Os Tribalistas reúne trio de peso da MPB

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 15h27

São Paulo - Caetano não declara mais o voto, Gal é cabo eleitoral de Antonio Carlos Magalhães e Rogério Duprat faz móveis em Itapecerica da Serra. E então Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes lançam um “antimovimento”, Os Tribalistas.

Parece óbvia a referência à saudosa época dos movimentos, dos tropicalistas, dos bossa-novistas e jovem-guardistas, mas o lançamento desse trabalho do trio - que tem CD, DVD e VHS e chegou ontem às lojas de todo o país - de amigos da novíssima MPB não faz mais do que tentar achar uma vaguinha no estacionamento das correntes todas da música.

“Os tribalistas já não querem ter razão/ Não querem ter certeza, não/ Não querem ter juízo nem religião/ Os tribalistas já não entram em questão/ Não entram em doutrina, em fofoca ou discussão/ Chegou o tribalismo no pilar da construção.”

Marisa fala do álbum em conjunto como uma provocação ao individualismo de nossa época. Arnaldo fala da tradição dos discos que foram feitos em parceria, como Gil e Jorge, Tom e Elis, Doces Bárbaros, Chico e Caetano, Gil e Rita Lee.

Agora que tentamos entender o por que, o leit motiv, vamos ao objeto propriamente dito. Todo trabalho que tem Marisa Monte participando tem sua mão ordenadora, e Os Tribalistas não é diferente.

A percussão e as invencionices musicais de Brown e o estranhamento desafinado de Arnaldo Antunes são postos a serviço desse balanço melodioso. Essa é a maior qualidade do trabalho. É a voz de Marisa que dá norte e leste ao álbum, e poderíamos até dizer que é um novo disco dela, com baladas inapeláveis, como É Você, e outras em que ela trata de “arredondar”, como Mary Cristo.

Ela imprime seu andamento de cantiga a todo o lote de canções, e permeia a suposta diversidade que eles perseguem. “Não existe mais a ilusão de um futuro com um caminho único”, diz Arnaldo Antunes.

Mas há individualidades que persistem mesmo no coletivo, como é o caso de Marisa cantando a bossa Pecado É lhe Deixar de Molho ou o irresistível roquinho Já Sei Namorar.

Gravação - Os Tribalistas foi gravado de um fôlego só, em 13 dias, uma música por dia, com alguns parceiros convidados, como Dadi Carvalho, Margareth Menezes e Cézar Mendes. As músicas tinham sido compostas também em uma sessão de “descarrego”, um ano antes. Não vai ter turnê nem sessões de lançamento, advertem seus mentores, que esperam assim estar quebrando com um “costume da indústria trabalhar assim”.

Tríade, trinômio, trindade, trímero, triângulo, trio, trinca, três, terno, triplo, triplice, tripé, tribo, declama Arnaldo, antes de cantarem juntos o seu manifeto. “Os tribalistas saudosistas do futuro/ Abusam do colírio e dos óculos escuros/ São turistas, assim como você e o seu vizinho.” Só faltou aqui o Nando Reis.

No fim, eles são superpop, fazem um som maneirinho, sem sobressaltos, sem ladeiras nem morros. Sua leitura de seu tempo, de “ser o que você é” em oposição ao que os outros esperam que você seja, é maktub total. Há momentos históricos que pedem o confronto - e quem sabe este não seja um deles?

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