Exposição

Exposição na Casa Cor retrata as cores e tons das crianças e mulheres nordestinas

O artista maranhense, Cassiano Costa, apresenta a exposição Meninas e meninos: cores e tons.

Liliane Cutrim/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 12h14

As cores e tons, a exposição das brincadeiras e costumes do cotidiano de meninas e meninos com a utilização da chamada arte urbana clichê do grafite. Essas são as características das telas pintadas por Cassiano Costa, um jovem artista maranhense que aposta nos referenciais regionalistas para fazer a sua arte. Com a exposição Meninas e meninos: cores e tons, na Casa Cor Maranhão, Cassiano fala de sua experiência como pintor e dos desafios que o artista tem para ser reconhecido no Estado.

Imirante: Desde quando você começou a fazer pinturas? De onde veio essa inspiração?

Cassiano Costa: Comecei na adolescência a criar desenhos com características meio exóticas, mundos subversivos, criaturas estranhas e nada reais. Aperfeiçoei meus traços grafitando em paredes de bairros periféricos em São Luís. Na época, participei de movimentos que valorizam a cultura negra, a exemplo do CCN, lá pude conhecer a arte urbana o (grafite) e consegui disseminar a valorização do negro na sociedade, assim como seu direito ao conhecimento da arte. A minha inspiração sempre veio dos grafiteiros “Gêmeos”, os paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo, pois temos experiências de vida artísticas semelhantes, eles também começaram a pintar nas ruas dos seus bairros.

Imirante: Qual o foco do seu trabalho, o que você tenta transmitir por meio de sua arte?

Cassiano: Atualmente, priorizo o regionalismo, a importância de divulgar a cultura nordestina através do grafite, uma arte muito popular nos grandes centros urbanos como o sudeste e a Europa. O grafite é uma técnica tipicamente urbana, portanto, quis adaptar a cultura nordestina interiorana num contexto sutilmente urbano. Entre retratações, priorizo as mulheres, especificamente as curvas da mulher brasileira, sem o apelo sexual que costumeiramente percebemos no Carnaval, enfatizo as formas, a elegância e alegria que só as brasileiras têm. Por outro lado, me inspiro nas minhas lembranças de quando era criança, vividas na década de 90, onde podíamos brincar de forma saudável e lúdica. Atualmente, as crianças, do ponto de vista social, cercadas com os grandes aparatos tecnológicos disponíveis, estão cada vez mais trancadas em frente ao computador, entre games e redes sociais. Tento resgatar as e experiências típicas do século passado.

Imirante: Que técnica de pintura você utiliza? Quais as características dessa técnica e por que essa escolha?

Cassiano: Eu utilizo apenas tela e tinta óleo. A tela em MDF foi uma opção de ultima hora, este material me possibilitou agilidade e uma boa textura. As minhas telas chegam a 1m30. Algumas eu fiz no formato tradicional com armação em madeira comum e lona crua. Não vejo dificuldade em adaptar minha arte para uma tela ou parede, eu como grafiteiro vejo a necessidade de transportar toda minha imaginação a qualquer espécie de textura.

Imirante: Toda a sua coleção é composta de peças importantes, mas, quais você destaca e por quê?

Cassiano: Todas têm um valor sentimental, por outro lado, percebo um carinho especial vinda do público pela tela “Nega, pretinha” ilustração de uma mulata que lembra as passistas cariocas, mas tentei englobar a mulher brasileira, talvez o sorriso e a graça da personagem cativa todo mundo. Gosto da muito da tela título da mostra “Meninas e meninos: tons e cores” porque engloba toda a representação da minha exposição. Ilustrei uma índia em homenagem aos índios Guarani kaiowá, é extremamente triste a desapropriação de um povo que faz parte da cultura e da história do nosso país.

Imirante: Como tem sido a relação do público com seu trabalho?

Cassiano: Fique muito feliz em saber que na primeira meia hora de exposição já tinha muitas pessoas interessadas nas minhas obras. É interessante perceber o olhar de cada pessoa aos detalhes, todos se identificam com algum símbolo ou ato ilustrado na minha exposição. Eu permito que as pessoas viagem ao decifrar o que está sendo exposto, é gratificante notar que minhas obras têm um valor regional, mas isso não quer dizer que no imaginário das pessoas não seja universal.

Imirante: Que contribuições a Casa Cor Maranhão pode dar um artista novo como você?

Cassiano: É uma honra participar de um evento tão disputado como a Casa Cor. Fico empolgado porque o meu trabalho pode ser apreciado por pessoas que talvez desconheçam o universo do grafite. Essa é a minha primeira experiência com profissionais destas áreas e vejo que minhas obras somam, estou localizado na Circulação das Artes, espaço que dá passagem a outros ambientes, de certa forma, estou interligado com outros profissionais mesmo que indiretamente. A Casa Cor, sem dúvida, é um grandioso evento nacional, ou seja, é uma vitrine, ser visto por grandes apreciadores da arte como decoradores, paisagistas, designers entre outros profissionais, pode me abrir portas e quem sabe até mesmo ornamentar seus projetos.

Imirante: Na sua visão de pintor, por que é tão importante retratar o regionalismo?

Cassiano: Parece clichê representar uma série de signos folclóricos da nossa cultura, por outro lado, podemos avaliar (por exemplo) que o europeu faz o que é do agrado dele. Portanto, pensei, por que não adaptar a arte urbana em algo regionalismo? Esta ideia funcionou ao notar que as pessoas estão aprovando meus personagens e minhas ideologias. Até a minha própria assinatura nas telas foi pensado, faço assinaturas abaixo de bandeiras típicas do nordeste, é uma forma de agregar o regionalismo em todos os segmentos.

Imirante: O que você considera como desafio para um artista novo no mercado maranhense como você?

Cassiano: Infelizmente, a valorização da nossa cultura é um tanto quanto dramática, é difícil viver só da arte, tem que ter muito amor ao que faz. Gostaria de ser reconhecido primeiramente aqui, é tão triste perceber que para viver de arte você tem que fazer parte do circuito Rio de Janeiro e São Paulo primeiramente, e depois receber reconhecimento aqui. A minha aposta para atrair o público é trazer algo inovador, portanto, eu trouxe o grafite com representações regionalistas, talvez isso seja a diferença no mercado ao meu ponto de vista.

Imirante: O Estado tem incentivado a consolidação desses novos artistas? De que modo isso tem sido feito?

Cassiano: É necessário um apoio significativo à arte local, se não tivermos cultura seremos um público alienados e fadados ao atraso eternamente. Precisamos de mais incentivos como lançamentos de editais, projetos que incentivem a descoberta de novos artista e talentos, assim como eu existem centenas de artistas que estão camuflados e no anonimato acumulando um total desperdício.

Casa Cor

A Casa Cor é a exibição brasileira de decoração que visa mostrar as principais tendências do morar bem, por meio dos mais conceituados arquitetos, decoradores e paisagistas da região onde ocorre. O evento faz uma exposição integral de arquitetura, decoração e paisagismo. A franquia foi trazida para o Maranhão pelos empresários Henrique Almeida e Adalberto Teobaldo. A estimativa é que a Casa Cor Maranhão receba, este ano, aproximadamente, 30 mil visitantes e crie negócios em diversos setores do mercado e da economia maranhense. Já foram criados mais 700 empregos diretos, e já movimentou mais de 10 milhões de reais em investimentos. Com o tema Moda, estilo e tecnologia, a Casa Cor Maranhão 2012 ocorre até o dia 16 de dezembro.

Serviço

Local: Antigo Casino Maranhense, na Avenida Beira-Mar

- De terça-feira a sábado:

* Visitação: 16h às 22h

* Bilheteria: 16h às 21h30

Valor da entrada: R$ 20 (meia-entrada para estudante e idoso)

- Domingo:

* Visitação: 14h às 20h

* Bilheteria: 14h às 19h30

Valor da entrada: R$ 15 (meia-entrada para estudante e idoso)

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