rotina e detectar o câncer de próstata, dentre eles o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula e o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico).

“O toque retal não é o único exame importante, o diagnóstico do câncer de próstata faz parte de um tripé, junto com o PSA, o toque retal e o ultrassom da próstata, para fazer uma avaliação completa da rotina de câncer de próstata, é preciso fazer os três exames” explica o urologista.

O médico ainda destaca que existem alguns fatores de risco que os homens precisam ficar atentos. “Um deles é a idade e a raça, homens negros tem cerca de três vezes mais probabilidade de ter câncer de próstata. O histórico familiar também é um fator, se parentes de primeiro grau tiveram câncer de próstata, como pai e irmãos. E fatores de risco indiretos, como a obesidade e o sedentarismo, quando o paciente tem esses fatores, pode acelerar o aparecimento do câncer em até cinco anos”.

A indicação do melhor tratamento vai depender de vários aspectos, tais como: estado de saúde atual, estágio da doença e expectativa de vida. No maranhão estão disponíveis para os pacientes o tratamento cirúrgico, a radioterapia e a quimioterapia.

Segundo o urologista, os pacientes diagnosticados com a doença podem apresentar algumas sequelas. “Dependendo do grau da doença os nervos da ereção são retirados juntos com a próstata, isso faz com que o paciente perca a capacidade de ereção. Em alguns casos o paciente perde o esfíncter da uretra e pode ficar perdendo urina por um tempo, mas tanto a impotência sexual quando a incontinência urinária tem tratamento” garante o urologista.

Raimundo Nascimento, 62 anos é um homem preocupado com a saúde, ele teve um infarto com 35 anos e esse episódio despertou o cuidado pessoal.

“Quando enfartei meus filhos eram pequenos, então isso me forçou a cuidar da saúde em todos os sentidos. Vou ao médico frequentemente, desde os 50 anos faço os exames de próstata. Nunca senti vergonha, preconceito ou dificuldade, eu sempre fui orientado por outros médicos de que cuidar da próstata é importante e também por que eu vivenciei casos de homens que conheço morrendo por câncer de próstata ou ficando com sequelas”, relata Raimundo.

Tabu

O comportamento do Raimundo não é unanimidade, ainda existem muitos homens que resistem em cuidar da saúde, seja por machismo, por preconceito ou medo dos exames.

Segundo a explicação da Yram Miranda, psicóloga e professora de psicologia, existe uma questão cultural na nossa sociedade a respeito do conceito de masculinidade, que faz com que alguns homens se tornem negligentes a respeito dos cuidados com a saúde.

“Por exemplo, a gente vê alguns pais falando para os filhos “Seja Homem” no intuito de fazê-los compreender que ser homem seria sinônimo de ser forte, de não demonstrar fraqueza, ou qualquer outro tipo de fragilidade. É nessa mesma medida que entra também essa resistência em buscar ajuda médica, não deixar ser tocado, ou precisar se cuidar, como se isso de alguma forma simboliza-se baixa virilidade ou algum tipo de fraqueza” diz.

A psicóloga ainda esclarece que diferente das mulheres os homens que não são estimulados a ter um acompanhamento médico contínuo. “Associado aos estereótipos e a preconceitos, especialmente do exame do toque retal, alguns homens imaginam que isso pode de alguma forma comprometer a sua virilidade e criam resistências, vergonha, medo do que a família e amigos possam pensar”.

A falta de informação é um dos principais fatores que faz com que os homens não busquem ajuda médica, essa campanha do Novembro Azul é destinada especialmente a homens mais velhos que em alguns casos podem ter maior dificuldade de acesso à informação ou a internet.

“Vale lembrar que cada pessoa é única, cada pessoa tem uma forma particular de lidar com determinados assuntos e nada melhor para quebrar paradigmas do que o diálogo. Então busque ajuda de profissionais especializados. É importante lidar e transpor com a barreira do preconceito, da vergonha, do medo para cuidar de si. Sua força não esta no sexo que você tem, mas na pessoa que você é” conclui a psicóloga.

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