Madame Satã: Filme conta a história de marginal carioca dos anos 30

Reuters

Atualizada em 27/03/2022 às 15h26

Por seu enfoque absolutamente centrado no fascínio ambíguo, mas inegável, de seu protagonista - o bandido, amante, rebelde, homossexual, pai adotivo e marginal carioca da Lapa nos anos 1930 -, o filme Madame Satã sucumbe completamente ao seu encanto com a interpretação dilacerante de Lázaro Ramos.

O ator baiano, de 24 anos, transfigura-se no papel de João Francisco dos Santos, mostrando-o no processo de transformação em Madame Satã, envelhecendo sem o artifício da maquiagem, tornando-se sombrio, perigoso e sedutor.

Ramos, aliás, é o grande trunfo do filme, uma vez que o restante do elenco não consegue acompanhar sua sagacidade, deixando visível um desequilíbrio que poderia ter sido atenuado por um diretor mais experiente que o estreante Karim Ainouz, em proveito de uma maior consistência dramática e narrativa.

Um dos aspectos mais fluentes do enérgico e visceral Madame Satã é a linguagem, que sai da boca dos personagens com uma verossimilhança impressionante.

Ainouz, um cearense de 36 anos, filho de um argelino e uma brasileira, explica que pesquisou o linguajar da malandragem carioca em livros - o que serviu de base, mas não de camisa-de-força, já que houve um intenso processo de depuração nos ensaios, antes da filmagem.

Diante disso, não é nenhuma surpresa quando ele revela: "Poucos diálogos foram escritos. A maioria deles foram encontrados e moldados de acordo com a necessidade dramática", contou ele à Reuters, em entrevista no último festival de Cannes.

Quanto ao escândalo criado durante o festival francês deste ano por causa das cenas de sexo - várias pessoas deixaram as salas de exibição onde o filme foi mostrado na seção Un Certain Regard -, cabe o espanto.

É difícil imaginar o que terá chocado tanto essa platéia experimentada e que já deve ter assistido a filmes muito mais diretos sobre a homossexualidade, como Querelle, de Rainer Werner Fassbinder, ou O Ûltimo Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci.

As cenas de sexo entre Satã e Renatinho (Felipe Marques) são completamente necessárias à história que se conta, apaixonadas, envolventes e muito bem filmadas.

O diretor contou que o convite recebido para a sessão de seu próprio filme, em Cannes, continha uma tarja, significando que o trabalho "pode conter cenas que ofendam o espectador". "Não estava acreditando, fiquei muito impressionado com tudo isto", disse o diretor.

O escândalo, em todo caso, parece ter sido benéfico à comercialização internacional de Madame Satã. Ainda durante o festival de Cannes, o filme tinha firmado contratos de distribuição na França, Espanha, Suíça, Portugal, Alemanha e Israel.

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