Cultura

Dia Nacional do Samba celebra expressão cultural brasileira

O ritmo é caracterizado como uma das principais expressões culturais do País.

Na Mira, com informações do Ministério da Cultura

Atualizada em 27/03/2022 às 11h15
Com raízes na ancestralidade e matrizes culturais africanas no Brasil, o samba tem sua origem nos batuques.
Com raízes na ancestralidade e matrizes culturais africanas no Brasil, o samba tem sua origem nos batuques. (Foto: reprodução)

BRASIL - "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é." Se Dorival Caymmi estiver certo, quem é ruim da cabeça ou doente do pé pode aproveitar esse domingo, em que se celebra o Dia Nacional do Samba, para se reconciliar com o ritmo que virou sinônimo de ginga, alegria e brasilidade pelo mundo afora.

Mas se engana quem pensa que o samba é só música e carnaval. De acordo com Desiree Reis dos Santos, gerente técnica do Museu do Samba, no Rio de Janeiro, o samba é muito mais: "é uma forma de expressão que está ligada à musica, à culinária, à religiosidade. É uma identidade, um modo de ser e de viver", destaca.

Diogo Nogueira, sambista e filho de um dos grandes nomes do samba, João Nogueira, afirma que é um privilegiado por ter sido criado no meio do samba. "Como diria Caymmi, nasci com o samba e no samba me criei. Desde menino vendo tantos mestres entrando e saindo da minha casa, tive a oportunidade de presenciar a criação de sambas que se tornariam clássicos da nossa música, sendo feitos em rodas de samba onde meu pai, João Nogueira, era o anfitrião", afirma.

Homenageada por estudiosos e artistas; e comemorada em todo o País, a data foi criada pelo vereador baiano Luís Monteiro da Costa e sancionada pelo então prefeito de Salvador, Virgildásio Senna, no ano de 1963. A ideia foi homenagear a primeira visita a Salvador do compositor mineiro Ary Barroso, em 1940.

Antes mesmo de chegar às terras soteropolitanas, Ary era querido da população local por conta da canção Na Baixa do Sapateiro, que cita já no título o famoso bairro da capital baiana. Gravada em 1938 por Carmen Miranda, a música alcançou sucesso internacional, ficando conhecida no exterior como Bahia. Inicialmente restrita a Salvador, a data passou a ser comemorada em todo o Brasil, com o passar dos anos.

Ancestralidade e religiosidade

De acordo com o pesquisador Marco Alvito, em referência à história da palavra samba, "uma das possíveis origens seria a etnia quioco, na qual samba significa cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito. Há quem diga que vem do banto semba, como o significado de umbigo ou coração. Parecia aplicar-se a danças nupciais de Angola caracterizadas pela umbigada, em uma espécie de ritual de fertilidade".

Com raízes na ancestralidade e matrizes culturais africanas no Brasil, o samba tem sua origem nos batuques que, além da música, eram também uma espécie de comunicação ritual e religiosa. Em meados do século XIX, os batuques começam a se misturar com outros ritmos famosos à época e, aos poucos, foram se delineando os aspectos do samba.

Na virada do século XIX para o século XX, o samba já estava presente em diversos estados como Bahia, Minas Gerais, e foi se firmando como gênero musical dominante em subúrbios e morros do Rio de Janeiro. Em 27 de novembro de 1916, o sambista Donga – Joaquim Maria dos Santos (1890-1974) – registrou a música "Pelo telefone", conhecida como o primeiro samba registrado em gravadoras.

A partir da década de 1930, com o governo de Getúlio Vargas, o samba foi se tornando a música nacional. Desde então, o ritmo se tornou uma das principais expressões culturais do País.

Para Sérgio Mielnizenko, responsável pela curadoria e organização de eventos culturais no Consulado do Brasil em Los Angeles, "o samba com certeza é a alma da cultura e da música brasileiras e, a partir dele, muitos outros estilos foram criados. Se não fosse o samba, não teria a bossa nova. O samba não é um estilo só, são vários. O Samba é o Brasil".

Produtor e apresentador do programa de rádio Brazilian Hour, que há 40 anos leva o melhor da MPB para os ouvintes norte-americanos, Sérgio destaca que o samba é sinônimo de alegria, daquilo que o brasileiro é. "Quando há um show de samba em Los Angeles, pode ter certeza de que haverá público. Há academias que oferecem aulas de samba. O ritmo traz um brilho especial para eventos. O samba é alegre, ele traz e traduz a alegria do brasileiro. As pessoas que nos ouvem no Alasca, por exemplo, adoram o samba. E querem saber como se dança, como se samba. É, de verdade, um dos gêneros mais importantes da música e do povo brasileiro", conclui.

Patrimônio Histórico Nacional e Mundial

Tamanha é a influência do samba para o Brasil que suas expressões foram alçadas ao patamar de patrimônio nacional e mundial. Em 2004, o samba de roda do recôncavo baiano, que exerceu grande influência para a formação do samba carioca, foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo alçado a Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Em 2008, também passou a integrar a lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

O reconhecimento do samba de roda do Recôncavo fez com que o Centro Cultural Cartola, que em 2011 se transformaria no Museu do Samba, iniciasse as gestões para que o Iphan também reconhecesse o samba carioca como Patrimônio Brasileiro. A honraria foi conferida em 2007. De acordo com Desiree, o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil comprova e reconhece a complexidade do samba como expressão nacional.

"O samba é a mais genuína expressão do povo brasileiro. É a voz das ruas, que vem das raízes, que faz pensar, que faz emocionar. Que o samba permaneça sempre forte, vivo, presente, e recebendo toda a atenção e cuidado que merece. Viva o Samba! Viva o povo brasileiro", celebra Diogo Nogueira.

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