Música erudita

Festival de Música Barroca leva centenas de pessoas a Alcântara

Festival desembarcou em Alcântara, após edições em Bacabeira e Rosário.

Heider Matos/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h41
 Iasmin acompanha atenta a apresentação do grupo cubano Ars Longa. Foto: Heider Matos/Imirante.com
Iasmin acompanha atenta a apresentação do grupo cubano Ars Longa. Foto: Heider Matos/Imirante.com

ALCANTARA – Com um olhar firme, sem perder a atenção, a pequena Iasmin Lobato, de apenas dois anos, acompanhou as apresentações dos grupos de música erudita, no IV Festival de Música Barroca, realizado, nesse sábado (18), na cidade de Alcântara, distante 30 quilômetros de São Luís. O pai, o guia de turismo Nailton Lobato, 38, conta que a filha é apaixonada por música, e, quando ouve algum instrumento, sempre observa sem tirar os olhos um só instante.

“Ela já está acostumada. Ela sempre fica assim. Quando chego em casa pego meu violão e começo a tocar e ela sempre está do meu lado, ouvindo. Quando toco reggae, ela dança”, disse o pai orgulhoso.

Com a missão de levar um gênero musical sofisticado a pessoas de cidades históricas, o festival desembarcou na cidade de Alcântara, após edições em Bacabeira e Rosário e reuniu cerca de 200 pessoas na igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Centro histórico da cidade. O festival oferece a todos os públicos, e de forma itinerante, concertos de grupos musicais de qualidade e renome internacional. O tema deste ano, “A música nos tempos das missões jesuítas”, ilustra as raízes da missão jesuítica em solo latino-americano e o uso da música como instrumento de propagação da fé.

 Apresentação do grupo cubano Ars Longa em Alcântara. Foto: Heider Matos/Imirante.com
Apresentação do grupo cubano Ars Longa em Alcântara. Foto: Heider Matos/Imirante.com

“Nosso objetivo é levar música de qualidade e com conteúdo histórico a pessoas desassistidas. Este festival é dedicado as Missões Jesuítas, em especial a música tocada na época. Os Jesuítas trabalharam a música na catequese e na liturgia, em todos os lugares por onde passaram em especial aqui no Maranhão”, explicou Bernard Vassas, idealizador do festival.

 Dolores se emocionou com a apresentação do grupo Ars Longa. Foto: Heider Matos/Imirante.com
Dolores se emocionou com a apresentação do grupo Ars Longa. Foto: Heider Matos/Imirante.com

O grupo Ars Longa, de Cuba, abriu a primeira noite de apresentação, e emocionou a dona de casa Dolores Ribeiro, 69, que não conseguiu conter as lágrimas. “Quando a música é boa, a gente sempre se emociona. Parece que entramos em contato com ela. É uma verdadeira sintonia. Muito bom”.

 Domingos levou a família para acompanhar as apresentações do festival. Foto: Heider Matos/Imirante.com
Domingos levou a família para acompanhar as apresentações do festival. Foto: Heider Matos/Imirante.com

O professor Domingos Vieira, 35, viu no festival a oportunidade de trazer a família inteira para um momento que ele considera único na cidade. “O que mais me encanta é a história por trás da música e o que ela pode nos ensinar. Participei da maioria e em todas eu trago minha família”.

Músico Roberto Lopes Paz se emociona em Festival. Foto: Heider Matos/Imirante.com
Músico Roberto Lopes Paz se emociona em Festival. Foto: Heider Matos/Imirante.com

E não foram só os espectadores que se emocionaram. O músico cubano Rodrigo Lopes Paz, do Ars Longa também vibrou com a oportunidade de participar do evento e já pensa em participar de outras edições. “É uma boa ideia promover a cultura em lugares distantes e que respiram música. Gostei muito da cidade, principalmente da arquitetura e pretendo voltar”.

O grupo Paraguaio Paraguay Barroco encerrou as apresentações na cidade alcantarense, que presenteou músicos e espectadores com um belo luar.

 Luar na cidade de Alcântara na noite do festival Foto: Heider Matos/Imirante.com
Luar na cidade de Alcântara na noite do festival Foto: Heider Matos/Imirante.com

O evento, que começou no último dia 16, segue até o dia 22 deste mês. O festival já percorreu as cidades de Bacabeira, Rosário e Alcântara e, agora, vem para São Luís.

Veja a programação na capital maranhense:

Segunda-feira (20 de julho)

14h Seminário - Integração Social e Música Erudita: Experiências pedagógicas e modelos na América Latina (Venezuela, Paraguai, Cuba e Brasil)

Com conferências do Maestro Luis Szarán (criador do programa „Sonidos de la Tierra“, Paraguai), Adela Barreto (integrante do Sistema de Orquestras da Venezuela) e Teresa Paz (diretora do grupo Ars Longa, Cuba)

Convento das Mercês

17h Cerimonial de abertura em São Luís - Concertos de Ars Longa (Cuba) e Paraguay Barroco (Paraguai)

Convento das Mercês

19h Concerto - Conjunto de música antiga da UFF (Rio de Janeiro)

Igreja da Sé

20h Concerto - Ars Longa (Cuba)

Igreja da Sé

Terça-feira (21 de julho)

Noite de encerramento

Teatro Arthur Azevedo

20h Concerto - Zarabanda (Venezuela)

Teatro Arthur Azevedo

21h Concerto - Paraguay Barroco (Paraguai)

Teatro Arthur Azevedo

Quarta-feira (22 de julho)

Ações sociais

9h Concerto - Paraguay Barroco

Complexo Penitenciário de Pedrinhas

14h Concerto e ação pedagógica para crianças e mulheres da casa de apoio da Fundação Antonio Jorge Dino - Ars Longa

Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello – Hospital Aldenora Bello

A música no tempo das Missões Jesuítas no Brasil

A importância dos jesuítas na história do Brasil é imensa e pode ser avaliada por meio do destaque que ainda hoje têm figuras do porte de Anchieta, Nóbrega e Vieira, três dos muitos discípulos de Inácio de Loyola que tiveram um papel fundamental na formação da identidade brasileira. Os primeiros jesuítas chegaram aqui apenas nove anos após a fundação da Companhia de Jesus em 1540 e durante mais de dois séculos (de 1549 a 1759), participaram ativamente do nosso processo colonizador.

A atuação deles foi de grande interesse para a Coroa Portuguesa, pois muitas vezes ocupavam áreas disputadas com a Espanha. Duzentos e dez anos depois da sua chegada, a Companhia havia se estabelecido por toda a costa do Brasil, de Belém, no Estado do Pará, até Laguna, em Santa Catarina, espalhando-se desde as aldeias do interior da Amazônia à porção meridional do país (Sete Missões).

Com a missão de catequizar e educar, os missionários logo perceberam na musica um meio eficaz de sedução e convencimento dos indígenas. Estes eram fascinados pelos cantos e as musicas trazidas da Europa. Apesar das poucas pesquisas existentes sobre o assunto, sabemos que esta atuação musical dos jesuítas influenciou sobremaneira tanto na formação da cultura brasileira como na criação específica de identidades culturais regionais.

No Maranhão

A presença dos jesuítas também foi vital no Maranhão. Na “Crônica da Missão do Maranhão”, escrita em 1698, o Padre João Felipe Bettendorf descreve suas experiências pessoais nas missões locais e refere-se à praticas musicais em vários trechos dessa crônica, onde faz claras referências a índios músicos (geralmente chamados de “charameleiros” ou “mestres de capela”). Vale ressaltar que um dos principais relatos de autoria jesuítica, foi mais tarde escrito pelo Padre Jose de Morais, em 1759, com o titulo “A historia da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará”.

*Com informações de assessoria

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