Especial colecionadores

Louco pelo cinema, fã vai de pôsteres a películas em sua coleção

No total, Raffaele Petrini conta com mais de 25 anos como colecionador.

Gustavo Sampaio/Na Mira

Atualizada em 27/03/2022 às 11h35
 Raffaele Petrini exibe sua coleção ao Imirante.com.
Raffaele Petrini exibe sua coleção ao Imirante.com.

SÃO LUÍS – À primeira vista, um apartamento pareceria ser um cenário comum. Sendo de um cinéfilo, a situação muda. Os sofás, as paredes, decorações e tudo mais ao redor deixam de ser comuns até que a primeira viagem se inicie: ir de Francis Ford Coppola a Christopher Nolan dura menos que qualquer trailer, mas vale a melhor das pipocas. Italiano, que mora em São Luís há dez anos, Raffaele Petrini reúne em duas residências distintas uma coleção de milhares artigos relacionados ao mundo da sétima arte. E sem previsão de desfecho.

“A primeira lembrança que eu tenho na vida é dentro de uma sala de cinema”, comenta Petrini ao relembrar o feixe de luz que marcou a sessão de Cinderela, aos quatro anos. A segunda mais marcante viria na mesma época, com o primeiro VHS: Dumbo, clássico da Disney. A partir daí, a “fome” por cinema apareceu – e nunca mais saiu. “Tudo começou com as fitas da Disney. Eu era uma criança com zelo em guardar tudo juntinho, em ordem (...). [Eu] Não era aquele menino que guardava dinheiro para comprar roupa. Passei toda a minha adolescência comprando DVD. Eu deixava de ir pra show e festa para comprar DVD. Era doente”, brinca.

Minha preocupação quando criança não era jogar bola, era ver o novo filme do DeNiro
Raffaele Petrini

Outra coleção iniciada nos tempos de infância foi a de revistas de cinema – fruto do presente de uma tia. Com a leitura, a “doença” começava. “Virou minha obsessão. (...) Em 1998,eu comprei meu primeiro DVD, em dezembro”, lembra Petrini ao referir-se ao longa A Lenda do Pianista do Mar, de Giuseppe Tornatore. Atualmente, boa parte das coleções alterna-se entre dois pontos afastados do mundo: um em São Luís, outro (o maior) na Sardenha, na Itália.

 LPs clássicos fazem parte da coleção, como as trilhas de Dick Tracy e a do famoso
LPs clássicos fazem parte da coleção, como as trilhas de Dick Tracy e a do famoso "Filme do Pelé".

Das páginas às faixas, o interesse demonstrou, com o tempo, outra obsessão: as trilhas de cinema. A primeira delas, inclusive, foi em São Luís, após uma compra no bairro do João Paulo, em 2000. “Fui ao João Paulo, e lá tinha um senhor que vendia discos na rua, o ‘Seu Adriano’. Ele vendia na rua e vendia vinil por R$ 1. A maioria de cinema ele vendia por menos de R$ 1 porque ninguém comprava. As pessoas só compravam os mais famosos, como LPs do Roberto Carlos. Comprei, R$ 0,50, o vinil de Ultimo Tango em Paris”, comentou Petrini. Na época, voltando para a Itália, ele iniciou a coleção de vinis.

Atualmente, a cena que inspirou uma coleção há mais de 15 anos virou motivo de “festa”. “No bar Chico discos, atualmente, eu toco uma vez por mês as trilhas de cinema embalando a noite no bar. (...) Compro os vinis sem pensar na discotecagem”, brincou.

 Cartaz da segunda edição do projeto Cinema Analógico, realizado em dezembro do ano passado, em São Luís.
Cartaz da segunda edição do projeto Cinema Analógico, realizado em dezembro do ano passado, em São Luís.

Das centenas de itens colecionados, Petrini garante que nada foi comprado em vão – mesmo que algumas compras sejam justificadas por um cineasta ou ator em suas melhores fases. “Eu compro os filmes que eu gosto de ver. Por exemplo, há dois meses, eu estava com um amigo em uma locadora que estava fechando e vendendo tudo. Levamos 100 filmes cada, aproximadamente. Comprei alguns filmes aleatórios, devido a uma atriz ou a um diretor (...) O objetivo mesmo é comprar a melhor edição de um filme que está disponível”, comentou.

 Números impressionam - são mais de 2.000 títulos de DVDs e Blu-Rays.
Números impressionam - são mais de 2.000 títulos de DVDs e Blu-Rays.

De suas coleções, Raffaele Petrini revela que alguns diretores famosos a coleção já foi completada com êxito, como Quentin Tarantino e Stanley Kubrick. Outros, porém, vai além da paixão – e é barrada na disponibilidade. “Woody Allen eu quero ter tudo. É difícil, são muitos e poucos dão para encontrar. [Martin] Scorcese eu gostaria de ter tudo também”.

Como um romance dos mais açucarados, Petrini já foi longe pelo amor aos filmes. Pelo cinema, ele realizou viagens, exclusivamente, para aumentar a sua coleção. Em São Paulo, por exemplo, foi, simplesmente, para ampliar a coleção de vinis. Ainda que não ache exagero, o cinéfilo afirma que existem apaixonados pela sétima arte em um “estágio mais grave” que o dele. “Muitos filmes e discos que eu tenho eu comprei de pessoas que casaram e estavam se desfazendo”, comentou. Questionado se um casamento o faria cometer a mesma decisão, ele foi enfático: “Eu sempre tive sorte neste sentido”, brincou.

 Artigos de cinema dominam estantes, paredes e decorações do apartamento de Raffaele Petrini.
Artigos de cinema dominam estantes, paredes e decorações do apartamento de Raffaele Petrini.

Números

No total, Raffaele Petrini conta com mais de 25 anos como colecionador. Ao todo, são mais de 500 cartazes de filmes – a maioria foi adquirida na Sardenha. Entre DVDs e Blu-Rays, ultrapassam a marca de 2.000. Já os VHS vão além de 700 títulos – alguns, para ele, são lendários, como a coleção da Disney, que traz versões históricas de Fantasia, por exemplo. Vinis superam 1.000 artigos – de cinema, ao menos 300 são de trilhas sonoras, em destaque para a trilha não utilizada por Stanley Kubrick para Laranja Mecânica, feita por Walter Carlos - isto sem contar outros artigos, como películas e trilhas de novela.

Por que colecionar?

O alto número de artigos colecionados não impressiona Raffaele Petrini ao ponto dele enxergar um limite para a coleção. Para ele, o ato de colecionar é inexplicável e único. “Não é um acúmulo de coisas. O colecionismo não é um acúmulo, mas juntar coisas das quais temos interesse. (...)Tu faz um pedido de um box, e quando chega, é um dia de emoção inteira”, comentou. Ele ressalta, ainda, que é mal compreendido entre alguns amigos, mas que não se incomoda. “Tem gente que acha uma besteira. ‘Tem no Netflix’ é o que eu ouço. Eu também tenho [risadas]. É impossível explicar”, acrescenta.

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