Físicos dizem ter produzido quantidade grande de antimatéria

GloboNews.com

Atualizada em 27/03/2022 às 15h30

RIO - Pesquisadores do Cern, organização européia de pesquisa nuclear, anunciaram nesta quarta-feira a produção de uma quantidade considerada grande de antimatéria - um feito faz lembrar as aventuras de 'Jornada nas Estrelas' e é considerado um passo fundamental para a resolução de um dos maiores enigmas sobre a formação do Universo.

O experimento teve participação de um pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pode forçar uma transformação em algumas das equações mais fundamentais da física.

Pelas teorias aceitas atualmente, a antimatéria é como um reflexo da matéria em um espelho - é o mesmo elemento, com propriedades invertidas. Os pesquisadores conseguiram produzir 50 mil átomos de anti-hidrogênio. Em vez de um próton (partícula com carga positiva) e um elétron (partícula com carga negativa), esses átomos têm um antipróton (que tem carga negativa) e um pósitron (ou antielétron, com carga positiva).

Segundo os pesquisadores, a quantidade produzida é suficiente para colocarem-se à prova as teorias sobre matéria e antimatéria. Se houver características discrepantes entre as duas, os cientistas poderão explicar por que, hoje, a antimatéria é tão rara. Em tese, matéria e antimatéria foram criadas na mesma quantidade na explosão que deu origem a tudo, o chamado Big Bang.

A antimatéria é destruída quando se choca com a matéria. Ambas dão lugar a uma explosão de energia. Os físicos acreditam que este processo tenha sido fundamental na formação do Universo, mas não sabem explicar por que restou tão pouca antimatéria.

Três equipes dentro do Cern trabalham na produção de antimatéria. A primeira a conseguir foi a do programa Atrap, que produziu átomos de anti-hidrogênio em 1995. Mas as quantidades eram ínfimas. Eles trabalharam com método similar ao que, agora, deu ao programa Athena a chance de produzir 50 mil átomos de anti-hidrogênio.

Primeiro, os átomos de hidrogênio são bombardeados em um acelerador de partículas, o que produz os antiprótons. Em seguida, eles foram guardados em um Desacelerador de Antiprótons, uma armadilha magnética que os imobiliza. Pósitrons vêm de outra fonte: alguns materiais radioativos os emitem. O que os físicos fizeram foi armazená-los também.

Por fim, os dois tipos de partículas foram colocados em uma armadilha magnética comum. Quando pares de partículas de cargas opostas se uniram, formaram-se átomos de anti-hidrogênio. Como sua carga resultante é neutra, eles deixam a armadilha magnética e acabam sendo aniquilados. Essa destruição produz partículas chamadas pions. Foi a detecção e contagem dessas partículas que disse aos cientistas do programa Athena quantos átomos de anti-hidrogênio eles conseguiram produzir.

A pesquisa contou com o trabalho de Claudio Lenz César, responsável pelo Laboratório de Super Espectroscopia do Rio de Janeiro, pertencente ao Instituto de Física da UFRJ. O laboratório da UFRJ detém a técnica de resfriamento de átomos. Isso permite que eles sejam presos em armadilhas magnéticas para que algumas de suas propriedades sejam medidas com precisão.

Um artigo científico relatando a experiência foi publicado nesta quarta-feira na edição on line da revista 'Nature'.

Para os amantes de Jornada nas Estrelas, o anúncio da produção de tanta antimatéria soa familiar. O 'combustível' que move a nave Enterprise é a energia produzida pelo choque de matéria e antimatéria. Ou seja, na era de Jornada nas Estrelas, já se sabe como obter antimatéria suficiente para fazer uso de suas propriedades.

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